domingo, 27 de fevereiro de 2011

Fim ou Começo?

                  Ficou desesperado, não via nada, apenas ouvia um barulho.. o barulho começou a aumentar e uma luz estranha, tão forte quanto mil sóis.. mas seus olhos não doíam ao ver aquilo.. olhos? Engraçado.. ele não sentia olhos, nem boca, nem cabeça.. era como se não tivesse mais corpo..
                  Olhou para o lado, aquela escuridão ameaçava tomá-lo, e de repente sentiu um arrepio.. mas não percorreu sua espinha, percorreu tudo a sua volta.. e sentiu um medo, um medo inimaginável, choraria se tivesse lágrimas, gritaria se tivesse voz..
                  Mas aquela luz ao longe era boa, era reconfortante.. dava até vontade de correr loucamente atrás dela.. e foi isso que ele fez, correu, correu, correu.. E não está mais nesse mundo.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Deus e a Morte na Terra dos Injustiçados.

Descobri que tenho inclinação ao Deísmo (admito que não dei-me conta disso apenas hoje, mas assim ficará a contribuir pelo poetismo do texto). Para quem ignora, o Deísmo é uma posição filosófica que admite a existência de um Deus, mas que questiona a ideia de revelação divina. Os deístas consideram a razão como um meio de assegurar a existência de Deus, não exercendo nenhuma prática religiosa. Para os deístas, Deus se revela através da ciência e as leis da natureza.

E é daí que agarramos a ponta do tema Morte e Injustiça.

Eis que tudo se iniciou com um debate, espontâneo mas um tanto revoltado, entre minha pessoa e minha amiga Cigana Oblíqua e Dissimulada. Ela afirmava que a brisa mais forte passara hoje e levara consigo a pessoa errada. Com eu mesmo disse em meu texto anterior, era cedo demais. Daí a Morte.

Concluímos, assim, que ocorrera uma injustiça tamanha no dia de hoje! Caberia acionar serviços advocacionais se fosse de ordem terrena. Mas não era. Era espiritual. Entãonos revoltamos! E com aqueles que talvez diriam perante o mausoléu " era sua hora. Deus assim o quis". Ao diabo com as horas! De que servem elas? De que servem elas se são tão imprecisas? Se marcam horários a pessoas erradas, a pessoas que tinham atrás e a frente de si uma construção enorme de sonho e de vida? Mas é, Cartola, estava certo meu caro, o "mundo é um moinho e vai triturar seus sonhos tão mesquinhos."

E - não digo " ao diabo" pois seria atrevimento demais - que tem Deus com as injustiças? Quem ousa ligar Deus as injustiças do Mundo? Ele nada tem com isso. Nós é que temos. Somos sempre nós que temos. Somos nós que criamos tantas formas diferenciadas de se morrer, de se corromper, de destruir a si proprio e aos outros. Deus nada disso criou, e Ele avisou que não criaria, que nada tinha com isso. E tantas vezes! Então calem-se quem diz isso. Você nada sabe.

E antes que alguém grite " como é piegas, Astronauta de Mármore", digo que talvez o seja. Sou de mármore mas tenho sentimentos e ideias diversas. Ainda que idealistas.

Uma música que eu ouvi enquanto escrevia estas linhas é a Ode a Alegria, ou 9ª Sinfonia de Beethoven. Amo e idolatro essa melodia, mas acho que de alegria ela não tem nada. Para mim, ela fala ( e fala ao coração, que fique claro) de honra e superação dentro de si mesmo. Eu diria que Beethoven foi injustiçado ao perder a audição... mas aí eu pensaria: ele se superou ( e olha que superar a Beethoven não é nada possível) e se não fosse sua perda de audição a Ode a Alegria não seria bela como é. Aí sim eu diria : Deus tem com isso. Deus está nessa manifestação da natureza ( de ordem biológica).


DEDICATÓRIA: a C. e seus sonhos de juventude, e a tia H. por sua sabedoria da velhice.

Para quem quiser escutar a Ode a Alegria , clique aqui.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Um fechamento em nome de Dança Com Lobos.

Todos acompanharam a discussão sobre o Amor, travada por quase todos os membros... mas ei que encontrei aqui, a toa, uma frase do célebre Victor Hugo que acredito resumir tudo o que Dança Com Lobos quis dizer:

"A vida não passa de uma oportunidade de encontro; só depois da morte se dá a junção; os corpos apenas têm o abraço, as almas têm o enlace."

Já para meu amigo Iral, seria bom, para quem interessa, dar uma olhada na teoria de Nietzche sobre o "amor fati". Talvez seja isso.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Vietnã, 05 de maio de 1968

Texto 1 e 2 e 3


Estimada,


Sou eu que lhe pergunto: seria isso a Guerra? A guerra que todos falam, e repugnam e muitas vezes apoiam? Eu digo a Guerra com armas, soldados camuflados - como eu - pessoas mortas nas esquinas, mulheres se prostituindo em meio ao terror, choros...Apesar de imagem cruel e perturbadora, a imagem que eu não desejo que meu pior inimigo veja, eu não acho que isso seja a guerra.
Quem define guerra dessa maneira são aqueles que nunca pegram uma arma e apontaram às cegas a qualquer individuo que um mero ser humano lhe disse para matar. Para mim, não é isso. Guerra. War. Krieg.Guerre.La Guerra. 戦争.... em todas as línguas, há somente UM significado : a minha definição é a do terror psicológico. A verdadeira guerra é aquela que travamos com nós mesmos enquanto nossas mãos estão a escorrer sangue. E sangue alheio. Quem define guerra da primeira maneira é quem nunca viu sua roupa manchada em vermelho.
Então calem-se todos que não viram seus amigos enlouquecendo a seu lado, pelo extermínio de uma nação . Calem-se aqueles que não tiveram que "honrar" um pedaço de pano e nem assim ter o apoio de seus prórpios compatriotas.
Eu já disse milhares de vezes que a guerra é o Inferno. Não acredito mais, irmã, em Céu e Inferno pos mortem. Esses dois lados nós vivemos aqui mesmo. Isso eu posso afirmar.
Perturbado,
Dança Com Lobos.

P.S: prometo que após retornar ao meu juízo, esplico-lhe a origem de meu apelido.



segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Amor

Discussão sobre o amor 1,2,3,4,5,6,7

      Fugindo de filosofias, definições, depressões, e não-correspondências. 

       Acho que todos devemos concordar, somos humanos, erramos, somos completamente falhos, somos mesquinhos e ignorantes em praticamente tudo.
       E no meio de tudo isso, brota uma flor.. e macia ou espinhenta, cheirosa ou fedorenta, bonita ou feia.. continua a ser uma rosa que nasce no meio do asfalto de nossas almas.
      Não podemos fugir do Amor (ou amor), resta então.. apenas nos entregarmos de corpo e alma, pois carnal ou não.. ilusão ou realidade.. é o melhor que temos.. é o melhor que podemos ser.

                                     Portanto.. AMEM!
Amém!

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Resposta final à Dança Com Lobos.

Devo dizer, para não deixar passar, que o seu texto original não se dirigia claramente tão só ao casamento. Uma indeterminação que julgo agora resolvida.


Indeterminações! É isso que sobra nas cosmovisões idealistas, que descem da mente ao mundo, do céu a terra. Indeterminado é, por exemplo, o termo “parâmetros amorosos”. Não há nada de substancial nesse termo, nenhuma significação objetiva. É um termo feito para agradar a gregos e troianos e eu mesmo poderia aceitá-lo. Basta que eu o coloque a meu serviço, a serviço dos meus parâmetros, dos meus amores.

