sexta-feira, 11 de março de 2011

Astrologia musical


Fugindo dele, conectou o fone de ouvido o mais rápido que pode às caixas de som. Num desespero disfarçado, elas eram uma espécie de salvação além da porta trancada, e por vezes, do travesseiro. Mas a insônia a rondava como uma fumaça, cegando-a.


Dormir, naquele momento seria hipocrisia. Sonhar? Fora de cogitação! Quase como um crime desnecessário. Aumentou sutilmente o volume, escolhendo à deriva uma música qualquer que a distraísse por, ao menos, um curto tempo. Sentiu a nostalgia machucar seus pensamentos, afinal, tudo não passara de uma mentira, não é? Uma mentira amarga, até mesmo sem pé nem cabeça, irracional, incompreensível, culpada... Tão culpada.

Ilusão mesmo era aceitar que ouvindo suas músicas, delirando em suas letras e conformando-se com os problemas a calma viria e a tempestade não passaria de um vento já longe. Não passou. Não era vento, era um furação. Também não era só mais um problema, e ela já não tinha mais opções. Não podia mais pular do avião, saltar daquele trem em movimento, não podia mais se esconder, não encontrava a chave da porta, não tinha luz em túnel algum, não, não, não. Ensurdecia de nãos. Sufocada na própria falta de ar e esperança.

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