domingo, 29 de maio de 2011

Não, destino, eu o impeço!

Odeio os dias atuais, sinto falta do antigo. Sinto falta do Condado, dos dragões, das companhias, das histórias. Isso agora só existe no livro em que eu e meu sobrinho escrevemos, pois é tão longínquo que nem minha memória consegue relembrar.

Já estou cansado dessa neurose, desse platonismo todo, sempre me envolvendo. Será que não existe outra pessoa para importunar? Talvez seja porque comigo é, realmente e sem dúvida, impossível.

Era tão simples, no Condado, o amor. Palavras só faladas pessoalmente, nada de virtualismos como hoje. Essa tal de internet, que uso, admito que seja útil, mas me trás desespero se qualquer falha ocorra e você já não pudesse mais falar comigo. Pois, prefiro eu esperar ansiosamente para vê-la frente a frente novamente, a passar por esses malditos apuros. Elendil que me salve!

Agora chego a pensar que é o destino nos perseguindo, aquele que determina o tempo e distância como fim de tudo. Parece que o destino, destruidor, sentiu pesar de acabar com nossa relação de amor amigo tão pura, mas, agora, surge-me a imagem de que ele criou a coragem necessária de acabar conosco. Derrubar a ponte inquebrável, destruir o castelo inabalável, acabar com minha base. Minha base e vida. Não a leve embora, faremos mais bem ao mundo juntos, que separados.

Ordeno-lhe, como apenas O Hobbit tem autoridade, com Ferroada empunhada, que vá bater em outra porta, destino, pois “you shall not pass”. Não a levará, ser vil e cruel. Mande-se daqui e não retorne, deixo-nos em paz, vivos, juntos.

O Adeus e o Até logo

"Era já inverno, final de 1967, no primeiro dia em que, de fato, nevava em nossa cidade, e a neve parecia querer compensar o atraso.
Estávamos todos reunidos em frente à rodoviária, dezenas de jovens despediam-se de suas famílias e subiam num ônibus, deixando aos prantos moças apaixonadas e pais aflitos. O mesmo fazíamos nós - papai, eu e Cathy. Me despedi primeiro de Lionel, abracei-o com toda a força possível, ele me disse suas costumeiras palavras de doçura e precauções e virou-se para Cathy que, veja só, conseguia até sorrir para confortar seu amado.
Voltei-me então para JJ e olhei bem para seus olhos que, naquele momento, não pareciam altivos, superiores e sim ternos, serenos. Era incrível como nada abalava aquele homem, como era possível que estivesse tão calmo num momento como aquele? Mas estava, e, em contrapartida, os meus olhos revelavam uma noite mal dormida, lágrimas recém derramadas e mais uma tempestade de sentimentos que havia dentro de mim . JJ beijou-me, primeiro nos lábios, depois na testa, e a buzina do ônibus indicou-nos que era chegada a hora".
Mas veja se não é meu amigo Matthew se emocionando! Eu sei , querido, é uma história muito triste e difícil de ser contada, mas acha que se eu estivesse louca, conseguiria contá-la dessa forma? Está certo, continuarei.
"JJ e Lionel iriam de ônibus até o aeroporto de onde voariam, finalmente, para o Vietnã. Meus dois soldados subiram, então, no ônibus, vestindo suas fardas que lhes davam ainda mais ares de heróis.
Até logo Jack - foi minha ultima frase.
Adeus Helena - foi sua resposta. E apesar de ter sido a mesma resposta de Lionel, a dele causou-me uma leve pontada no coração.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Nau à deriva.

