sábado, 23 de julho de 2011

Eu disse não à guerra

"Não posso dizer que os primeiros meses foram os piores de minha vida, pois outros acontecimentos ainda viriam, mas a falta de Lionel e JJ estava me matando. JJ mandava-me cartas com menos frequência do que eu desejava, mas eu tentava não parecer contrariada em minhas respostas para não aborrece-lo, com Lionel havia mais conversas, mas sempre povoadas de discussões - eu não perdia a esperança de convencê-lo de que a Guerra não valia a pena. E assim entramos em 1968.
Cathy e eu tornamos ainda mais amigas, na verdade Cathy era uma espécie de porto seguro para mim, só ela tinha paciência com as minhas constantes mudanças de humor e crises de choro, mas nem sempre os conselhos e apoio dela me eram suficientes.
Certa vez em que estava muito cansada de apenas esperar, um grupo de jovens apareceu em minha vida, lembro de pensar que fosse um sinal ou mesmo um chamado - não estou tentando diminuir minha culpa, veja bem, foi apenas o que pensei - descobri-os em uma lanchonete, programando um protesto, sim eles protestavam, e contra a guerra!Nada mais perfeito para mim. Aproximei-me deles e logo me vi parte do grupo.
Estar envolvida em uma causa reacendeu meu espírito, me deu forças e vontade de viver. Como era de se esperar, Cathy tentou convencer-me de todas as formas a abandoná-los, sem sucesso. Numa noite pintamos todos os muros que pudemos encontrar com pedidos de paz, com símbolos hippies e outras coisas e por pouco não fomos pegos. Mas ainda era pouco.Fizemos então o que considero ser o ponto alto de nossas ações. Reunimos um grande número de estudantes, a maioria universitários, e, munidos de faixas e cartazes, marchamos por toda a cidade fazendo protestos.
Já pode imaginar o resultado, não é? a multidão foi dispersada pela polícia e eu e os outros membros do grupo acabamos na delegacia. Só não fiquei presa por ser menor de idade, mas em compensação vi, pela primeira vez, meu pai realmente ficar nervoso. Ele me disse coisas horríveis, que eu o estava envergonhando, e a Lionel e JJ também, que eu devia sentir orgulho deles e não tentar impedi-los de seguir seus deveres e, finalmente, que JJ e Lionel eram nobres e corajosos, o contrário de mim. É claro que tudo isso foi para mim como um tapa na cara, e resolvi, portanto, voltar à inutilidade da espera."

Nenhum comentário: