terça-feira, 26 de abril de 2011
Gênesis canino : um delírio.
Hoje, tomado por um tédio desmedido, irritei-me com a primeira pessoa do singular e decidi descobrir as maravilhas da 3ª. Pra tal exploração não pude abrir mão de certa maluquice neste post e que já começarei antes que o "eu" me leve ao ápice do estresse.
Ei-lo:
Em um certo ano, de uma certa época em um planetóide ainda não explorado, existia um cão. Esse cão tinha um nome excepcional, palavra desdenhosa e difícil de ser pronunciada pelas espécimes vitais do local. Chamava-se O Cão.
O Cão ( substantivo próprio) sentia-se sozinho em meio à projetos de felinos. Lembrou-se, então, de um certo osso que tirara da perna esquerda de um individuo não identificado ( e que aqui não vale lembrar) e que enterrara no Royal Botanical Garden. Desenterrou-o. Lambeu-o. E assim, no findar do primeiro dia, fez-se o Homo Neanderthalensis.
O cão (agora só substantivo) disse ao Homo - criatura muda - que seriam sempre amigos e, como seu criador, concedera a ele uma porcentagem da sua dádiva da fidelidade. Fidelidade esta que o cãozinho até então não pudera utilizar com ninguém.
Ao passar do tempo, as duas espécies conheceram-se, trocaram confissões... até que Homo passou a desenvolver traços do que seria muito posteriormente chamado de caráter. Infelizmente, o caráter do Homo não assemelhou-se à de seu criador. Pois não fora feito à imagem e semelhança.
A Seleção Natural, contudo, estabelecia a permanência dos mais sensatos e bons. Sabendo disso, O Cão, preocupado com seu filho, foi ter com a Seleção, criatura racional e puramente Darwinista que não deu ouvidos a ele. Mais que isso : decidiu que chegara a hora de testar Homo. Para tanto, disse a ele que o transformaria em Homo sapiens sapiens se experimentasse de um fruto esverdeado de nome Dinheiro. Com sede de evolução, Homo experimentou-o, mesmo tendo seu Pai avisado-o a respeito dessa tentação apenas existente no Royal Botanical Garden e feito-o prometer.
Homo não cumpriu a promessa. Partiu o coração do pai. E não evoluiu até hoje!
P.S: após escrever este texto, descobri a existência de uma passagem do livro do Genesis de título, ' A maldição de Cão".
segunda-feira, 25 de abril de 2011
The Wall
sexta-feira, 22 de abril de 2011
Omnia gaudent
When the stars seem out of reach
quarta-feira, 20 de abril de 2011
Sou do tamanho do que vejo. Não do tamanho da minha altura.
Estou um pouco encantado com a biologia de alguns anos-luz para cá. Eis que o Astronauta assistia à um desses documentários bem conceituados. E era sobre nanismo. Anões primordiais e assim por diante. Não, não farei nenhuma piada a respeito de enterro de anões. O assunto é um tanto mais profundo que a logia das piadas.
Esses homenzinhos notáveis são mais altos que muitos jogadores de basquete por ai! Preciso colocar aqui, em palavras e claramente, minha admiração por estes seres humanos, pequenos só no tamanho.
A velha frase infantil cabe muito bem aqui : " tamanho não é documento". Parei para raciocinar o porque de nós, homo sapiens, medirmos tudo. E criar tantas unidades ...Pois, você sabe, o Himalaia possui nada mais nada menos que sensacionais 8848 m ( 29029 pés) e 2600 km de comprimento. A Torre Eiffel possui seu modestos - mas não menos importantes - 324 m. Que o animal mais alto do mundo é Girafa, com seus esbeltos 9 metros. E quem diria que o Guepardo pode chegar a 110km/h!!
Pois é, é incrível o quão alto e rápido as coisas terrestres ( ou não) podem ser. Mas isso não responde a questão. Um anão primordial pode ser tão baixo quanto um pneu de carro ( não resisti: 50 cm) mas porque não medimos a alma? O caráter? Ou melhor, a força de vontade? Porque, ai meu caro, haja fita métrica! Voltando ao início, o Astronauta aqui ficou encantado com a habilidade desses anões em levar um vida normal e orgulhar-se de si próprio. Encantei-me desde os fatores de probabilidade genética para um gene recessivo até com as questões sociais e adaptativas pelas quais essas pessoas passam.
Disse para minha colega Mrs Havisham que meu próximo texto seria a respeito de nanismo, mas ela pareceu não crer. Aqui está Havisham! Nunca imaginei que nesse universo tão imenso (com pelo menos 156 bilhões de anos-luz, sendo 1 ano-luz igual a 9,5 trilhões de km) eu pudesse me interessar por um assunto - com o perdão pela piada- tão pequeno!
É porque assistindo o tal documentário conceituado eu fui entender, em um misto de ciência e poesia, do que falava Fernando Pessoa: "Um outro compreende as limitações do companheiro,
percebendo que cada qual caminha em seu próprio passo. E que é inútil querer apressar o passo do outro, a não ser que ele deseje isso. Cada qual vê o que quer, pode ou consegue enxergar. Porque eu sou do tamanho do que vejo. E não do tamanho da minha altura." E acredito que os anões entendem muito melhor o poeta do que nós, que temos mais que 1,5m . Inúteis, agora.
P.S: quem quiser saber mais a respeito do Nanismo Primordial, e se encantar junto com o Astronauta, clique aqui.
terça-feira, 19 de abril de 2011
Um longo texto para uma longa história
Ainda consigo me lembrar da fria mão de meu pai que segurei com minhas mãos, ainda consigo me lembrar da bochecha fria que beijei com meus lábios em seu velório. Foi um bom velório, tinha um bom chá, um dos melhores que já tomei, bons amigos participaram dele e me levaram para um jogo de truco e risadas. As flores, várias coroas, esbeltas e brilhantes, vermelhas, amarelas, azuis; todas vindas de pessoas que sentiriam sua falta. Todas belas, mas confesso que as melhores eram aquelas que repousavam junto a ele em seu caixão, brancas e limpas, relembrando a salvação eterna, a liberação da alma.
Lembro-me que tínhamos brigado há pouco antes de ele ser hospitalizado, lembro-me que nunca tive a chance de desculpar-me. As lágrimas que derramamos, minha mãe e eu, em súplica para ele tomar seus remédios, implorávamos em frente a sua cara fechada e amargurada pelo amor e alegria que estava trancado por sete chaves negras dentro do calabouço de seu coração. Sem sucesso. Íamos para Piracicaba, almoçar com nossa família, mas sua depressão e os remédios que não tomava o impediam e o prendiam em casa. Saímos com nosso carro, minha mãe e eu, mas voltamos após apenas alguns metros, sem podendo deixa-lo lá sozinho, naquela mansão abandonada.
Lembro-me que acordei, em um outro sábado, se não me engano, quase normal. Estava na sala, assistindo meus desenhos e tomando meu café simplório da manhã, quando escutei gritos clamando por ajuda. Corri as escadas, segui o som que me encaminhava para o quarto de meus pais. Encontrei minha mãe por cima de meu pai, meu irmão e ela segurando seus braços debatendo, branca espuma saindo-lhe por entre os dentes cerrados. Ouvi uma ordem de minha mãe, e meu irmão levara-me para fora do quarto. Esperando sentado no branco banco de madeira, similar aos das praças, em frente à copa, com as mãos no rosto e lágrimas fugitivas, ouvia as sirenes e via meu desesperado tio Ricardo tentando interromper o tão despreocupado tráfego da avenida.
Fora ao hospital e lá ficou, até receber alta, finalmente. Foram tristes dias aqueles em que esteve fora, dias de preocupação e tensão palpável. Nada ainda de tomar os remédios, passaram-se, imagino, duas semanas e lá estava meu pai em convulsão novamente. Fora levado ao hospital.
Prometera-me, muito antes disso, que um dia leria para mim um texto, chamado “Se”, de Rudgard Hipling e traduzido por Guilherme de Almeida, que está agora pendurado no corredor de minha atual casa e antiga dele. Nunca chegou a lê-lo para mim, mas por não haver tempo, fora cedo demais. Eu apenas espero que ele, onde quer que esteja, não fique pensando nisso como uma má coisa, pois aprendi a me virar e o li sozinho. Belo texto, bem escrito, profundo pensamento. Apenas espero que não esteja se martirizando, pai, meu amor por você não se baseia nessa leitura. Eu ainda o amo, e, acredite, suas “dívidas” são inexistentes, pois nunca existiram, e, se existissem, elas seriam repletas pelo amor que com certeza ainda me dá, e pelas lágrimas de meu pesar. Pesar de não tê-lo ao meu lado, mas também a esperança de encontrá-lo ao lado de Deus. Se formos realmente pensar, eu lhe devo, e devo muito. Devo mais do que possa imaginar, meu querido.
Como disse, antes de divagar, ele voltara ao hospital e fomos fazer uma visita. Enquanto esperávamos ser chamados, conversávamos, quando, me lembro bem, minha tia Maine me perguntou se eu tinha certeza se queria entrar na sala, pois meu tutor estaria com um respirador e fios conectados à pele. Como maneira de poupar a mim mesmo da dor, de forma egoísta, achei melhor não entrar, não vê-lo. Minha contagem deve estar errônea, mas dois dias depois, ele se foi. Se foi, e agora eu sempre fico na dúvida, que, se eu tivesse entrado no quarto, conversado com ele, pedido sua sobrevivência em nome de meu amor, ele teria vivido? Sempre me pergunto se ele imaginou que eu não o queria ver, por conta de nossa briga, nossa inútil e estúpida briga. Pergunto-me sempre se apenas a minha presença o teria feito lutar mais um pouco. Nunca me esqueço disso, e é por isso que, sempre que há alguém hospitalizado, eu nunca mais desperdicei uma visita. Tive que aprender da pior maneira.
Agora, fico relutante também, pois minha não-Crença em Deus significaria que eu não tenho chance alguma de encontra-lo novamente em algum momento, qualquer momento. Pergunto-me se devo contrariar-me e acreditar em Deus para ter a chance de vê-lo, ou ser verdadeiro a mim mesmo e nunca mais poder vê-lo. Lembro-me que o vi, um dia, na casa de minha vó, como um reflexo na porta de vidro, no mesmo lugar em que batera quando menor na parede ‘invisível’, sua faze estava límpida e feliz, vendo-me, sem seus óculos, admirando-me. Vi seu reflexo, assustei-me, virei para procura-lo, não encontrei nada, ao voltar-me ao vidro, sumira novamente. Outro dia inesquecível. Meu amigo, considerado meu irmão negro, Adeilson, é o que poderia recorrer a esse acontecimento, por ele acreditar em espirítos na Terra, e pela possibilidade de minha mãe entristecer-se em meio a essa noticia. Me ajudara como pôde, me dissera o que achava, me aconselhara. Obrigado, Adeilson, amado amigo, agora longe em São Paulo.
Apenas saiba, Pai, eu o amo e sempre o amei, gosto de pensar que não é a morte que nos separa, apenas dois mundos diferentes. Nossos corações devem provavelmente mais próximos do que imagino. Não sinta que você tenha ainda algo a fazer, vá e liberte-se, eu o encontro do outro lado, meu amado.
Nostálgico, amargurado e feliz por lembrar de tantos fatos,
O Hobbit
PS: Minha memória é um pouco turva sobre esses momentos, então, perdoem-me se eu me enganei em alguma parte, principalmente o terceiro e quarto parágrafo. Qualquer objeção que minha família possa ter em base do texto, acredite mais nas palavras deles do que as minhas. Desculpem pelo gigantesco texto, foi inevitável.
domingo, 17 de abril de 2011
A decisão de Lionel e JJ
Eu não conseguiria descrever o impacto daquela noticia, o chão sumiu debaixo dos meus pés, lembro-me de ter ficado alguns minutos em silêncio e, quando voltei a mim, passei a caminhar de um lado para o outro, soltando frases desconexas, tentando entender o por quê.
JJ e Lionel tentaram me explicar mas não permiti, não havia nada que pudessem me dizer, eu simplesmente não compreendia. Lutar numa guerra sem causa?Arriscar a vida por um país que abrigava tantas injustiças e preconceitos, características estas que tanto revoltavam aqueles dois corações? Nada disso parecia fazer sentido.
Como eu poderia aceitar ser abandonada por duas das pessoas que eu mais amava na vida?Como eu poderia carregar todos os dias a angústia de não saber se voltariam vivos? Não, aquilo era demais para mim.