Quando o ego briga por espaço com o Kangchenjunga ( não sei pronunciar, não pensem...). Quando o gelo endurece a vidraça mas a mão transpira...adrenalina. E o que dizer sobre o domínio do lugar-comum? Não são Santo Agostinho mas se libertam do pecado original ( ou acham). O humor do dia é Álvaro de Campos em seu Lisbon Revisited. Pois não gosto que "me peguem no braço". Farta o senso critico em abundância dos outros, e, na verdade, o meu também. Ninguém vive de senso crítico. Mais vulgarmente : senso crítico não enche barriga, não! Ei sabedores de cinema, abandonem o mau-humor, tirem suas "partes" da cadeira e vão fazer melhor! Com o perdão pela vulgaridade. Que perdão! Ora essa, que satisfação devo e a quem? Além do mais vivemos em um país livre ! Façamos a liberdade!
A democracia não existe realmente ( mostrem-me os conservadores um país que a segue!), e os engraçadinhos responderiam que "nem o Acre". Quem sabe a felicidade de no mundo só existir o rock ocupando o espaço que hoje é do ar. Ou melhor ainda, quem sabe o último romântico seria o último mesmo!
E se existisse três cachorros para cada pessoa? Talvez essa seja a utopia da paz mundial. Se ai todos os ídolos mortos por overdose, AIDS e tudo o que sexo,drogas e rock and roll causam levantassem de seus túmulos fazendo a introdução de Smoke on the Water?
Se alguém segurasse Hitler para que todos os injustiçados pudessem cuspir na face dele?Se todos os soldados se recusassem a partir para uma guerra? Se os EUA perdesse todo seu territorio em um tratado pós-guerra?(eu duvido que algum país cederia abrigo a eles). Isso tudo é o que eu chamo de " a justiça foi feita".
Mas e se os desaparecidos políticos não tivessem protestado, se os universitários nao tivessem coragem, se os militares tivessem multiplicado seus dias de tortura? Se o muro de Berlim não tivese caído?
E se um vento vindo do Leste levasse todos os maus e soprasse mudanças? Se o terrorismo nao existisse ( mas e se ele fosse vitorioso?), se a expressão "conflitos no mundo árabe" nunca fosse usada? Se a China não conhecesse a censura? Se a Coreia não tivesse ditador?
E se do solo africano brotasse alimentos ( ou brotasse sangue?). E se o tráfico virasse profissão?
E como seria se o homem não tivesse pisado na Lua? E se o homem não tivesse pisado na lua durante a Guerra Fria, quando pisaria?
Se amanhã o sol decidisse tirar folga. E se as plantas se fartassem da fontossíntese? ( existiria laboratório para corrigir a mutação?)
O Astronauta pensa em coisas absurdas como essas o tempo todo. Mas o que mais me intriga é nunca sair do "se". Há muito mais entre o "s" e o "e" do que sonha nossa vã filosofia.


quinta-feira, 26 de maio de 2011

Debaixo da Superfície

"Por que estou a sete pés de profundidade e de cabeça para baixo?". É justamente pelo fato de você ver o mundo não ao avesso - como os comuns - mas virado e debaixo da terra, das entranhas do "vir a ser". Não relacione com nenhum tipo de Alegoria da Caverna, pois não há intertextualidade aqui. Quando a pauta é ver o mundo tudo o que já foi dito escorre das páginas e inexiste.
Que seja de uma redoma ou do alto de uma montanha da lua, você precisamente o vê. E, diga-se de passagem não há religião ou filósofo que interfira.
E você está a sete pés pois não há absolutamente nada como ver as coisas de baixo e do lado de fora da situação. Como é da natureza humana viver e tornar-se cômodo, por que também não o ser nessa questão?
Olhando daqui de cima o século XXI, digo com convicção que o problema alheio nunca foi demasiado interessante a outros. Pois há quem veja o mundo de dentro do mundo de outrem.
Felizes os peixes de aquário! Pois vivem na tal alegoria citada - e que causa enfado ao Astronauta- pois são poupados da tarefe de "ver o mundo". Mas quem foi o palerma que disse que é preciso fazê-lo? E se eu lhe disser que não vejo, não vejo nada?E se Saramago virou Deus e colocou em prática seu ensaio sobre a cegueira? ( afinal não seria mais poético seguir Bilac e " ver e ouvir estrelas?")
"Mas isso não é ser cômodo, Astronauta?" você me perguntaria. Não, isso para alguns é ser covarde. Para mim, é ser poeta.
Então, parem todos de ler essas palavras descabidas que estou a escrever e vão excluir-se em seus aposentos, a fim de formular sua forma de ver o mundo ( como se fosse marketing)! Não se esqueçam da criatividade nem seu ângulo de visão : a sete pés e de cabeça para baixo.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Nem às paredes confesso.


