sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A respeito de um céu e de borboletas.

Olhei pela janela de minha casa essa tarde: uma lagarta estava instalada na parte de cima, se metamorfoseando. Casulo preso ao nada, curvado. Um útero em minha parede!
Queria pegar o casulo. Aninhá-lo. Dar de mamar. O bebê logo nascerá e eu não o verei mais.
Abri outra janela em minha casa e vi que o céu estava no chão. Perguntei-me quem o teria derrubado. Quem teria desparafusado as estrelas. Eu não ouvi barulho algum de baque.
Então eu fiquei pensando nos que estão perdidos. Seguirão que luz que os guiarão para casa?
Tentei levantá-lo. Recusou-se. Pensei em chamar Van Gogh para pintá-lo refletindo ao contrário. Nada que um pouco de tinta não resolvesse.
Não. Não porque, olhando bem, o céu parecia mais bonito visto de cima. Assim como o casulo parecia mais bonito enquanto casulo.
Eu disse para uma estrela cadente que eu a pegaria, a consertaria, e a levaria para morar comigo e com o casulo. Talvez ela pudesse morar dentro do casulo ( e se de dentro de casulos nascessem estrelas?).
Descobri que a estrela morrera há muito tempo. Que aquela era só a lembrança, que continua cintilando através dos anos.
Então resolvi deixar o céu no chão. Fechei a janela. Olhei para dentro e vi que os relógios andavam ao contrário. Percebi que o tempo estava se esgotando, ou antes, percebi que o tempo estava voltando. Soldados voltando da guerra antes de ir, pessoas voltavam a respirar antes mesmo de morrer.
Ai eu só pedi a Deus que ele deixasse as coisas como estavam. E que ele cuidasse do meu casulo.
Porque, assim como o céu, alguém me desparafusou e largou-me no chão; assim como o relógio, meu tempo andava de costas, e assim como o casulo, eu brotaria da velha carcaça e viraria borboleta. E, enquanto borboleta, eu seria livre.

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