Disse tudo isso a eles e olhei para meu pai, à procura de apoio, mas este parecia prostrado pela noticia, o abandono do filho talvez reacendesse as lembranças do abandono da esposa, deixando-o sem saber como se portar. Além disso, meu pai tinha uma capacidade imensa de compreensão e benevolência, conhecia muito bem o coração de Lionel e não ousaria impedir que lutasse pelos seus ideais.
Mas eu não era como meu pai, não compreendia e não queria compreender. Tranquei-me em meu quarto durante uma semana, nem as súplicas de Lionel, nem as juras de amor de JJ foram suficientes para me reestabelecer do sofrimento. Quando, finalmente, sai do quarto encontrei JJ sentado na sala, lancei-me em seus braços e chorei, desfazendo, enfim, o nó que há uma semana sentia em minha garganta".
Ao terminar minha narração, percebi que Matthew estava estranhamente emocionado .Minha história abalara aquele homem misterioso, que tanto relutava em falar sobre sua vida, não sei se já disse isso, mas Matthew era muito reservado em suas visitas, quase não falava de si, parecia até um anjo que vinha à Terra apenas para me confortar. De qualquer forma, naquele dia ele me pareceu abalado, saiu sem se despedir, apenas lançando-me um olhar de ternura.
quinta-feira, 14 de abril de 2011
If you don't love me, lie to me
Eu datilografo. Tu datilografas.
E além de canto ela possui o teclado como arquibancada, e o cheiro daquela tinta quase fresca. Mas o que mais me encanta é que seu uso a longo prazo causa tendinite! Parece tão honroso que um escritor, após anos criando seus livros naquela mesma maquininha, venha a apresentar sinais da tendinite...a máquina de escrever é como um órgão sexual : você passa um tempo utilizando até que dá seu fruto (um filho, um romance), e com isso alguns problemas ( a responsabilidade, a tendinite) mas por isso mesmo você continua se orgulhando ( do órgão, da máquina) por ter permitido algo notável ( de novo : o filho, o romance).
A comparação é grotesca ( mas assim como Deus, o homem cria as coisas - as máquinas da tecnologia- à sua imagem e semelhança), contudo serve para demonstrar a superioridade da maquininha perante a cadeira de balanço e principlamente ao computador ( uma verdadeira mutação genética).
Ora pois! Não de todo generalizado, mas se compararmos um livro filho de uma máquina de escrever e os de um computador há de notarmos as diferenças...
Mas a verdade é que nada me sai da tela do computador. Só mesmo sentado à máquina ou de próprio punho . E talvez essa idolatria à datilografia e meu desprezo à digitação se dê porque essa última deixa transparecer minha incompetência literária diante de um computador.
Ignorem o astronauta.
Território Vietnamita, 03 de julho de 1968
domingo, 10 de abril de 2011
Inspire fundo!
domingo, 3 de abril de 2011
Apesar da aparente claridade, ainda havia escuridão.
Quem tivesse me conhecido antes de ser internada acharia estranho me ver caminhando de dia, pois eu nunca saía de meu quarto durante o dia, gostava apenas da escuridão - esta, sim,combinava com a minha vida - mas a claridade já não me incomodava como antigamente e chegava quase a me fazer bem. Mas nem tudo era luz, a falta de notícias me angustiava, teria ele me abandonado de novo? Não, uma segunda vez eu não suportaria. Parecia que ninguém queria me dizer o que estava acontecendo, nem Matthew colaborava, apenas se sentava e esperava, e eu, sem alternativas, continuava minha história:
"Os meses se passavam e JJ e eu vivíamos numa relação completamente inconstante, brigávamos o tempo todo, nos amávamos o tempo todo, acho que nunca um casal teve tantas vezes seu relacionamento rompido e reatado. Eu sentia tudo muito intensamente, ele era mais impassível, controlador e ambos não conseguíamos nos compreender, ainda assim, todas as vezes que terminávamos, eu corria atrás dele, pedia perdão e tudo recomeçava...até o dia em que nossa relação instável foi obrigada a se interromper.
Lembra-se de que JJ e Lionel estavam com uma ideia misteriosa, nao é? Pois bem, essa ideia tomou corpo e transformou-se numa decisão, a qual, quando eu vim a saber do que se tratava, já estava tomada. Foi num dia em que cheguei em casa e encontrei os dois amigos reunidos com meu pai. Papai mexia nervosamente nos cabelos, como sempre fazia quando recebia uma noticia ruim.E de fato era."