quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Em que se encerra uma parte da história

"JJ continuou me visitando, todas as noites, no mesmo horário. Ele aparecia, sorria, mas não dizia nada, apenas eu conversava...e Lionel e papai continuavam desacreditados, até Cathy duvidava de mim!
Eles, então, passaram a me olhar de forma diferente, com cuidado e até pena, várias foram as vezes em que interromperam uma conversa devido a minha chegada. Pareciam estar planejando alguma coisa e , de fato , estavam.
O plano era me levar para uma clínica psiquiátrica - mais uma vez . Entrei em total desespero quando descobri, eu não podia ser internada, eu não era louca!Foi então que tomei a decisão que encerrou, de vez, todas as mudanças da minha vida.
No dia seguinte à descoberta, fugi de casa. Com apenas uma mala na mão e algum dinheiro no bolso, eu fui embora...
Não me lembro, ao certo ,como sobrevivi, sei que várias vezes dormi na rua, viajei de carona para outras cidades e tive vários empregos temporários...certo dia criei coragem e voltei a Willmington, mas aí soube que meu pai havia morrido e, tomada pela tristeza, fui embora novamente - Lionel e Cathy nem sequer ficaram sabendo da minha aparição.
E o tempo foi passando, consegui cuidar da minha vida e comprar uma pequena casa - onde moro até hoje - mas as coisas não estavam melhorando para mim. Eu era sozinha, completamente sozinha, minha única companhia era JJ ( não, ele nunca me abandonou!), tinha uma vontade imensa de voltar para casa mas não podia e , mergulhada nessa tristeza, minha vida foi se apagando em volta de mim.
Tranquei-me em minha casa, saindo apenas quando muito necessário, fechei para sempre todas as janelas e me acostumei com a noite constante...em que ano estamos meu querido? 2002? Pois bem fazem cerca de 20 anos que assim eu tenho vivido, digo, nós temos vivido, eu e JJ".

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Cova.

Jackie: Um copo de tequila, por favor. Sem gelo.
Dietrich: Dois copos, estou tentando parar... Uma Coca com gelo e limão, por obséquio.
Astronauta: Blue Label duplo, por favor. On the rocks. Beber é inútil, logo... Eu bebo.
Jackie: O que seria do útil se não o estragarmos um pouco?
Dietrich: De nada serve o útil regulado, felicidade não se conhece limites... Perdoem o exagero, acho que.. Deixe! *cala-se com a Coca*
Astronauta: Admito as inutilidades. Elas são, no mínimo, poéticas... Pergunte às pessoas se elas gostam das inutilidades; elas dirão que não e eu as chamarei de hipócritas. E ser hipócrita é inútil.
Jackie: Astronauta, está muito filósofo hoje.  Ofereça um gole de Label à Dietrich, minha tequila é fraca. Quero ouví-lo de dentro, inútil, eu sei, mas o desconhecido me intriga.
Astronauta: Ora, ora, e não é que ele aceitou? Grande ideia, querida Jackie, grade ideia! *risos* Estou filósofo, por que os filósofos também são inúteis. Assim como a Coca do nosso amigo Dietrich. Largue isso, meu caro, faz mal para os ossos. *tira a Coca de Dietrich.
Dietrich: Eu... Eu agradeço, mas não agradeço. Vou precisar mais do que álcool para me abrir, mas gosto de vocês.
Jackie: *rápida olhada ao redor* Não vejo cirurgiões plásticos aqui, amigo. Não vejo nada além do álcool. Aliás, vejo, sim. Te vejo se escondendo na sombra da fumaça de meu cigarro.
Dietrich: É que já estou cansado de ver outros sendo discriminados por aí, aprendi, por sobrevivência, a me esconder.
Astronauta: Experimente charutos, Jackie, é mais sofisticado. Mas você mesmo se discrimina, meu velho, com seu silêncio bêbado.
Dietrich: CHEGA! A culpa é do horrível mundo em que vivemos. Não sou eu, Astronauta! A diferença, a homossexualidade, é apedrejada todos os dias. E não sou eu!

sábado, 22 de outubro de 2011

Täglich Dietrich, dia 30 de julho, mãos responsáveis – 2.

*TAC* *TAC* *TAC*, estes sons ecoam em minha mente, *PIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII*. Fora tão simples, tão banal, tão sem cerimônias, tão pesado, tão triste. Apenas um abaixar de dedo, apenas um estalo, e o *pi* periódico se tornar constante... Tão... Destruidor.

Minha mão segurando a dele, meu coração formando imagens de ele acordando e falando comigo, voltando à rotina. Depois, lembranças, dele a balançar de mãos dadas com minha Oma em sua velha cadeira de madeira, que rangia tanto. Ambos sorrindo. *TAC*

*PIIIIIIIIIIII* E lá se foi, mais uma vida, a vida de meu Opa, ascendendo aos céus, sua alma dizendo adeus e, espero eu, prometendo visitas. Diário, estou tão triste, tão caído e já não sei se consigo me levantar mais. Será que o que coloria o mundo de meu Opa era a minha Oma, apenas? Será que tudo fica obsoleto quando se encontra o amor? Tudo... embaçado? Será que com a perda não conseguimos mais viver sem? Será que o humano se acostuma a esse ponto? Será que... Será que Pierrot é o meu?

Adeus, Opa, você fará falta nas reuniões familiares, você será lembrado sempre. Nós o amaremos para sempre e teu espírito será vivo como o de Oma, com o calor de nossos corações. Um grande e longo abraço,

Dietrich.

Täglich Dietrich, dia 29 de junho, mãos responsáveis – 1.

A pressão aumentou, recaiu a mim decidir se desligaremos ou não a máquina que mantém meu Opa vivo. Será a minha mão que o matará, que fará o coração dele parar, que o levará ao céu, ao lado de minha Oma, e essa é a única coisa que me conforta.

Chame-me de cruel ou qualquer coisa que quiser, diário, mas é isso que acho correto. De que adianta mantê-lo “vivo” neste mundo impuro, se ele pode ascender aos céus, ao lado de Deus, ao lado de Oma? Isso apenas o fará feliz... Se existir realmente um céu. Deus! E se nada houver no “outro lado”? Estarei mandando-o à escuridão?

Não posso, não posso... Ah, esse conflito em minha mente. AH. Porque esses piores deveres recaem em minhas mãos? Porque não posso apenas deixar outro que decida o destino dele, por quê?

Dietrich

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Quem se importa com título?

 Outra noite sozinho. Pessoas indo e vindo, ligações perdidas, mensagens atrasadas, um movimento constante e caótico, um redemoinho de informações a que em síntese.. não dou a mínima.

 Pessoas se cruzando na rua, trocando olhares falsos e palavras sem sentido.
- Nossa, que tempo maluco, não?
-Não!

 Engraçado como a solidão leva as pessoas a se sentirem idiotas... 
 Aquela sensação de nostalgia por um tempo perdido.. que nunca aconteceu, a vontade de gritar e ser ouvido.. mas não ter nada para dizer, o vazio interminável que precisa ser preenchido.. e que nunca será.

 Afinal, de que vale essa merda toda? Pessoas fingindo se importar, e quem se importa de verdade não se preocupa em demonstrar. O sofrimento de um é a risada do outro, o choro de um não importa a outro. Somos no fundo um bando de hipócritas ignorantes, que se preocupam com o próprio umbigo, queremos amar para ser amados, queremos vencer para sermos reverenciados, queremos viver para fazermos um show.. o sonho maior é no fim das contas entrar em um conto de fadas, ferrar com o bandido e ficar com a princesa e a glória.. nada mais importa.

 Até este discurso fajuto é hipócrita, como se o escritor estivesse apontando um erro de todos.. mas na verdade é um erro dele, que talvez seja de outros.. mas jamais saberei.. afinal o que acontece fora do meu quintal eu não sei.. de fato não me importo.
 Agora essa bosta desse desabafo já encheu também, melhor parar.
 Então todos que se fodam, porque eu não me importo mais.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Ganga, nos salve!

Aqueles cinco, dez, quinze minutos que... Ah! Que se diga uma hora! Aquela uma hora embaixo da ducha, aquela uma hora em que se recorda, em que se revive, em que se chora.

Aquela uma hora em que soltamos todos os orgulhos engolidos, os falsos risos, os socos escondidos: a santíssima trindade da depressão.

Talvez choremos naquela uma hora, unicamente nela, para que nossas lágrimas pareçam insignificantes em meio a tantas outras lástimas. Não! Isso não é sobre “eles”, isto é sobre tu!

Chore, mas não apenas chore. Faça algo, mude tua vida, resolva teus problemas, pois eles são teus apenas e ninguém o ajudará por suficiente. Liberte-se por si só. Assim, você poderá chorar pelo o que resta no mundo: chorar por amores perdidos, chorar por dores e sofrimentos, por um mundo sem sentimentos.