segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Carta para uma velha amiga.

Parado observando aquele vasto e escuro lago, senti uma calmaria estonteante, poderia ter morrido naquele instante que não ligaria, todos os laços haviam sido cortados, era eu e apenas eu.

Como é lindo o anonimato da morte, alguns se desesperam em pensar em um mundo que não se lembrasse deles. Mas geralmente, essas são as pessoas que não fizeram diferença nem em vida, por que então ligar para a morte? Seria apenas a continuação de suas vidas...

Por outro lado, alguns dos grandes sábios, e eu não me encaixo nesse grupo, apesar de terem de fato vivido, não temem a Eterna Companheira, tratam-na como amiga, e convidam-na a entrar, tomam com ela sua ultima xícara de chá, e talvez por isso ela lhes poupe por mais alguns instantes, mas ao estender o braço da inexistência Ela os trata com carinho, e não há sofrimento.

Como diria Platão, há duas possibilidades, ou a morte nos leva a um descanso eterno e invariável, como um sono dos imortais ou existe algo, mais magnífico e incrível do que qualquer coisa que imagine-mos, em ambos os casos.. não há o que temer.

No primeiro, deve-se lembrar que não ligaremos por não existir, se não existirmos, não haverá nenhum tipo de sofrimento, só paz.

No segundo, creio que o mais tolo dos tolos entende que não deveríamos temer qualquer coisa que exista.

Minha opinião sobre o que existe, se existe? Não a tenho formulada, e talvez nunca a tenha, ou se tiver não a compartilharei, mas não acho que isso mude as coisas, não saber o que se passara não torna as coisas piores, na verdade transforma a morte num desafio incrível, numa jornada inevitável, que mesmo que me fosse possível eu não evitaria.

Antes de temer morrer, temo viver! Não se deve passar a vida com medo da morte, e se esquecer de que para temê-la, você deve ter medo de perder algo.. mas se voce nada tiver, porque temê-la?

Por isso não tenho nem medo de você, querida escuridão, nem remorso ao conduzir alguém aos seus braços.

Que quando a hora de nos encontrarmos chegar, que possamos sentar e conversar, apreciando um café que preparei especialmente para a senhorita.

Com muito amor,

Seu querido Kanibalas Kunigas.

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