quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Vietnã, 20 de maio de 1968

Texto 1


Helena,


Para o inferno com a guerra! E isso é quase um pleonasmo! Tinha razão, minha irmã. Como sempre soube que tivera. Odeio a guerra assim como odeio a mim mesmo por fazê-la possível! Estou farto de homens sedentos de sangue, de mulheres à deriva, jogadas à sarjeta dessa cidadezinha mais pútrida que a prórpia situação. Desprezo e cuspo em cima de qualquer flâmula que incite à guerra pela guerra. O ódio pelo ódio... mas é esse mesmo ódio que me toma agora! Ora, que espécie de animais somos?
Deixe que eu respondo: somos os que tornam possível a concretização da teoria o Homem é o Lobo do Homem. Deixamos que Hobbes esteja certo! Aqui, nesse purgatório, eu vejo, eu posso ver! Somos o homem que mata o homem, por pura afeição a desgraça. Somos os que encontram satisfação sexual no sofrimento alheio. Somos o lixo do mundo!
Mas ao mesmo tempo, irmã - e ai de mim! - somos os que amam! Como seria isso possível, Deus meu? A mesma vil carcaça possuir também uma alma capaz de amar! E como ama...
Não, não me chame de simpatizador de Schopenhauer ou pseudointelectual do existencialismo... pois sei que o fará! Apenas estou farto! Farto de despertar todas as manhãs em uma cama asquerosa e encarar a morte a cada esquina. A Morte em todas as suas formas, Helena!
Ontem mesmo; equanto tomava meu posto, uma garotinha de não mais de oito anos aproximou-se de mim com seu único braço, e a noite peguei-me a buscar em minha mente sinais de que talvez eu pudesse ser seu mutilador...O que seria isso senão o Inferno, minha irmã? Vejo no rosto de meus comandantes o prório Diabo e me convenço.

Em meio a essa carta cinzenta, espero de coração que todos estejam bem em casa.


Do seu irmão que lhe ama,
Dança Com Lobos.


P.S: caso uma das cartas não chegue à América, eu e J.J mandamos a carta de cada um e a do outro.

Nenhum comentário: