quinta-feira, 5 de maio de 2011

Base Militar, 10 de julho de 1968

Helena,

Peço encarecidamente que me perdoe pela ausência de cartas e pela angústia que devo tê-la deixado sem notícias, nem minhas nem de J.J. Mas lhe peço também que mande-me, assim que possível, uma foto de Catherine pois perdi a minha em algum acampamento.
Ah , irmãzinha, tenho fé em Nosso Senhor que não se demora o findar dessa guerra que nos perturba e causa diariamente a morte de tantos inocentes. Temo principalmente pelas crianças. As pobres mal entendem o que se passa; existem ainda aqueles que mal deixaram o seio materna e já se vêm meio a sangue.
Fiquei mais tranquilo por saber que papai conseguiu negociar sua liberdade. Sei que lhe causa revolta essa dependência, mas saiba que se tivesse me escutado, Helena, não necessitaria de passar por isso.
Sim, querida, J.J se recupera bem e manda lembranças acaloradas. Não perca suas noites a imaginar se a Guerra, além de arruinar a todos, também arruinará seu relacionamento com ele. Digo verdadeiramente que não acredito nisso.
Rezo todas as noites, mesmo de arma em punho, pela nossa família. E creio que Deus está a iluminar e proteger a todos nós. Amanhã antes mesmo de raiar o sol , partiremos em direção ao centro do país. Aconteceu mudança nos planos com a morte de nosso capitão na emboscada que os inimigos armaram na última operação. Estou com medo, Helena. J.J diz que não mas não o acredito. Peço que ore por nós e por nossas almas. Diga a Catherine que a amo e que estou a pensar nela todas as vezes que ela também pensa em mim. Diga também que ela olhe para a Lua todas as noites, pois eu também estarei olhando e isso faz parecer que a distâncias se encurtam.

Seu irmão,
Dança Com Lobos.

Um comentário:

O Hobbit disse...

Sei que não devia, mas dos recentes textos e histórias, a sequência, quase como a de um livro feito apenas de cartas, me fascina. A história de J.J., Helena e de Dança com Lobos é mais comovente do que aparenta, pois vem acompanhada de um brusco momento histórico, e, em minha opinião, até este relato, mostra a superioridade da vontade de viver à da vontade de matar.
Contemplativo,
O Hobbit.