sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Conversas que tenho comigo.

Nascendo ou morrendo, o caso é que todos acabaremos em fraldas. Peguei um espelho hoje, desses pequenos que se equilibram na penteadeira bamba - as mulheres de hoje não as usam mais, uma lástima - moldura laranja, reflexo deteriorado...vi o Velho MacGregor mais velho do que ontem de manhã. Cabelos rareando, pele fina e fazendo dobras. Levantei as mãos mais trêmulas do que o Mal de Parkinson; estiquei o indicador. O indicador do outro lado também se levantou, tão fino e tão branco quanto.
Comecei a aproximá-lo, atento a qualquer movimento que o outro também fizesse. Aproximou-se também o dedo do Velho MacGregor, um pouco hesitante, sem saber se deveria. O meu enfim tocou o espelho, e enfim o indicador do Velho resolveu me tocar também. Assutei com o movimento brusco e retirei de repente. "É MacGregor, envelheceste, velho companheiro". Ele sorriu em reposta. Disse que concordava e que eu também já não era o mesmo reserva do quinto batalhão do ano de 1944. Robusto, sagaz. Rapazola.
O Velho deu uma olhada para trás, como se entrasse alguém. Deixou um pouco o espelho e voltou em seguida. Olhei-o ai mais atentamente.Estranhamente cedi ao meu impuslo de tocá-lo no rosto. O MacGregor estava gelado como defunto! Quase achei que estivesse batido as botas. Ai lembrei de levar as mãos ao meu peito e sentir o tum tum. Ritmado. Mas fui sentir um tum...tum...tttt...tum.
É, também já não era mais o mesmo.
Deixei o espelho. Mas fiquei com a velhice, bem ali - não mais no reflexo- mas nas batidas do meu velho motor.

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