Quanto à castidade, reafirmo a minha crítica a ela enquanto um valor. É um valor do não à vida, do não à realidade. Quando você escreve “amor casto”, eu leio “amor preso”, “amor reprimido”, “amor amputado”. Claro, novamente o termo “casto” é sujeito às inúmeras interpretações que fazem com que haja discordantes concordando. Casto pode significar “fiel”. Pode significar “cauteloso” ou “prudente”. Se assim for, estaríamos de acordo. Mas como saber?

Reitero a minha afirmação de que o amor emana do plano físico. Ao ver a “intromissão” do plano físico como algo ruim, estão invertidas as relações. Como já falei anteriormente, a sua lógica desce do céu à terra. A minha ascende da terra ao céu.

Noto que, na sua concepção, o fato de “satisfazer-se espiritualmente apenas” é um ato de força. Discordo, obviamente, visto que o “apenas” compreende uma limitação. E limites são, em última análise, sinais de fraqueza.

Tais são as confusões de linguagem trazidas pelos idealismos especulativos. A covardia é chamada de coragem, a fraqueza é sinal de força. Assim como, já nos primórdios, os fracos se denominariam ‘os bons’ e chamariam os fortes de ‘os maus’. As escolhas de termos são escolhas políticas, campo de disputa.

Além dessa confusão em termos que torna o debate formal bastante complicado, concluí algo que remete a nossa discussão a questões muito mais fundamentais. A nossa discordância, revelada nessa discussão acerca do amor (Notei que você escreve Amor, com letra maiúscula, assim como o personifica na última frase de sua tréplica), tem raízes nos princípios do pensamento. Discordamos em nossa cosmovisão, em nossa visão de mundo. Em termos filosóficos, estamos debatendo aqui cada um com uma Weltanschauung, claramente opostas.

Não estou fazendo um discurso conciliador, muito pelo contrário. Estou mostrando que a profundidade do nosso conflito é maior do que apenas essa discussão e que ele não será resolvido por ela.

Tomo essa discussão sobre o amor como encerrada por insuficiência e me dou por satisfeito ao esclarecer os conflitos, mais profundos.

Conclusivamente,

Iral Levirc.

Abismo

   Amor, bom ou ruim, incrível ou não, algumas vezes temos de ser apenas realistas.              
   Não é por ser o sentimento mais nobre e incrível que uma pessoa pode sentir ao longo da vida, que ele não trás problemas... e como trás. O principal problema do amor, é que ele nasce sem aviso, muitas vezes você não percebe que ama, até perder.. ou até ele se tornar impossível.             
   Mas penso que como a melhor sensação do mundo é amar e ser amado, amar e não ser correspondido é uma das piores.
   Quando você idealiza um futuro inteiro ao lado de alguém, e vê todos esses sonhos lentamente se desintegrarem na sua frente, até não sobrar nada, e tudo aquilo parece apenas um sonho distante.
   O mais agonizante é pouco a pouco descobrir que foi como se nada tivesse acontecido, tudo o que parecia perfeito para você, não era quase nada para a outra pessoa.. e dia após dia, a vida dela segue, segue, até que você é só uma lembrança esporádica. E ela deixa de falar sobre você, pensar em você.. falar com você.
   Sobra um vazio do tamanho do mundo em seu interior, e você simplesmente não sabe com o que preencher, nada dá certo, livros, escritas, TV, jogos, etc... Você acaba se tornando uma pessoa irritável, às vezes um pouco fora do controle. E seguem-se momentos de calmaria, seguidos de desespero, momentos em que você acredita estar bem, mas descobre que não está.
   E a vida se torna um fardo. Esse é o problema do amor, não amamos quem merece, ou melhor dizendo, talvez ninguém mereça tal sentimento.. Afinal, ninguém deveria ter o poder de decidir se o dia de outro será bom ou ruim, se a vida de outro será boa ou ruim.
   Se alguém leu esse texto querendo respostas.. desculpe, não as tenho.. na verdade as procuro, e achei que esse texto ajudaria.. mas só me fez perceber mais uma vez, que no meio de todos eu continuo sozinho, de tanto observar o abismo dentro de mim, eu acabei por cair nele.. e não consigo sair.

Sempre Anônimo,
Um Estranho Ensimesmado

"Vê como estão sempre me abandonando?"

Ele me olhava com certa insegurança, como se não soubesse o que dizer. Sentado ao meu lado, aquele meu estranho - agora ouvinte - parecia torcer para que a primeira palavra viesse de mim.
"Eu nunca contei minha história a ninguém, mas posso lhe contar, se assim o quiser". Um simples gesto de cabeça indicou-me que sim.
"Pois bem, eu nasci aqui mesmo, em Willmington, em 1950...Ah sim, como eram bons aqueles tempos!...Fazia parte de uma família muito rica e tinha apenas um irmão - alguns anos mais velho que eu - seu nome era Lionel...Ah meu querido, por que será que me abandonou? Trocávamos tantas cartas e hoje, nada!...Quando criança eu tinha muito medo da chuva, então Lionel segurava em minhas mãos e me acalmava. Sempre foi muito corajoso, o meu irmão, ele dizia que um dia seria um herói."
O ouvinte mexeu-se incomodado na cadeira.
"Meu pai passou a maior parte da vida trabalhando, era banqueiro, então - como se para compensar a ausência - nas horas livres, dedicava-se a fazer todas as vontades dos filhos. Sabe que eu nuca visitei o túmulo de meu pai? Não tive coragem de ir ao enterro, nem ao menos sei onde esta enterrado! Na verdade, eu não sei nada do mundo há tempos. Mas essa história eu lhe contarei num outro dia.
Já lhe falei de minha mãe, não é? não? Ah minha mãe era dona de uma beleza singular, era capaz de passar horas em frente ao toucador, se admirando. Era muito afeita ao luxo, a riqueza e tinha pouquíssima paciência com os filhos. Eu e Lionel, na verdade, crescemos criados pelos empregados...Certo dia ela simplesmente desapareceu, sim, arrumou suas coisas e foi embora, nos abandonou...Vê como as pessoas estão sempre me abandonando? Mas eu não a culpo- ela nunca pareceu feliz, a vida de dona de casa era pouco para ela e talvez não amasse meu pai- mas eu não a culpo porque de infelicidade eu entendo bem, só eu sei o quanto sofri quando pensei que ele tivesse morrido...Mas me enganaram, ele continua vivo e sempre me visita, a última vez foi na véspera de minha vinda para cá...Ah, meu Deus, será que ele sabe onde estou?Preciso vê-lo, explicar tudo! Por favor me leva pra casa!Me tira daqui!Não...não me deixe, me ajude! Não vá embora...não!"
Mas meus gritos e meu choro espantaram a única pessoa que podería comprovar minha sanidade. Fiquei, então, sozinha com meus devaneios, assustada com minha própria atitude desesperada.

O que passa de alma a alma.

Após o Amor, uma reflexão sobre a Beleza:

Beleza para mim seria o resultado da mistura de definições feitas por Vinícius de Moraes e Oscar Wilde. Ou seja, aquilo que uma pessoa realça com seus próprios traços naturais e que de certa forma exale poesia como tudo o que é puro. É quando o andar sugere uma batida musical, a respiração que exibe as curvas dos seios é de forma graciosa e casta, ou ainda quando a extensão das espáduas deixa a curiosidade de se entrever o seu ponto final . Beleza, longe de ser fútil, como diria Wilde, é aquilo que se passa de alma a alma, quando a íris capta uma imagem próxima ao angelical,capaz de arrancar suspiros até do mais exigente.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Um P.S à Cigana Oblíqua e Dissimulada

Sensacional seu texto Cigana Oblíqua e Dissimulada! Disse tudo o que eu não conseguiria dizer sobre o Amor!