Sim! Sou viciado em palavras cruzadas e sustento meu vício. Sim. Eu admito. Como assim? Se vi o muro de Berlim? Não,senhor, não tive a oportunidade de presenciar sua queda muito menos sua construção. Pergunta se aprovo a didática? Já disse em outro texto que detesto a didática. Suponho que tenha ficado claro, senhor. Também não tenho religião. Mas é óbvio que isso não significa que não acredito em Deus. O caso é : defina "Deus". Não tenho nada contra ao movimento das Vanguardas, apesar de não ser grande apreciador de Picasso. Digo abertamente que prefiro Da Vinci ou Van Gogh. Não é segredo para absolutamente ninguém.
Infelizmente, sim, me fizeram " trocar meus heróis por fantasmas". Bom mas que culpa eu poderia ter se todos os meus ídolos estão mortos? É natural que virem fantasmas.
Não, não tenho preferências por cores, senhor. E não aprovo a ordem cronológica. Na verdade, lancei um projeto: os relógios deveriam caminhar ao contrario. Assim, com o tempo a regredir. Daí você diria " faltam cinco minutos para acabar as 15h ". Inútil, mas genial ( mas ai eu fico pensando se as pessoas também não seriam como Benjamin Button).
Não sou prepotente, creio. Nunca me disseram. Em uma aula que me agrade muito costumo não participar nem lançar ideias. Como se não me importasse quando é absurdamente o contrário. E é verdade que tenho certa dificuldade em demonstrar satisfação.
Quando estão a falar de um assunto, senhor, que - modestamente- tenho certos conhecimentos, costumo não interferir na conversa.Ora por que! Pois sempre tenho a impressão que me tomariam como orgulhoso e vaidoso !
Como pergunta? Se conheço Mick Jagger? Obviamente, senhor, quem não o conhece?! Não, nunca tive ganas de passar-lhe o rosto a ferro.
Ora essa! Que pergunta indecente! Não, me recuso a responder. Admito, também, que chorei quando Patrick Swayze morreu. Também tenho inveja de quem viveu os anos 80. E todas as outras décadas anteriores. Percebo pelos fios que o senhor viveu esses anos. Logo, tenho inveja do senhor.
Confesso que tenho quedas por esses musicais, em que todos dançam juntos e ordenadamente. Confesso, também, que tenho certa curiosidade em ler Byron.
Mas é claro que não! Não me atrevo a interpretar as entrelinhas de um poema!
Preencha na ficha: Astronauta de Mármore. 5 anos-luz. Lua. Profissão? Navegador de Estrelas. O Objetivo no mundo? Bem senhor, essa é a pergunta mais difícil que me fez até agora. Mais que a tal pergunta indecente. Mas veja bem, acho que meu objetivo no mundo é...talvez..por que não? (não, não vou dizer "ser gauche na vida") Notar detalhes ignorados?

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Narrativa esquizofrênica.

