quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Infância da velhice.

-Texto de Apresentação.

Quando eu costumava ser jovem, tanto quanto você meu rapaz, eu não o era. Tinha as faces rosadas, as mãos lisas, cabelos onde eles deveriam estar...mas já sentia os meu órgãos a enrugarem dia após dia. Acreditava que sofria do mal da porgéria, você sabe. O que eu quero dizer é que sempre me senti velho.
Não pense que sofria com minha velhice precoce. Ser velho era e ainda é, agora que posso sentir a velhice nos tremores das mãos e nos sinais da osteoporose, o meu porto seguro.
As pessoas acreditam ou pelo menos pensam uma vez na vida que ser velho é cheirar a urina e varrer a calçada de manhãzinha. Mas não é, meu rapaz. Ser velho também não é simplesmente ser sábio. É já ter vivido. É já ter visto, talvez com alguns dissabores, tudo aquilo que os jovens imaginam com tanta angústia. É já ter visto tudo que se poderia ver, é conhecer tudo o que os moços e moças pagariam milhões para saber. Ser velho é contar enquanto respira e inspira, ainda que seja pra se ter certeza se estamos vivos, mas observando, sentindo realmente a respiração que nos permite sê-lo. É poder ter apenas nas rugas ou nas costas curvadas as marcas de sofrimentos e problemas, mas não mais na cabeça.
Estar velho é estar satisfeito por ter cumprido a missão de viver. É saber que já estão passadas todas as fases da vida, ainda que não plenas, mas experimentadas. Ser velho é estar na outra ponta da vida, para começar a atividade de atar as duas pontas e analisar se valeu a pena. É estar no último degrau e poder estender a mão para os que ainda sobem, como você.
Éh, bem. É por tudo isso. As pessoas sempre me perguntaram porque eu gostava tanto da velhice. É por tudo isso.

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