Há algumas frases que traduz o que essa discussão toda acerca do amor quis dizer:

"O prazer do amor é amar e sentirmo-nos mais felizes pela paixão que sentimos do que pela que inspiramos."
François La Rochefoucauld

"De longe te hei de amar- da tranquila distância em que o amor é saudade e o desejo, constância."
Cecília Meireles

"Se o amor é fantasia, eu me encontro ultimamente em pleno carnaval."
Vinícius de Moraes

"Cada qual sabe amar a seu modo; o modo, pouco importa; o essencial é que saiba amar."
Machado de Assis

"A única diferença entre um capricho e uma paixão eterna é que o capricho dura um pouco mais...." ( pessimista como sempre o Oscar Wilde...)
Oscar Wilde

"Na sua primeira paixão, a mulher ama o seu amante; em todas as outras, do que ela gosta é do amor."
George [Lord] Byron

"Paixão é uma infinidade de ilusões que serve de analgésico para a alma. As paixões são como ventanias que enfurnam as velas dos navios, fazendo-os navegar; outras vezes podem fazê-los naufragar, mas se não fossem elas, não haveriam viagens nem aventuras nem novas descobertas."
Voltaire

"Oh, paixão, que fazes com meus olhos que não enxergam o que vêem?"
William Shakespeare

Realmente muito saudável nossa discussão sobre o Amor e a Paixão... mais pessoas deveriam fazer isso.


Pose no discurso


Postagens relacionadas: texto original (Dança com Lobos), réplica de Iral, tréplica de Dança com Lobos, e intromissão de Kanibalas Kunigas.

Ao ler meus amigos Iral Levirc, Dança com Lobos e Kanibalas Kunigas dialogarem e teorizarem sobre o amor, venho falar não deste, mas de seus profundos eufemismos...

Num mundo já tão fragilizado e à deriva do desespero, ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-lhe e respeitando-lhe até que a morte os separe é um tanto quanto, digamos assim, prematuro e incompleto. A fidelidade, afinal, conduz a muito mais do que essas promessas numa noite quente e festiva.


Não falo só dos casamentos: qualquer relação já banalizada vira sinal de infelicidade. E infidelidade consigo mesmo. Ou você discorda que ser obrigado a amar o que não te agrada é trair os próprios sentimentos?

Involuntariamente nos tornamos controladores, menos românticos, imaturos e mau humorados, cometendo um crime tão grave quanto matar um ser humano: matamos aos poucos a convivência de um casal que antes acreditava poder ser feliz até a morte.

Felicidade é outro problema no relacionamento: quanto menos nos conhecemos, menos sabemos o que fazer de nós, e mais infelizes nos tornamos, mesmo que seja no inconsciente. Quanto menos conhecemos nosso parceiro, mais o levaremos à rotina, à falta de vontade própria, à falta de amizade que deve existir entre dois amantes. 

O amor só está aí porque se deixou transparecer, iludir, tomar conta da mente ao em vez de melhorá-la. Passo a achar então que, negar a existência do amor, é negar a sua própria existência. Independente da forma de amar. 

Os filhos, o sexo, a companhia, a individualidade, o prazer e a realidade de uma vida a dois: se não houver quem acredite, será apenas parte de um sermão na igreja visto sob olhos ingênuos de um homem de terno e uma mulher de vestido branco.

Ignoro.

Dentro da noite que me cobre
A mescla de um preto num branco
Sempre me remetendo ao passado
E deixando lembranças
Mas de um passado que virá.

Loucura já não é adjetivo adequado,
para a angústia desenfreada do toque
naquelas páginas amareladas.
A música continua a ser ouvida...
E aquelas sombras,
elas ainda não se foram.
Elas insistem em me escurecer
e a dançar nas paredes frias.

Vá para a luz! Alguém diria então.
Ir como se não agrada?
Agrada mesmo as lembranças deixadas,
o tato deliciando-se nas páginas amarelas.
E por que não as músicas? Afinal elas são belas
E como elas a solidão
Desse tempo que não pode ser sentido

A razão não compreende
como sentir um tempo não vivido.
E eu? Muito menos.
Ignoro!

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Intromissão na Discussão..

Postagens relacionadas: Texto Original (Dança com Lobos) ; Réplica de Iral; Tréplica de Dança

Desculpem-me caros filósofos do amor, quero apresentar minha opinião sobre o amor.

O amor pode ser interpretado de diversas maneiras, sendo que obviamente, pode não ser o mesmo sentimento para todos, uma vez que não sabemos o que os outros sentem.

Eu por exemplo, não sinto amor por quase nada, ou pelo menos nomeio quase nenhuma de minhas emoções como tal.

Acho que a discussão aborda um ponto que não foi dito: Paixão. Ambos estão corretos, mas não especificaram exatamente os sentimentos.

A paixão sim, acaba, e pelo menos para quem a acompanha de fora, se torna intocável e bonita quando não concretizada, uma vez que se imortaliza, principalmente nas páginas de livros e filmes.

Já o amor é um sentimento inextinguível, digo o amor de verdade, e esse não implica realmente relações afetivas, pode se amar sem desejar. Grandes amores são formados por picos de paixão mútua, e que com o tempo, com a diminuição da chama inicial, um amor calmo e contínuo que nunca se extingue e leva duas pessoas a trilhar a eternidade de suas vidas juntos.

Mas acima de tudo, considero isso mais uma questão de opinião do que propriamente de verdade absoluta, uma vez que como eu disse, os sentimentos nomeados como amor podem ser diversos, e pessoas que experimentaram mais o amor podem ter opiniões diferentes, assim como quem teve experiências positivas ou negativas procuram Platão e Schopenhauer, respectivamente.

Talvez minhas idéias estejam erradas, mas imagino que uma opinião um pouco menos emotiva e apaixonada seria de grande valia para essa discussão.

Obrigado pela atenção,

Kanibalas Kunigas.

Nada sob o Sol.

Disseram-me que eu parecia perturbado. Que há tempos não entreviam parte de meus dentes, em um sorriso fora de foco. Alegria já era palavra esquecida e devidamente bloqueada de meu vocabulário. Existira, uma vez, em um passado nem tão remoto; talvez pudesse visualizá-la algumas vezes, quando fechava os olhos para dormir . Mas acredito que quando a visualizava já estava adormecido...
Os motivos, nunca disse ao certo. Não que não desejasse, faltava-me platéia. As cortinas da oragem se abriam mas apenas as cadeiras estavam lá, imóveis, sem expressão.
Acontece que era triste. Mas não deixei de forçar, uma vez ou outra, os enferrujados músculos da face, num esforço desesperado e monótono. Porém, não consegui mais que um sorriso amarelo. Pois só quem conhece e admira verdadeiros sorrisos sabe que são divididos em tipos e subtipos.
O meu era da classe dos amarelados de tristeza. E a razão que fazia brotar lágrimas nos olhos não era a mesma de um Pierrot ao ver sua Colombina entrelaçar outros dedos. Contudo, muda-se o contexto mas não completamente o personagem.
Na mesma ordem do poema: "do riso fez-se o pranto". Do tempo em que podia-se compartilhar de meu riso infantil , sem necessitar que eu fizesse algo especialmente cômico. Aquelas crianças riam de mim, de pequenos detalhes, e ao começarem a rir, riam de seu riso esganiçado abafado pela lona amarelada. Assim, várias e várias vezes, de modo exagerado , quase insano. A tinta branca em minha face escorria, mas não pelas lágrimas, mas pelo suor do trabalho de fazer sorrir...
Mas aí vieram os anos, e cruelmente varreram as crianças e a lona. E sempre qundo pouso a cabeça em meu travesseiro , torno a lembrar que eles esqueceram de varrer alguém : este palhaço sem platéia. Esse #detalheignorado.

