domingo, 17 de abril de 2011

A decisão de Lionel e JJ

"Papai pediu que eu me sentasse, obedeci tomada pela desconfiança, e Lionel revelou-me, enfim, o que, talvez, bem no fundo do meu coração, eu já soubesse: ele e JJ haviam se alistado e lutariam na guerra do Vietnã.
Eu não conseguiria descrever o impacto daquela noticia, o chão sumiu debaixo dos meus pés, lembro-me de ter ficado alguns minutos em silêncio e, quando voltei a mim, passei a caminhar de um lado para o outro, soltando frases desconexas, tentando entender o por quê.
JJ e Lionel tentaram me explicar mas não permiti, não havia nada que pudessem me dizer, eu simplesmente não compreendia. Lutar numa guerra sem causa?Arriscar a vida por um país que abrigava tantas injustiças e preconceitos, características estas que tanto revoltavam aqueles dois corações? Nada disso parecia fazer sentido.
Como eu poderia aceitar ser abandonada por duas das pessoas que eu mais amava na vida?Como eu poderia carregar todos os dias a angústia de não saber se voltariam vivos? Não, aquilo era demais para mim.
Disse tudo isso a eles e olhei para meu pai, à procura de apoio, mas este parecia prostrado pela noticia, o abandono do filho talvez reacendesse as lembranças do abandono da esposa, deixando-o sem saber como se portar. Além disso, meu pai tinha uma capacidade imensa de compreensão e benevolência, conhecia muito bem o coração de Lionel e não ousaria impedir que lutasse pelos seus ideais.
Mas eu não era como meu pai, não compreendia e não queria compreender. Tranquei-me em meu quarto durante uma semana, nem as súplicas de Lionel, nem as juras de amor de JJ foram suficientes para me reestabelecer do sofrimento. Quando, finalmente, sai do quarto encontrei JJ sentado na sala, lancei-me em seus braços e chorei, desfazendo, enfim, o nó que há uma semana sentia em minha garganta".
Ao terminar minha narração, percebi que Matthew estava estranhamente emocionado .Minha história abalara aquele homem misterioso, que tanto relutava em falar sobre sua vida, não sei se já disse isso, mas Matthew era muito reservado em suas visitas, quase não falava de si, parecia até um anjo que vinha à Terra apenas para me confortar. De qualquer forma, naquele dia ele me pareceu abalado, saiu sem se despedir, apenas lançando-me um olhar de ternura.

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