-Feche as cortinas encarnadas.
Teve a leve impressão de que sua consciência lhe dava ordens. "Curioso". Fechou as cortinas, então. Tornou a sentar em sua poltrona e ficou a observar, no escuro que fosse, as franjas do tapete. Era persa, isso era. Comprara de por alguns contos de um mascate logrador.
O relógio, com o índio americano talhado , badalava de pouco a pouco. "Já chega, já", dizia consigo. "Daqui a pouco ei de escutar o toc-toc".
Dizia isso e concordava consigo mesmo. Ótima hipótese. Sim, senhor Marques, notável. Lembrou-se que na mezinha de canto havia um livro com palavras de Byron. Esticou o braço e já sentiu a capa.
-Não vai ler Lord Byron, vai?
Ai percebeu que era o índio que lhe falava. Não a consciência. "Por que não leria?"
- Ele falava sobre necrofilia. Já é um bom motivo.
"É literatura. Já é um bom motivo".
Começou a ler na escuridão. Tateando as páginas, assim como um cego.Não que não o fosse, bem sabe, de mente.
Com o canto dos olhos olhava furtivamente os raios lunares que viam espiar seus aposentos pelas frestas da cortina. "Curiosos". Foi até ela e certificou-se de que não sobrara nenhum espaço. Enquanto fazia isso, viu lá em baixo no beco, um gato magricela sentado frente a um rato. Pareciam conversar. Sim estavam. O rato parecia desesperado, apontando para uma direção. O gato curvava-se e aproximava-se do rato para escutar melhor seus grunhidos.
Provavelmente viram o sr. Marques e olharam para cima. Rapidamente ele fechou de todo a cortina antes que decidissem subir pedir satisfações.
- É isso que dá ser curioso, Sr. Marques - disse o índio.
" A curiosidade não chegou aos Apaches?" perguntou irritado.
-Não deu tempo. Mataram-nos antes. Agora, seu fosse o senhor me esconderia.
O homem ficou parado , no fundo da sala, encarando o índio de longe. Talvez tivesse razão. Pois é certo que logo escutaria o toc-toc.
- Mas o toc-toc do gato. E do rato, o que é pior.
"Ah cale-se. Escute: estão subindo".
-Tranque a porta.
Antes de trancá-la abriu uma festa de modo a ver o gato e o rato já subindo as escadas com as duas pernas de trás. Trancou-a, então. Não demorou muito para ouvir o toc-toc.
Toc-toc.
"Quem é?"
Mas ninguém respondeu. "Armadilha". Na certa.
Entrou em baixo da mesa equanto contava, por algum motivo, em números ordinais.
-Sabe que dia é hoje?
"Quarta-feira".
-Exato . É quarta. O relógio já bateu a hora morta. O toc-toc sabe? Você ouviu. Não era o gato nem o rato.
"Então era a hora morta na porta?"
-Não, era só a morta.

Dependente e infeliz

Tudo começando de novo. Torturosamente doloroso. Agonia.
Preso, numa cela. Vermelho, vermelho, vermelho. Algo se mexe no canto, entre teias de aranha. Um som molhado emana do desconhecido, um misterioso som nunca escutado por esses jovens ouvidos.
Aquele som ressoa por todo esse mal iluminado e estranhamente vermelho-vivo alçapão abandonado. O que seria isso, me pergunto. Mexe-se novamente o duvidoso objeto (?). Um cheiro perfumado tão bom se evapora de sua superfície, memórias antigas se passam por minha mente, como se este fosse o cheiro do ar que sempre respirara. O que é isso, Senhor? Apavoro-me e afasto-me.
Batidas se repetem, como os tambores de Mória, TUM TUM. TUM TUM. Meu medo aumenta a cada batida, mas a cada batida esse indefinido ser parece diminuir. Vejo agora escapar-lhe um líquido também vermelho, agonizo-me. Quase enlouqueço-me. TUM TUM.
Senhor! O que é essa aberração à minha frente?! Qual a razão dessa vermelhidão empoeirada? TUM TUM. Chega! Chega dessa maluquice! Aproximei-me da criatura acolhida ao canto escuro. Estava ensopada, mas não continha pelos. Suja e rejeitada, não continha olhos nem boca.
Cada vez mais altas as batidas, meus olhos se aventuraram a se aproximar. Se mexera, Deus!, gritei, e chutei-o, na surpresa. Ouço menos. Tum T-. Tum T-. Um som falho. Mas que diabos é esta criatura, e o que ela faz nesta prisão em que me encontro?!
Ando em sua direção, cautelosamente. Meu corpo se aquece, minha mente sai de meu controle. Agarro-o com os braços, seguro-o como a um bebê. Balanço-o e acaricio-o. Reconheço instintivamente o que é aquele bicho há tanto tempo esquecido por mim!
Meu coração!
ACORDO EM SALTO. Foi tudo um sonho. Apenas… um sonho. Mas, a partir deste sonho, deste abrupto levantar, eu percebi que, depois de tantos anos de luta e convencimento de tudo ser passado, eu percebi que a amo. Que nunca deixei de amá-la, e que tal coisa é impossível. Sempre pensarei em você com mais amor do que devia, independente da distância (física ou temporal). Dependentemente e infelizmente, lembrarei de você, meu amor.

domingo, 8 de maio de 2011

Essa menina tá dizendo "sim", eu sei

Sou eu que começo?