Um P.S para o Iral,

Esqueci-me de elogiar seu texto. Confesso que fiquei maravilhado(a) Muito bem articulado e com ideias claras!
Você sabe que nosso debate aqui é só pelo texto não é? Teoria é teoria...

Não leve para a vida fora do Blog!

Parabéns novamente!

Caro Iral,

Gostei muito de seu texto réplica ao meu, mas temo que você não tenha compreendido inteiramente o que eu quis realmente dizer.
   Na verdade, a teoria a qual coloquei não é exatamente minha teoria sobre o Amor, mas sim sobre o casamento. Admito que eu tenho uma visão inteiramente pessimista em relação ao matrimônio por acontecimentos familiares, que  fizeram eu manter essa ideia.
  Não abomino a relação física dentro do Amor, não quando ela é mantida dentro dos parâmtros amorosos sem tornar-se vulgar ou cotidiana.  Também não acredito que pensar no Amor casto seja somente idealismo e que exista somente na Literatura, uma vez que é fato que muitas religiões mantém essa tradição que eu prezo e gostaria muito que existisse em outros costumes.  Quanto existir na Literatura, é um fato que eu posso comprovar por conhecer casos reais e próximos de mim . Acredito simplesmente que o Amor é muito mais para necessitar tanto quanto tem necessitado atualmente do plano físico. Acreditar nisso não é discurso de fracos, muitísssimos pelo contrário, é discurso daqueles que têm coragem de admitir que não vê uma relação entre duas pessoas muito além do que a relação entre almas, como vem acontecendo atualmente. Dizer que o Amor casto não existe sim  é um discurso de fracos, pois são esses que têm medo de satisfazer-se espiritualmente apenas.
    Não digo que em uma relação não possa haver sexo. Nunca disse isso e também acho uma parte importante de intimidade e uma demonstração de confiança.  O que eu não acredito é que o Amor, na verdade a Paixão, não acabe desgatando-se por si mesmo quando este é posto demasiadas vezes ao lado do que é físico, que em muitos casos o Amor fique à mercê de relações físicas.
   Isso eu desprezo. Acredito que existindo relação física ou não, o Amor por si só viveria. Pois o sentimento mais nobre criado por Deus - ou qualquer seja a crença - não depende em nenhum grau do físico. Porque não é o Amor que precisa de nós, somos nós que precisamos dele.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Quando as Flores não Desabrocham

Uma réplica à Dança Com Lobos referindo-me ao seu belo texto Quando os Diamantes brutos devem permanecer assim”.

A tese de tal texto se estrutura da seguinte forma: a autora elucida uma teoria própria, a da eternidade amorosa quando o plano físico não se intromete. Basicamente, afirma que um amor não-realizado, isto é, meramente espiritual, eterniza-se ao ser abortado do processo de realizar-se. Em contrapartida, um amor realizado, isto é, material, deve seguir o rumo dos amores vulgares, dos amores vãos: perder o vigor inicial e, então, acabar. Conclui-se disso uma relativa superioridade do amor não-realizado, espiritual, sobre o amor realizado, material.

Penso que tal lógica é demasiado idealista e que não se mostra fiel à realidade. Começando pela suposta intromissão do “plano físico”. Ora, devemos então acreditar que o amor surge numa esfera espiritual (num Mundo das Idéias platônico!) e que então o “plano físico” se intromete? Pois eu inverto tal relação. O amor surge no “plano físico”; o amor é uma manifestação própria do “plano físico”, é natural. A nossa cultura, de forma verdadeiramente admirável, coloca sobre esse fenômeno natural toda uma carga ideológica, todo um mundo espiritual a posteriori, toda uma essência criada posteriormente. Essa construção da nossa cultura nos leva a enxergar a coisa de modo diverso: acreditamos que essa carga cultural colocada sobre o amor é, na verdade, a origem do amor. Isso é um erro. E tal é o erro da lógica por trás da teoria da eternidade amorosa quando o plano físico não se intromete.

Cito, em meu favor, Jean-Paul Sartre em “O Existencialismo é um Humanismo”:

Ora, na realidade, para o existencialista, não há amor diferente daquele que se constrói; não há possibilidade de amor senão a que se manifesta no amor, não há gênio senão o que se exprime nas obras de arte; o gênio de Proust é a totalidade das obras de Proust; o gênio de Racine é a série das suas tragédias, e fora disso não há nada; porque atribuir a Racine a possibilidade de escrever uma nova tragédia, já que precisamente ele não a escreveu? Um homem embrenha-se na sua vida, desenha o seu retrato, e para lá desse retrato não há nada. Evidentemente, esse pensamento pode parecer duro para alguém que não tenha vencido na vida. Mas, por outro lado, ele dispõe as pessoas à compreensão de que só conta a realidade, que os sonhos, as expectativas, as esperanças apenas permitem definir o homem como sonho malogrado, como esperança abortada, como expectativa inútil.
[Negritos, evidentemente, meus.]

Devo afirmar, indo mais longe, que a disposição para que os amores permaneçam não-realizados revela um medo da realidade, um ódio à vida tal qual ela é naturalmente. A glória do amor não-realizado é a glória da vida não vivida, do prazer não experimentado, do conhecimento não adquirido, do poder não conquistado. É, em suma, o mito da castidade enquanto algo superior. A castidade: esse discurso de fracos para fracos, jamais proferido pelos fortes e pelos fortes ignorado.

O texto traz, ainda, dois exemplos. “Romeu e Julieta” e “Jack e Rose”, como amores não-realizados e eternos. Esses amores permanecem eternos na literatura. A vida não é vivida em literatura, por mais que sejam ambas belíssimas e relacionadas. Se Romeu e Julieta tivessem desfrutado do seu amor, seriam felizes. E, mesmo que tal amor acabasse, prefeririam isso à morte na frustração de um beijo frio, morto. A história não seria bela de se contar, mas seria mais bela de se viver. O mesmo vale para Jack e Rose, considerando o agravante de que Rose viveu décadas em dolorosas saudades. São belas histórias. Na vida dos outros.

A gota d’água que me fez escrever essa réplica é a última frase do texto, um ultraje à natureza: “...como o desejo de toda mãe é ter seus filhos eternamente bebês.” Em que mãe doente se inspira essa mãe genérica, essa toda mãe? Serão as mães tão perversas? Uma mãe saudável para um mundo saudável não pode ter tal desejo repugnante. Deve desejar que seus filhos cresçam fortes, saudáveis, plenos. Que se tornem belos jovens e nobres adultos. Que realizem a sua vida completamente. Não é admissível que uma mãe possa desejar que seu filho não viva a vida que lhe está reservada. O amor de mãe, possivelmente o maior de todos os amores, não permitiria tamanho egoísmo.

Tratei suficientemente de cada ponto e, portanto, encerro (abruptamente) aqui. Peço, todavia, frieza, frieza ao ler esse meu texto que, por respeito, fiz questão de livrar das meias palavras e dos rodeios: fui direto aos pontos, fui reto em minhas afirmações.

Atenciosamente,

Iral Levirc.

Ainda é cedo.


