terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Vietnã, 05 de maio de 1968

Querida Helena;

Por que parou de escrever-me? Entendo que o ato de escrever cartas possa tornar-se enfadonho a longo prazo... mas ao menos um bilhete? Continuarei esperando por alguma carta sua que talvez tenha se perdido...
Quando você diz em sua carta anterior que essa guerra não tem propósito, tenho que lhe dizer que se põe a ofender-me. Mas então, lhe pergunto, irmã : seria isso uma justificativa? Creio que não. Todavia, ao mesmo tempo que a guerra atraí todo meu desprezo, também reverencio e prezo a luta pela pátria. Admito que alistei-me em ganas de vingança, mas torno a afirmar-lhe que não é esse vil sentimento que me move agora. Antes de mais nada, tenho amigos de batalha, que viram tudo o que vi, e que estão aqui por mim, assim como eu estou aqui por eles.
Não se aborreça comigo, querida irmã, como sei que há de ficar a enrugar o cenho e a mordiscar o lábio. Entenda que a guerra pela guerra já não atrai nada de satisftório, como seria então essa mesma guerra sem ao menos um apoio de má vontade de seu própio povo, ao que diz respeito a nós soldados? Como sempre digo, alguém precisa fazer o trabalho sujo. Assim como alguém precisa limpar a sujeira do final; mas esse trabalho infelizmente não é meu.
Por isso, Helena, não demonstre sua ira contra essa batalha sem que perceba que, ao fazê-lo, você diz que eu e J.J estamos aqui por absolutamente nada.
E soube da última? Acredito que sim, já que chegou à meus ouvidos neste fim de mundo : Elvis Presley foi convocado! Mas sou capaz de apostar que ele não fará nada mais que trocar o topete pelo corte escovinha... Poupe suas lágrimas, irmã, e a de outras tanmtas moças: ele não corre perigo.
Despeço-me aqui. Lembranças ao pai e a mãe.
Ternamente, Lionel.

P.S: depois que retorne a escrever-me, retomo meu tom formal que a situação pede. Antes que me esqueça, nas próximas cartas assinarei como Dança Com Lobos.

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