Jackie foi a definição que ganhei desde, sei lá, a minha existência nesse mundo. Por tantas vezes mascarada, quem sabe eu tenha me encontrado só agora, e por isso mesmo vocês é que deveriam me conhecer melhor. Me sinto mulher, penso como homem. Dá para ter uma sexualidade bem ortodoxa assim? Meus ex's garantem que sim. Espero que vocês também.

De vez em quando um divã cai bem e em tardes ociosas filosofarei por aqui sem hesitar. Um drop de vez em quando, uma dose noutras, pois, tem coisa mais complicada que escrever? Você nunca sabe se o leitor vai entender, e o leitor muito menos sabe se entendeu direito o que aquele autor louco pôs no papel. É uma equação complicada, mas na base de um "colírio alucinógeno" tudo funciona bem.

Sigo o movimento de rotação da terra sempre que possível, mas, meus caros, isso é tão chato. E nem sempre é tão possível assim. Já que não estou concorrendo para Rainha da Personalidade, me despeço já. Com todas as roupas e todos os adeuses, por enquanto.

Desejo abusar da palavra, pois cada um recebe agora a chave para me visitar por dentro.

Um sincero e dolorido beijo a todos.

Pouco a pouco, a loucura.

"JJ e Lionel foram, então, mandados para base do exército a fim de receberem a devida preparação, e eu fiquei - meio deprimida, meio revoltada - à procura de algo que afastasse meus pensamentos daquele dia que eu rezava para que nunca chegasse: o da partida definitiva.
Há uma pessoa que ainda não mencionei - talvez por não ter encontrado o momento certo - Catherine era o nome dela, era a namorada de Lionel e minha melhor amiga. Cathy, como a chamávamos era um anjo em pessoa, dona de uma generosidade incansável, e infinitas vezes mais sensata e equilibrada do que eu.
Catherine aceitou com tamanha compreensão a ida de Lionel à Guerra que causou-me inveja, não se isolou em um quarto e, menos ainda, despejou lágrimas e xingamentos como eu fizera, apenas aceitou a decisão e guardou seu sofrimento para si. Foi Catherine quem esteve ao meu lado nos momentos mais difíceis e que me impediu, por várias vezes, de cometer um desatino.
É uma pena que nossa amizade tenha se perdido pelo caminho, e se perdido por um motivo que eu simplesmente não consigo me lembrar, é como se num momento existisse Catherine e em outro, não existisse mais. A dizer a verdade, é assim com quase todos meus entes queridos, como se houvessem apagado suas vidas de minha mente, restando-me apenas um pedaço delas. Não sei o que houve com Lionel, nem com Cathy ou com papai...Oh Deus, nem mesmo de seus rostos consigo me lembrar!.."
Neste momento cai em um desespero tão grande que Matthew se viu obrigado a sair de sua posição costumeira de ouvinte e tentar me acalmar. Ele segurou-me com uma das mãos e com a outra acariciou-me os cabelos, dizendo-me que me acalmasse e que eu não estava sozinha.
Bastou essa frase - eu não estava sozinha- para me trazer de volta à realidade e retomar a história, mesmo que naquele momento eu mesma começasse a duvidar de minha sanidade.

sábado, 7 de maio de 2011

Não se esqueçam jamais, crianças: a vida é um pesadelo em que muitas vezes confundimos com um sonho. Quando tudo se equilibrou, não se engane, é só mais um truque infernal dos humanos para nos deixar felizes por apenas alguns segundos. Antes que tudo desmorone denovo.

Como numa vez já disse o monstro-conhecedor-da-vida, Millôr Fernandes, "toda alegria é assim: já vem embrulhada numa tristezinha de papel fino".