Cedo. Muito cedo, na verdade. Dizem que nunca é tarde demais. Mas eu digo que é cedo demais. Por que ninguém nunca disse isso? Por que nunca ninguém disse que era cedo demais para aqueles que precisavam escutar? Para poder dizer depois que era tarde ...decerto.
E então só perceberão quando Cartola dizer que o mundo é um moinho.
Sentado em uma das crateras lunares, eu fico observando tudo o que iniciou-se demasiado cedo, ou aquilo que acabou antes que mal começasse. Como a partida daquele bisavô que você tinha muito, muito mais para conversar e mal sabia disso. Como o bater asas do filho. Como qualquer fim sem recomeço. Como aquela prostituta que não escutou o quão cedo era.
Na Terra, daqui de cima observando, tudo é muito rápido. Correm.Saltam.Gritam.Destroem.Sacrificam.Morrem.Nascem.Nascem e morrem de novo. O problema é que na Terra tudo vira um ciclo. E a estaca de pará-lo nunca está em mãos.
Não sei se é impressão minha, não sei se é porque, você sabe, aqui em cima o lado escuro é sempre igual. E tudo dá aquela sensação de agilidade devagar. Como diz minha canção, eu quero "um machado pra quebrar o gelo". Eu queria poder gritar daqui pra todos que eu vejo o quão cedo é.
É cedo ainda, amor. O Sol ainda nem atingiu a América.

É um #detalheignorado não é?

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Sugestão de Entrevista


   Em 2008, o cineasta Fernando Meirelles cedeu uma entrevista ao programa Roda Viva da TV Cultura. Segue abaixo as duas primeiras cenas do programa, que sempre vale a pena ser vsito:


  
 Para assistir as outras partes clique aqui .


Fernando Meirelles é um arquiteto que passou a dirigir programas independentes para TV nos anos 1980, comerciais nos anos 1990 e finalmente longa-metragens no século XXI. Seus filmes são: O Menino Maluquinho 2 - A Aventura (1998), Domésticas (2000), Cidade de Deus (2002) - nomeado para quatro Oscars, incluindo o de melhor diretor - e O Jardineiro Fiel (2004), também indicado a quatro Oscars e Ensaio sobre a Cegueira, baseado no livro de José Saramago.
Sugestão feita por: Astronauta de Mármore.

Vietnã, 17 de abril de 1968

Texto 1 e 2


Estimada Helena,

Peço-lhe perdão pela eloquência de minha última carta. Não queria deixá-la com o coração transpassado de agonia. O caso é que precisava expressar-me, uma vez que começo a desconfiar da capacidade de meu psicológico em permanecer neste lugar...
Antes que me esqueça, você sabe, querida, que o correio militar não é dos mais eficientes; por isso cedo aqui um espaço em minha carta onde lhe direi algumas palavras de J.J : está a me dizer que, assim que retornar à América, enfim a levará, como prometido, a viajar pelo país a contemplar a estátua da Liberdade. Passarão, então, um dia em Nova York, assim como o fizera Gene Kelly, Sinatra e Betty Garrett! Ele diz que dançarão ao som de Ben E. King sob um luar magnífico, no mesmo local de sempre...fico a imaginar que local seria esse.
Helena, continua com suas revoluções anti-guerra? Responda-me sinceramente, por favor.
Despeço-me aqui, o dever me chama. Que Nosso Senhor a abençõe, aos nossos pais, a mim e a J.J.

Ternamente.
Dança com Lobos.

Sem P.Ss hoje.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Dilacerando aqueles olhares

Não pense que é tudo como eu demonstro. Por dentro meu coração está apertado, sem ar. Queria conseguir gritar que preciso de alguém que junte os cacos, de uma esperança que reforce os laços, de uma força que me faça prosseguir. Mas a voz também não existe mais.

Percebo que as palavras começam a me arranhar, tão possessivas quanto aquelas lembranças cheias de calor, cheiros, toques... Suas unhas curtas me rasgavam os neurônios, todos bagunçados depois que você chegou e partiu, voltou e foi embora mais uma vez. O meu corpo sentia falta de te sentir ali, respirando ao meu lado. Sentia, ainda sente. Me alucina às vezes, e nem estou com febre ainda. Talvez seja exatamente esse o propósito de te fazer meu refém na imaginação: é assim que se ganha mais prazer.

Não há explicação...

Não chore; pense, liberte.

Vidas vêm e vão, sempre de forma inesperada. Rompemos a bolsa e assustamos a todos... Expiramos, e lá se vão todos ao desespero, agarramos a um fio de esperança para nos mantermos sãos, mesmo sabendo que, na verdade, esse fio é inexistente. Inexistente para nosso pesar!
Embora pensemos estar sempre preparados para o fim amargo de nossos amados, a morte sempre acha uma forma de andar sorrateiramente sob a sombra e nos pegar de surpresa, aproveitando e derrubando-nos e ajoelhando-nos, chorando sobre leite derramado, nosso leite derramado. Agora não há volta. O que quer que seja que tinha vontade de dizer ao recém-liberto será impossível de lhe chegar aos ouvidos, teus choros e anseios não lhe arremeterão, não serão ouvidos. Teu amor, todos esperamos, fora para um melhor lugar, onde os problemas terrenos não são lembrados. Longe de tudo e todos, longe de você, longe de mim.
O que chamamos de velório não é nada diferente de uma comemoração da morte, da libertação da alma. Não devia ser preenchido por tristonhos rostos e um rio de lágrimas, devia haver nele uma grande festa, com vários amigos e risadas, porcos no rolete, ovelhas, cervejas e bebidas. É disso que devia ser preenchido um velório, nada menos, nada mais.
A troca de mundos é algo inevitável, quando isso acontecer ao seu chegado, deixe-o ir! Não prenda parte dele com você, deixe-o ir. Não o esqueça, apenas não chore, comemore o que passaram juntos. O que resta para você é manter sua cabeça levantada imponentemente entre multidões de desolamento, manter tua sanidade e passar a tua alegria para os que estão presos ao chão negro do luto. Use tua esperteza e liberte-os, com a chave de teu coração.
Mantenha a cabeça erguida, a felicidade por cima, a amizade na tua moradia, o amor sob garantia e a tristeza na tua escrivaninha.

Sinceramente seu,
O Hobbit.

Inspiração dos Astros na plena tarde

Saudações, Terra. Eu tenho andando por muitos planetas utlmamente, para não dizer galáxias. Mas não tinha ninguém lá. Ninguém que me chamasse de navegador de estrelas, como na desambiguação da palavra astronauta. Nada que me lembrasse, ainda que remotamente, as cócegas causadas pelas cerdas de um gramado. Nem ao menos que ecoasse docemente em meus ouvidos como uma imitação barata da pura água corrente.

Na verdade estão todos aqui. Ou estamos todos aqui. E aqui há quem nos diga palavras em um idioma conhecido – ou não – e algo que nosso tato reconheça como a espessura da casca de uma árvore. Aqui há o barulho da chuva na calha do telhado que me faça pensar em Deus. O nosso, a verdade universal.

Então, antes que minha alma fosse tomada pela essência da falta contínua do perfume da singela flor , escrevo-lhe para anunciar a minha ida a seu encontro, casa. Porque fiquei sabendo da sua saúde delicada. Mas eu trouxe algo desses planetas em que estive navegando, e que lhe sirva como remédio: trouxe a conhecida sensação de pedaço perdido, de saudade elevada ao cubo que aquele distante cheiro de lar nos traz, e nos deixa nostálgicos... mas a cima de tudo nos lembra da singularidade da casa, nossa casa. E de como é única, sozinha, lá, um pontinho no universo. Mas ah! Que pontinho belo! O que eu trouxe é a consciência dessa falta de estoque. E a vontade de conservar esse cheirinho de casa. Do modo original, perfeito. Então, Terra, eu prometo cuidar-lhe.Pois a salvação está aqui, ó : S2

Terra, um #detalheignorado.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Livro indicado por Dança com Lobos: O Telescopio de Schopenhauer

O Telescopio de Schopenhauer, Gerard Donovan : Uma história que se desenrola através de um diálogo entre dois personagens. O primeiro, um 'professor', um homem vivido, sagaz e inteligente, que trata a História - sua paixão - como algo verdadeiramente sagrado, buscando ali a compreensão para tudo o que ocorre no mundo - as guerras, os conflitos, as ações e reações humanas. Seu antagonista, 'o padeiro', vê esta mesma História como um mecanismo de sobrevivência. Para ele esse conceito é apenas uma ferramenta que lhe oferece a oportunidade de passar ileso pelas agruras de sua própria solidão, de sua própria pobreza de espírito.

