terça-feira, 16 de agosto de 2011

Um problemão que eu tinha.


Maximillian Sheldon era um detetive. Foi em Agosto, talvez Setembro, a primeira vez que trocamos olhares duvidosos. Ele, tão reservado. Eu, tão quente. Dois desconhecidos à procura da loucura...

Patrulhando casos que eu nunca tive, detalhando cada gota de suor que escorria da minha pele, sofrendo para me entender, ele se tornou a minha fuga, minha válvula de escape dentro dessa bol
ha sem ar condicionado. Convívios estupidos não me atormentavam mais, nem os idiotas ao meu redor sugavam minha paciência. Agora ele era, ele era quem me borbulhava, quem me tocava, era meu céu, minha baunilha, era a minha sorte inventada. Maximillian Sheldon me fazia andar na linha. Na linha da pergunta que não queria calar...

Aos poucos, fui fingindo não ser vulnerável, não ser manipulável. Era, e muito. Num delírio, tive a ingenuidade de acreditar que o enganaria. Muito pelo contrário. Maximillian Sheldon me investig
ava. Olhava fundo em cada cicatriz: abria, uma a uma, para examinar. Colocava os dedos, sangrava a ferida, "desmachucava" qualquer vestígio de ilusão. Maximillian Sheldon me incomodava. Insistia em me chamar de Jackeline, dizia que assim era mais sexy. Perguntava sobre a minha mãe, sobre o meu passado, sobre o meu sabor de sorvete favorito e se preferia ir à Suiça ou passar as férias na Bahia ouvindo Caetano na praia. Me comprava discos antigos de vinis, só por que, certo dia, descobriu meu sonho (quase) secreto de fazer alguma coleção de algo que não fosse entediante.

Maximillian Sheldon era tão consciente. Me ligava as 03:48 da madrugada para dizer: "Acordei. Sonhei com você." Era viciado em ler o jornal de domingo, só para ver se descobria alguma notícia nova e legal que pudesse me contar depois. Gostava também das tirinhas e tinha mais de 29 gravatas no guarda roupa, sim, eu contei. Maximillian Sheldon era muito exigente. Não queria uma meia mulher: me desejava por inteiro. Não queria cinco minutos ou fifty fifty, ele gostava era dos defeitos junto com as qualidades, gostava de carne e não de plástico, queria ser poeta e não mais dete
tive. Exigia a verdade, a existência, o nosso ponto forte.

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