terça-feira, 3 de maio de 2011

O Bruxo do Cosme Velho.

Não preciso de muito para expressar aqui, em uma palavra, ou talvez mais, minha perplexidade diante do Bruxo do Cosme Velho. Este distinto senhor causa no Astronauta calafrios e sonhos estranhos na hora morta. E a sensação de embriaguez diante deste senhor é tamanha, que vejo em cada semblante marcado pelos anos e em cada ruga de tempo um Bruxo do Cosme Velho.
Mas que fique claro que a perplexidade é muito bem vinda. Por ele e diante dele não tenho outra sensação senão essa mesmo.
Já fui interrogado, inúmeras e inúteis vezes, a respeito de meu interesse em idosos. E não há melhor resposta que esta. Interesso porque vejo em cada um, um quê machadiano. Um quê literário e de pessoa sabida das coisas. Ainda mais sobre a arte do não viver. E arrepender-se.
Os idosos, para mim, exalam Machado de Assis. Ainda mais, eles transparecem século XIX. Não que eu conheça alguém com essa "data de fabricação", pelo menos não no mundo material. Mas como já dizia Lennon, se você acredita, qualquer coisa existe e é real. Sob essa lente, então tenho amigos, de longa data, que vivenciaram esse século de alma, e moram logo ali, em meu guarda-roupa.
Não digo simplesmente que admiro Machado de Assis ou que o considero gênio. Digo somente, e modestamente, que o compreendo e o vejo. Vejo o bruxo que morava dentro dele. E vejo também essas tantas faces que ele foi; cigano, seminarista, cão, defunto-autor( ou autor-defunto), cartomante...
Mais que tudo, o Machado vive. Vive em minha mente empoeirada e coberta de teias de aranha e que eu não faço questão alguma de limpá-la. Dentro de minha redoma vejo o mundo como me convém.Logo, vejo o século XIX. E que cada um interprete à sua maneira o que eu quis dizer com isso.
Têm-se, então, que meu fim evidente não é outro senão enlouquecer enquanto converso - agora sim de corpo e alma - com meus amigos de 1800. Vejo que meu fim evidente vai ser tão empoeirado de livros e traças quanto minha mente já é. E o leitor pode ter absoluta certeza que não desejo tanto outro fim senão esse.
Que o pó me seja leve!

P.S: peço escusas à meu amigo O Hobbit. Sei que disse que escreveria sobre o tema que o senhor meu amigo sugeriu, em meio à equações matemáticas. Porém, tive uma inspiração repentina e uma crise de adoração pelo Machado, e quando se tem tamanha inspiração não se pode deixar passá-la. Prometo-lhe que o próximo tema será o escolhido pelo senhor.

Um comentário:

O Hobbit disse...

Não peça desculpas, amiga Astronauta! Entendo a grande importância que inspiração repentina e tão grande como essa tem. Sinta-se livre a escrever os temas sugeridos quando quiser. E lembre-se, são apenas temas sugeridos! Espero ansioso para um próximo texto de sua autoria sob um tema dito por minha mente maluca e pouco inventiva.
Agora, falando sobre teu texto acima, gostei de tua homenagem ao ilustrissímo Machado de Assis (o que me remete à uma piada, certo Iral? Mas convém a contar noutra hora). Arrisco dizer sob sua profunda admiração, que nunca me entrosei tanto com antigos escritores, mas reconheço que eles tinham uma forma de escrita magnífica, gloriosa, criativa e, convenhamos, "melhormente" que a minha.
Torço para que um dia conheça esses teus ídolos, assim como torço para que eu conheça os meus.
Abraços e congratulações de seu amigo,
O Hobbit.