Pegadas envergonhadas sobre dourados tijolos

Jornada longa e desesperada, desenfreada e jogada. Adrenalina a mil, menos certas decisões que erradas, caminho amarelado e de tijolos, sempre a seguir em frente, muitas vezes olhando para trás, muitas vezes decidindo no passado. Adrenalina a mil, vivências passadas que desmoralizam, que atrasam, que modificam. Desenfreadamente louco, marcas deixadas pelo caminho como pegadas envergonhadas.
Pegadas envergonhadas que seguirão teus pés como se fossem recentes, afetando-lhe a mente, afetando-lhe a sanidade. Chore pelo passado, mas não o deixe persegui-lo. Chore como eu chorei por meus companheiros perdidos, mas não os deixe viver em tua solidão. Jogue-os para fora, salve-os da confusão que é tua mente.
Mãos se estenderão uniformemente, súplicas em uníssono pelo teu socorro. Desesperados em um mar de tragédias clamarão teu nome, verá tuas amizades afundando cada vez mais na vastidão do esquecimento e, mesmo relutante, você sabe que arriscará teus sonhos por elas, com intenção de salvamento em massa. Não. Você não conseguirá salvar todas, mas salvará as que fora primeiro resgatar, as únicas que lhe importarão. Não deverás chorar pelas perdidas, pois as que tem serão teu apoio, tua base, para um novo recomeço, uma nova história. E que essa história seja repleta tanto de tragédias quanto de felicidades, tanto aventuras quanto paz. Principalmente uma nova história em que perceberá quando e em quem confiar, quando e quem ajudar. Demorará testes de tempo e distância, de tragédias e felicidades, de amor e de traição.
E os que estão atrás, desesperados, seguirão seu caminho, quase sempre como um modelo, uma esperança. E por mais que queira ajudar, por mais que queira o sucesso de seus amigos, ajude-os a seguir com uma mão, mas segure um punhal na outra. Há sempre do que desconfiar.
Honestamente e tristemente,
O Hobbit

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Um outro dia.

Texto 1 e 2

A
ndando pelas vielas de Nova York, com meu andar calmo e cuidadoso, pensando nos negócios que tenho de tratar com um certo senhor que me telefonara no dia anterior.. senti um arrepio na nuca, me virei e mal pude distinguir um vulto se escondendo atrás de um latão de lixo. Não me impressionei, nem sinti medo, pois o verdadeiro problema em situações como essa são nossas emoções, e sobre essas eu tenho total controle.

Me voltei para a frente, minha mão escorregando para dentro do paletó, e segui em um passo ainda mais vagaroso e distraído, e como o esperado, senti uma repentina aproximação e uma voz disse:

- Give me all the Money, you freak!

Certamente ele se referia a minha desgradável aparência, as cicatrizes no rosto e o andar manquitolado. Mas nem por isso me irritei, mas um ódio controlado cresceu em mim, aquele animalzinho pagaria por sua falta de educação.

Levei a mão esquerda ao bolso, pegando minha carteira, e olhei disfarçadamente para a poça de água embaixo de mim, meu adversário era um adolescente, não mais do que 17 anos, segurava uma pistola calibre 12, podia distinguir espinhas no rosto, mas não era feio e tinha um certo nervosismo, seria fácil.

Estendi a mão esquerda para trás e no momento que ele ia pegá-la ele abaixou um pouco a arma, e eu rapidamente enfiei-lhe o canivete que eu segurava na mão direita em seu pulso. Urrando de dor ele caiu para trás, me virei com um sorriso no rosto e disse-lhe:

- I’m the freak? Would you like to be like me? – e enquanto dizia isso arranquei a lâmina de seu pulso e passei-a na boca para sentir o gosto de seu sangue, para meu deleite tinha gosto de medo.

Agora chorando o garoto pedia perdão e implorava, não senti nenhum tipo de dó, e comecei minha obra de arte! Olhando a poça d’agua e vendo meu reflexo, fiz-lhe cortes transversais e paralelos, de modo a deixá-lo parecido comigo, modéstia a parte, foi um ótimo trabalho!

Quando terminei meu serviço o ladrãozinho ainda chorava e percebi, feliz, que ele havia molhado as calças. Limpando o canivete na blusa dele, levantei-me e segui em frente, afinal tinha um importante encontro.

Ao fundo ouvia um choro, que se distanciava...a vida realmente é fascinante, vejam como uma simples caminhada em uma gélida manhã pode se tornar tão agradável!

Kanibalas Kunigas.

Surgem dois estranhos e um raio me cai na cabeça.

Quando abri os olhos, novamente, já era noite. "Ah, agora sim". Apesar da escuridão, pude reconhecer o mesmo quarto, continuava, portanto, viva. O relógio marcava dez horas e aquilo me fez pensar que talvez ele tivesse ido me visitar em meu quarto e não me encontrou. "O que teria pensado?". Levantei-me e pus-me a caminhar pelo aposento, divagando.
Acordei na manhã seguinte com a mesma luz em meu rosto e percebi-me sentada num canto do cômodo, como havia parado lá nem mesma eu sabia. Em seguida surgiram dois homens, um deles, para não fugir à regra, vestido de branco. Este pegou-me gentilmente no braço levando-me de volta para cama. O outro sorria para mim como se já me conhecesse.
Então veio a revelação para todo o mistério que me cercava: o homem de branco era nada menos que um médico e estava ali para cuidar de mim. "Como! Minha saúde está ótima!", mas minha mente não estava, ao que parece eu estava louca. Sim, louca! E por que não? Obviamente ele não usou estas palavras e sim outras que a delicadeza da situação exigia. Eu me encontrava, portanto, num manicômio, ou numa clínica psiquiátrica, como preferirem, o fato é que aquela notícia atingiu-me como um raio e, desesperada, passei a gritar com todas as minhas forças. O outro desconhecido tentava me acalmar.
"Oh, chama-me de Helena? Pois então conhece-me? Mas eu não o conheço! Afaste-se de mim!"
Não sei como, nem porquê, mas após tanta gritaria senti-me atordoada e sonolenta. Meus dois estranhos despejaram toneladas de palavras consoladoras, das quais não compreendi nenhuma.
O medico explicou-me, quando me viu mais calma, que o homem que o acompanhava - não lembro-me se mencionou o nome - estava ali para fazer-me companhia, quando eu precisasse de alguém para conversar. O mencionado pegou-me, então, nas mãos, fitando-me com um ar insuportável de compaixão, mas que ao mesmo tempo me confortava.
A ideia não era má, talvez se eu lhe contasse minha história, com os detalhes tão exatos que guardei em meu coração, percebessem, por fim, que eu não era louca.
Então o homem pegou-me nas mãos fintando-me com...mas isso já lhes contei, certo? Ou não?...Não importa, continuemos a história.

Vietnã, 20 de maio de 1968

Texto 1


Helena,


Para o inferno com a guerra! E isso é quase um pleonasmo! Tinha razão, minha irmã. Como sempre soube que tivera. Odeio a guerra assim como odeio a mim mesmo por fazê-la possível! Estou farto de homens sedentos de sangue, de mulheres à deriva, jogadas à sarjeta dessa cidadezinha mais pútrida que a prórpia situação. Desprezo e cuspo em cima de qualquer flâmula que incite à guerra pela guerra. O ódio pelo ódio... mas é esse mesmo ódio que me toma agora! Ora, que espécie de animais somos?
Deixe que eu respondo: somos os que tornam possível a concretização da teoria o Homem é o Lobo do Homem. Deixamos que Hobbes esteja certo! Aqui, nesse purgatório, eu vejo, eu posso ver! Somos o homem que mata o homem, por pura afeição a desgraça. Somos os que encontram satisfação sexual no sofrimento alheio. Somos o lixo do mundo!
Mas ao mesmo tempo, irmã - e ai de mim! - somos os que amam! Como seria isso possível, Deus meu? A mesma vil carcaça possuir também uma alma capaz de amar! E como ama...
Não, não me chame de simpatizador de Schopenhauer ou pseudointelectual do existencialismo... pois sei que o fará! Apenas estou farto! Farto de despertar todas as manhãs em uma cama asquerosa e encarar a morte a cada esquina. A Morte em todas as suas formas, Helena!
Ontem mesmo; equanto tomava meu posto, uma garotinha de não mais de oito anos aproximou-se de mim com seu único braço, e a noite peguei-me a buscar em minha mente sinais de que talvez eu pudesse ser seu mutilador...O que seria isso senão o Inferno, minha irmã? Vejo no rosto de meus comandantes o prório Diabo e me convenço.

Em meio a essa carta cinzenta, espero de coração que todos estejam bem em casa.


Do seu irmão que lhe ama,
Dança Com Lobos.


P.S: caso uma das cartas não chegue à América, eu e J.J mandamos a carta de cada um e a do outro.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Dessa vez eu não quero morrer!

Eu acabara de abrir os olhos ...Que luz era aquela? Quem se atrevia a abrir as janelas do meu quarto? Elas nunca ficavam abertas, nunca! Eu não gostava de luz, ela me fazia mal e...mas então percebi : Aquele não era meu quarto! Era branco demais, claro demais, o relógio nem marcava oito horas! Meus relógios sempre marcavam oito horas!

"Ah, sim". Começava a me lembrar. Eu estava em meu quarto, sim, diante do meu toucador, quando alguém entrou - sem ao menos se anunciar - "Como é possível isso? Eu nunca recebo visitas, ninguém além do meu..." Mas não era ele, eram dois homens estranhos, estavam de branco, eles seguraram-me pelos braços e me levaram embora, de resto não me lembrava.

"Oh, meu Deus, decerto que morri! " Mas eu mesma não pude acreditar nisso, meu coração ainda batia!Pois os corações continuam batendo após a morte? Não, morrer não era assim. eu já havia tentado uma vez e tinha sido bem diferente, naquela ocasião eu senti dor, muita dor!

Pois bem, o mistério continuava, estava sozinha, deitada num quarto branco, com uma claridade infernal e um relógio que não marcava oito horas...mas aí vinha alguém. Claro, outra pessoa de branco! Uma mulher dessa vez..."Quem é você? O que quer de mim? Não me diga para me acalmar, eu não quero me acalmar!O que está fazendo? Ah, meu Deus, agora sim eu morro! Por favor, não faça isso, eu quis morrer várias vezes é verdade, mas agora não, não quero mais!. Mas não adiantava gritar, e, pouco a pouco, a luz foi sumindo...

Vietnã, 05 de maio de 1968

Querida Helena;

Por que parou de escrever-me? Entendo que o ato de escrever cartas possa tornar-se enfadonho a longo prazo... mas ao menos um bilhete? Continuarei esperando por alguma carta sua que talvez tenha se perdido...
Quando você diz em sua carta anterior que essa guerra não tem propósito, tenho que lhe dizer que se põe a ofender-me. Mas então, lhe pergunto, irmã : seria isso uma justificativa? Creio que não. Todavia, ao mesmo tempo que a guerra atraí todo meu desprezo, também reverencio e prezo a luta pela pátria. Admito que alistei-me em ganas de vingança, mas torno a afirmar-lhe que não é esse vil sentimento que me move agora. Antes de mais nada, tenho amigos de batalha, que viram tudo o que vi, e que estão aqui por mim, assim como eu estou aqui por eles.
Não se aborreça comigo, querida irmã, como sei que há de ficar a enrugar o cenho e a mordiscar o lábio. Entenda que a guerra pela guerra já não atrai nada de satisftório, como seria então essa mesma guerra sem ao menos um apoio de má vontade de seu própio povo, ao que diz respeito a nós soldados? Como sempre digo, alguém precisa fazer o trabalho sujo. Assim como alguém precisa limpar a sujeira do final; mas esse trabalho infelizmente não é meu.
Por isso, Helena, não demonstre sua ira contra essa batalha sem que perceba que, ao fazê-lo, você diz que eu e J.J estamos aqui por absolutamente nada.
E soube da última? Acredito que sim, já que chegou à meus ouvidos neste fim de mundo : Elvis Presley foi convocado! Mas sou capaz de apostar que ele não fará nada mais que trocar o topete pelo corte escovinha... Poupe suas lágrimas, irmã, e a de outras tanmtas moças: ele não corre perigo.
Despeço-me aqui. Lembranças ao pai e a mãe.
Ternamente, Lionel.

P.S: depois que retorne a escrever-me, retomo meu tom formal que a situação pede. Antes que me esqueça, nas próximas cartas assinarei como Dança Com Lobos.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Carta para uma velha amiga.

Parado observando aquele vasto e escuro lago, senti uma calmaria estonteante, poderia ter morrido naquele instante que não ligaria, todos os laços haviam sido cortados, era eu e apenas eu.

Como é lindo o anonimato da morte, alguns se desesperam em pensar em um mundo que não se lembrasse deles. Mas geralmente, essas são as pessoas que não fizeram diferença nem em vida, por que então ligar para a morte? Seria apenas a continuação de suas vidas...

Por outro lado, alguns dos grandes sábios, e eu não me encaixo nesse grupo, apesar de terem de fato vivido, não temem a Eterna Companheira, tratam-na como amiga, e convidam-na a entrar, tomam com ela sua ultima xícara de chá, e talvez por isso ela lhes poupe por mais alguns instantes, mas ao estender o braço da inexistência Ela os trata com carinho, e não há sofrimento.

Como diria Platão, há duas possibilidades, ou a morte nos leva a um descanso eterno e invariável, como um sono dos imortais ou existe algo, mais magnífico e incrível do que qualquer coisa que imagine-mos, em ambos os casos.. não há o que temer.

No primeiro, deve-se lembrar que não ligaremos por não existir, se não existirmos, não haverá nenhum tipo de sofrimento, só paz.

No segundo, creio que o mais tolo dos tolos entende que não deveríamos temer qualquer coisa que exista.

Minha opinião sobre o que existe, se existe? Não a tenho formulada, e talvez nunca a tenha, ou se tiver não a compartilharei, mas não acho que isso mude as coisas, não saber o que se passara não torna as coisas piores, na verdade transforma a morte num desafio incrível, numa jornada inevitável, que mesmo que me fosse possível eu não evitaria.

Antes de temer morrer, temo viver! Não se deve passar a vida com medo da morte, e se esquecer de que para temê-la, você deve ter medo de perder algo.. mas se voce nada tiver, porque temê-la?

Por isso não tenho nem medo de você, querida escuridão, nem remorso ao conduzir alguém aos seus braços.

Que quando a hora de nos encontrarmos chegar, que possamos sentar e conversar, apreciando um café que preparei especialmente para a senhorita.

