quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Lamento.

Ai de mim! Pobre ourives - eu - que em minhas mãos, tremulas, pousa a pedra fundamental , filosofal ou ainda, se me permite, o elixir existencial.
Ai de mim, que de velho só trago o espírito. Escorrego pela beira da cadeira , em espanto, e me contorço tomado por uma apoplexia da alma. Ergo, em delírio, as mãos - aquelas mesmas de ourives- ao céu, ou antes ao teto, e exijo categoricamente o reembolso daquilo que perco.
E não perco, senão, o tato. Instrumento fundamental para as tentações humanas...Mas ai, que querem? Que querem que lhes diga, seus diabretes subversivos?!
Espere: eis que respiro. Aos poucos apoio-me unicamente nos joelhos e arranco de uma só vez e de um só gemido todas as facas cravadas em minhas mãos de ourives.
Não são as chagas abertas ou a carne que se rompe o meu maior motivo. Ei-lo: ali, no canto mais escuro, da sala mais pútrida esconde-se, envergonhado de si mesmo, o moleque descalço.
Impertinente!Impertinente e infame é você e desonra é a sua profissão!
Suma daqui que...ai, que dessa carcaça eu ei de cuidar. Cuido eu e cuidarei assim que me entregarem a sua cabeça em uma bandeja de prata.

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