E que isso fique bem claro.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Extremidades

Eu sei que a primeira vez que nos encostamos foi involuntário, mas também foi como se soubéssemos que aquele ato nos cativaria de uma forma única e eterna. O enlace de dedos nas mãos de duas pessoas não é a representação perfeita de que o amor ficou fifty fifty, compartilhado? E é assim mesmo que deve-se ser?

Entendo que os dedos tenham lá suas mil-e-uma utilidades, mas eles podem trazer sérios riscos à sua saúde mental, quando o caso é a saudade. Saudade de sentir um aperto, um abraço, um arranhão, uma carícia, um cafuné no domingo à tarde e até mesmo a saudade de quando os dedos dizem "shhh" enquanto você fala demais.

Seus toques ainda me machucam, porque cada um deles jaz meu coração em uma lembrança tão triste... A saudade é mais ou menos isso: a angústia que deixa um gosto ruim na boca, é não saber o que fazer e, ainda assim, difícil de admitir. Difícil de aceitar que somos só metades, e me nego a isso, nunca quis a simplicidade do nosso amor. São os dedos que nos aprofundam, lembra?
É por essas que outras que tantas recordações complicam meu velho desejo: o de mover seu mundo com os meus dedos. Sem cansar.

O pão que a velha amassou.

Na rua de minha casa havia uma padaria. Nenhum nome mais criativo do que algo que termine com "Pane", "Belle" ou qualquer outra palavra italiana que vemos aos quilos ( de pão!) nas panificadoras. E também não possuía nenhum balcão recheado de doces feito no dia anterior. Não, nada disso. Era só uma padaria. E havia pães.
E além de pão havia uma velha. Ela era gorda, tinha algo em torno de meia dúzia de dentes, esmaltes corroídos nas pontas e seios grandes. E acreditam ou não, era ela que fazia os pães. Eu comprava na minha ingenuidade infantil de que existem bactérias e clorifórmios fecais no mundo.
Mas eu sempre admiti que o pão era importante. Ele sempre foi mais que trigo e Pó Royal (desde 1920). Ele é a base da pirâmide alimentar! E sendo pirâmide uma figura geométrica digna de respeito, o pão não poderia ser diferente.
Alguém já parou para pensar o quanto o Pão ( letra maiúscula, sinal de respeito) é ancião? Desde primórdios, desprovido de fermento ele estava lá! Nada mais nada menos que Leonardo da Vinci já o retratou e ainda mais na Santa Ceia. Ele foi símbolo ( e é) do corpo do próprio Cristo!
Aí você me dirá: " mas Astronauta, Cristo também multiplicou peixes". Sim meu caro, mas não é peixe que os católicos comungam todos os Domingos.
Não! Nada disso! Não há argumentos que diminuam a grandeza do Pão. Ele também está presente em orações e em ditados populares. Madruga todos os dias para estar em nossa mesa às seis horas da manhã! Ele é o principal exemplo de carboidrato usado na escola!
Enfim. Eu comprava os pães daquela mulher. Praticamente todos os dias. Sem saber a procedência. Mas alguns dias atrás, parei e pensei: quando se trata de pão parece que não nos importa a origem. O Pão simplesmente é. Ele é tão nobre que faz-se por si só!
Ele estava na boca de Audrey Hepburn na cena inicial de bonequinha de Luxo!
Bom, o Pão é um alimento tão velho quanto a velha que o fazia naquela padaria. O Pão é velho, mas nunca sai de moda!
Sim, eu comi o pão que a velha amassou.