Com muito amor,

Seu querido Kanibalas Kunigas.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Ecce Homo

Um gosto especial pelo conhecimento e, portanto, um gosto especial pelas definições é uma característica que eu destacaria em mim. Amo poder encher a boca e dizer: Verdade! Ou então cerrar os punhos e vociferar: Mentira! Amor estranho, não nego. Mas isso não o diminui, é um amor meu e faço questão de defendê-lo. Minhas definições nunca me traíram. É verdade que me falharam algumas vezes, foram derrotadas, superadas, suplantadas. Mas me são fiéis e não me abandonam senão quando morrem. Amo as definições e tenho dito. 

Mas a que prova esse meu amor foi posto quando me deram a tarefa de traçar nem que fosse um esboço de uma definição de mim! Talvez seja por isso que eu amo as definições, afinal. Imagino que não estou sujeito a elas, que sou livre e todo e resto e todos os outros, a quem eu traço definições, não o são. Sancta Simplicitas! Mas por meu amor às definições, sigo em frente. 

Sinto-me cheio, pesado. Sou um fardo para mim e não me canso de aumentar tal fardo. Às vezes, feito um Cristo caricato, sou ajudado em tal fardo por algumas pessoas. Não muitas. Não poucas, por outro lado, me são um peso (morto ou vivo) a mais. Sou saudosista, guardo amor pelo passado. Sou idealista, crio esperanças pelo futuro. Niilista em luta contra o niilismo. Romântico dado aos meus realismos. Dialética, meus caros, dialética. 

Temo queimar a mente ou gelar os corações de quem me lê, de quem me ouve. Mas as mentes frias e os corações quentes são meus convidados de honra, meus irmãos por natureza, meus camaradas de luta. Vamos juntos.

Atenciosamente, Iral Levirc. Ecce Homo.

Bailando no ar

Acho que não conheço bem quem eu sou. Sabe quando uma cigana lê a mão dos outros, mas se perde dentro de si mesma? Se sente meio vazia, meio perdida, tudo pela aquela metade desencontrada. É mais ou menos isso. Às vezes nem mais e nem menos. Não exijo explicações, mas procuro-as com a curiosidade insana de qualquer mente feminina. Mente perigosa, por sinal, de manutenção cara e complexada. Talvez você me conheça muito pouco e não goste de mim, ou goste, quem sabe? Apesar de tudo.

Algumas pulseiras, um poema dramático e uma atração quase sexual pela autodestruição. Até diria que eu sou cópia barata de Capitu. Metade verão, metade melodia, verbos e oceanos que por mim passaram. Ouso dizer que alguns ficaram; “despromovendo” o desapego. Meu lado romântico briga, pois não quer existir. A roupa colorida é para esconder os dias cinzas. Corro da dor constantemente e há sempre alguma maquiagem que disfarce a falta de brilho.

Desamarre o laço, abra a caixa. Sentirá um leve cheiro de provocação, mas não se engane, estas mãos no teclado causam estragos irreversíveis aos corações desatentos. Dentro da caixa fica mais e mais difícil de respirar. A solidão acaba até sendo subestimada. Mas apenas me leve pra longe. "Close your eyes, sometimes it helps".

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

No fundo o que nos governa são nossos instintos, e nada mais.

Sua face desfigurada brilhava na escuridão da noite, finalmente ele teria sua vingança, a tanto planejada.. aproximou-se sorrateiramente da soleira da porta e sem produzir nenhum barulho entrou no armazém.

Como esperava, não houve problemas com o cão, que ele havia envenenado a algumas horas, com um bolo de carne com cicuta, procurou alguma fonte de luz nos bolsos para que pudesse se orientar, e achando uma caixa de fósforos acendeu um, apenas para se localizar corretamente, a sua missão não toleraria erros.

Subindo vagarosamente a escada lembrou-se da sua infância conturbada, as necessidades que passou, e depois daquela horrível noite de outubro como sua vida havia sido arrancada dos trilhos.. Faziam exatamente 17 anos, desde que aquele homem bêbado e desleixado havia se casado com sua mãe, e os abusos que havia sofrido, como tinha tido sua cara esfregada nas cinzas da lareira por seu padrasto alcoolizado.

Mas hoje tudo acabaria, depois do assassinato de sua mãe, o covarde havia fugido da policia, mas ele o achara, em uma pequena vila, afastada no meio da Irlanda.

A escada acabou, foram 15 passos até o fim, nem em um momento tão crucial como este ele podia deixar de contá-los. Adentrou o quarto na penumbra, quase derrubou um abajur, em um móvel que não estava ali quando ele visitara a casa na manhã do dia anterior.

Retirando a faca de bolso esquerdo do casaco, ele se aproximou pé ante pé da cabeceira da cama, agora já sentia o fedor de aguardente que o homem deitado exalava , dormia sem imaginar o perigo que corria.

Se preparou mentalmente para o golpe que iria desferir, não queria matá-lo de uma vez, apenas danificar sua garganta para que ele não conseguisse gritar. Colocou a lâmina próxima ao pescoço do homem que destruira sua vida, e quando ia trasnspaça-la...

Quando teve uma idéia melhor, para que o homem não gritasse ele precisava apenas arrancar sua língua, mas ao invés de pegar sua faca e posicioná-la na boca da vítima, ele a deixou no criado-mudo, tentara evitar essa ideia desde o começo, mas agora que estava tão perto de seu objetivo não podia evitá-la, aproximou sua boca da de seu padrasto e abriu-lhe levemente a boca com a língua, e ele quase acordando só percebeu o que acontecia quando a dor lancinante de sua língua sendo arrancada a dentadas lhe chegou ao cérebro, mas ai já era tarde.

No dia seguinte, espalhou-se um boato, que mais tarde foi confirmado, o velho senhor do armazém morrera, não que sua morte fosse realmente sentida, era apenas um velho bêbado, mas a forma como acontecera arrepiaria o próprio Lúcifer.

O homem havia sido devorado, primeiro sua língua, depois as orelhas, depois as bochechas, o nariz, e parte por parte, sua carne fora arrancada, de sua cansada face só havia lhe sobrado os ossos e alguns pedaços de pele rejeitados pelo canibal. E em seu peito, ao lado da cavidade que um dia conteve um coração estavam rasgadas na carne duas grandes letras, a assinatura do artista que havia feito tudo aquilo, KK.

Mal sabiam aquelas pessoas, que esse tinha sido apenas a primeira das minhas muitas refeições

Com ternura,

Kanibalas Kunigas.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Quando os Diamantes brutos devem permanecer assim

Eu tenho uma pequena teoria que costumo manter comigo mesma, mas que talvez tenha compartilhado outrora com uma pessoa ou mais. Essa ideia que desenvolvi é sobre a eternidade amorosa quando o plano físico não se intromete.  Basta que o leitor visualize Romeu e Julieta. Eu, francamente, muito desconfio que um casamento entre essas duas almas não duraria muito mais que alguns poucos anos, se a morte não tivesse intercedido. Pois casariam, seu esponsal seria consumado fisicamente e a rotina e o enfado os tomariam nos braços. Agora, veja bem, quando o amor continua em seu estado bruto , ou seja, casto e injustificável, quando a paixão ainda está na dose certa de causar devaneios, ele assim permanece, sem ser geneticamente modificado. Quando estas duas almas não conhecem mais que essa forma bruta, quando o Amor ainda é criança qu não conhece as perdições da vida adulta, não há como corrompê-lo. Acredito, então, que o Amor interrompido é o mais puro dos sentimentos, assim como uma criança que morre antes de crescer sem dúvida será um anjo.
  O Romeu com sua Julieta ou ainda Rose e Jack foram presenteados com essa pureza. A Morte deu-lhes a dádva de poder cultivar e manter seu amor da mesma forma que ele nasceu; como o desejo de toda mãe que é ter seus filhos eternamente bebês.
  Essa é minha filosofia sobre o Amor.