quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Mademoiselle



Ela está todo dia, naquela mesma taverna suja e escura, sentada no balcão com o olhar perdido. A Mademoiselle - como a chamo por falta de um nome verdadeiro - entra na taverna lá pelas onze da noite, e de manhã, quando eu chego, ainda está lá. Não sei quantas doses essa mulher já tomou, mas ela conserva, em parte, a sobriedade. Eu me sento ao seu lado e conversamos.
"Aqui não é lugar para um garoto!" ela diz , "nem para uma dama!" respondo. "Você não sabe de nada moleque...olha pra mim, veja todos esses brilhantes, esses trajes! Eu sou rica sabia?Posso tudo!...e no entanto...cá estou, perdida num copo de bedida, a qual nem sinto mais o gosto...Mas o que queria? É a única solução...não, a única solução é a morte, mas para isso falta-me coragem."
Perto dos seus cinquenta anos, Mademoiselle é uma mulher extremamente infeliz, insatisfeita, e , como muitos, afoga as mágoas na bebida. Eu sou seu ouvinte costumeiro, mas por mais que ela fale, nunca soube realmente o que lhe aconteceu...alguma frustração amorosa, algo relacionado a um casamento arranjado...Ela passa a mão pelo balcão engordurado, mostra um sorriso amargurado e sai.
Mais uma figura das entranhas de Paris, é essa Mademoiselle, mais uma personagem com seus sofrimentos, seus segredos, seus medos. É curioso como as pessoas dentro de suas singularidades conseguem ter sentimentos e razões tão comuns! Sublime paradoxo é o ser humano!

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