quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Nada sob o Sol.

Disseram-me que eu parecia perturbado. Que há tempos não entreviam parte de meus dentes, em um sorriso fora de foco. Alegria já era palavra esquecida e devidamente bloqueada de meu vocabulário. Existira, uma vez, em um passado nem tão remoto; talvez pudesse visualizá-la algumas vezes, quando fechava os olhos para dormir . Mas acredito que quando a visualizava já estava adormecido...
Os motivos, nunca disse ao certo. Não que não desejasse, faltava-me platéia. As cortinas da oragem se abriam mas apenas as cadeiras estavam lá, imóveis, sem expressão.
Acontece que era triste. Mas não deixei de forçar, uma vez ou outra, os enferrujados músculos da face, num esforço desesperado e monótono. Porém, não consegui mais que um sorriso amarelo. Pois só quem conhece e admira verdadeiros sorrisos sabe que são divididos em tipos e subtipos.
O meu era da classe dos amarelados de tristeza. E a razão que fazia brotar lágrimas nos olhos não era a mesma de um Pierrot ao ver sua Colombina entrelaçar outros dedos. Contudo, muda-se o contexto mas não completamente o personagem.
Na mesma ordem do poema: "do riso fez-se o pranto". Do tempo em que podia-se compartilhar de meu riso infantil , sem necessitar que eu fizesse algo especialmente cômico. Aquelas crianças riam de mim, de pequenos detalhes, e ao começarem a rir, riam de seu riso esganiçado abafado pela lona amarelada. Assim, várias e várias vezes, de modo exagerado , quase insano. A tinta branca em minha face escorria, mas não pelas lágrimas, mas pelo suor do trabalho de fazer sorrir...
Mas aí vieram os anos, e cruelmente varreram as crianças e a lona. E sempre qundo pouso a cabeça em meu travesseiro , torno a lembrar que eles esqueceram de varrer alguém : este palhaço sem platéia. Esse #detalheignorado.

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