Base Militar, 10 de julho de 1968

Helena,

Peço encarecidamente que me perdoe pela ausência de cartas e pela angústia que devo tê-la deixado sem notícias, nem minhas nem de J.J. Mas lhe peço também que mande-me, assim que possível, uma foto de Catherine pois perdi a minha em algum acampamento.
Ah , irmãzinha, tenho fé em Nosso Senhor que não se demora o findar dessa guerra que nos perturba e causa diariamente a morte de tantos inocentes. Temo principalmente pelas crianças. As pobres mal entendem o que se passa; existem ainda aqueles que mal deixaram o seio materna e já se vêm meio a sangue.
Fiquei mais tranquilo por saber que papai conseguiu negociar sua liberdade. Sei que lhe causa revolta essa dependência, mas saiba que se tivesse me escutado, Helena, não necessitaria de passar por isso.
Sim, querida, J.J se recupera bem e manda lembranças acaloradas. Não perca suas noites a imaginar se a Guerra, além de arruinar a todos, também arruinará seu relacionamento com ele. Digo verdadeiramente que não acredito nisso.
Rezo todas as noites, mesmo de arma em punho, pela nossa família. E creio que Deus está a iluminar e proteger a todos nós. Amanhã antes mesmo de raiar o sol , partiremos em direção ao centro do país. Aconteceu mudança nos planos com a morte de nosso capitão na emboscada que os inimigos armaram na última operação. Estou com medo, Helena. J.J diz que não mas não o acredito. Peço que ore por nós e por nossas almas. Diga a Catherine que a amo e que estou a pensar nela todas as vezes que ela também pensa em mim. Diga também que ela olhe para a Lua todas as noites, pois eu também estarei olhando e isso faz parecer que a distâncias se encurtam.

Seu irmão,
Dança Com Lobos.

Oh, the Madness

Hey there you, who lives now so far away from my heart. You realize that this distance won't ever break our so meaningfull connection, 'cause I KNOW that you'll be here, by my side, for ever and ever. Even if this words mean nothing to you, I believe they will live for ever in the love that lies headen in your soul, im My Soul. Or just in The Madness that dominated my Mind...

terça-feira, 3 de maio de 2011

O Bruxo do Cosme Velho.

Não preciso de muito para expressar aqui, em uma palavra, ou talvez mais, minha perplexidade diante do Bruxo do Cosme Velho. Este distinto senhor causa no Astronauta calafrios e sonhos estranhos na hora morta. E a sensação de embriaguez diante deste senhor é tamanha, que vejo em cada semblante marcado pelos anos e em cada ruga de tempo um Bruxo do Cosme Velho.
Mas que fique claro que a perplexidade é muito bem vinda. Por ele e diante dele não tenho outra sensação senão essa mesmo.
Já fui interrogado, inúmeras e inúteis vezes, a respeito de meu interesse em idosos. E não há melhor resposta que esta. Interesso porque vejo em cada um, um quê machadiano. Um quê literário e de pessoa sabida das coisas. Ainda mais sobre a arte do não viver. E arrepender-se.
Os idosos, para mim, exalam Machado de Assis. Ainda mais, eles transparecem século XIX. Não que eu conheça alguém com essa "data de fabricação", pelo menos não no mundo material. Mas como já dizia Lennon, se você acredita, qualquer coisa existe e é real. Sob essa lente, então tenho amigos, de longa data, que vivenciaram esse século de alma, e moram logo ali, em meu guarda-roupa.
Não digo simplesmente que admiro Machado de Assis ou que o considero gênio. Digo somente, e modestamente, que o compreendo e o vejo. Vejo o bruxo que morava dentro dele. E vejo também essas tantas faces que ele foi; cigano, seminarista, cão, defunto-autor( ou autor-defunto), cartomante...
Mais que tudo, o Machado vive. Vive em minha mente empoeirada e coberta de teias de aranha e que eu não faço questão alguma de limpá-la. Dentro de minha redoma vejo o mundo como me convém.Logo, vejo o século XIX. E que cada um interprete à sua maneira o que eu quis dizer com isso.
Têm-se, então, que meu fim evidente não é outro senão enlouquecer enquanto converso - agora sim de corpo e alma - com meus amigos de 1800. Vejo que meu fim evidente vai ser tão empoeirado de livros e traças quanto minha mente já é. E o leitor pode ter absoluta certeza que não desejo tanto outro fim senão esse.
Que o pó me seja leve!

P.S: peço escusas à meu amigo O Hobbit. Sei que disse que escreveria sobre o tema que o senhor meu amigo sugeriu, em meio à equações matemáticas. Porém, tive uma inspiração repentina e uma crise de adoração pelo Machado, e quando se tem tamanha inspiração não se pode deixar passá-la. Prometo-lhe que o próximo tema será o escolhido pelo senhor.