segunda-feira, 14 de março de 2011

Um campo de flores secas

Ouvindo aquelas palavras vindas de seus belos lábios, palavras vorazes e cortantes, perfurando meu coração. Vendo tua escura, jovem e bela silhueta caminhando em direção ao horizonte, raios solares nunca tão ofuscantes arderam-me os olhos e fizeram-me chorar.

E, assim, nada sobrou. Partira e o que me sobrou? Fiz de você minhas flores, minhas rosas esperanças; fiz de você meus rios, meu ativo e profundo amor; fiz de você minhas estrelas, o brilho de meu olhar. O que não levara? Deixara-me para minha amargura e solidão, para uma vida em preto e branco, rasa pela falta de pensamento, opaca e triste pela falta de sentimento.

Os que me conheciam, fugiram. Os que de mim gostavam, se distanciaram. Os que me amavam, não existiam. Viu o que teu maldito amor me causara? O falso amor ao qual me apresentara, o verdadeiro amor que lhe proporcionei. Falso ou verdadeiro, são agora passado, destruídos estão.

Sobrara-me sonhar em posição fetal, dentro de um sujo e amargurado apartamento, em cima de uma cama repleta de restos alimentícios, bitucas de cigarro e garrafas quebradas da mais podre pinga. Lençóis sujos pelo gozo meu e de prostitutas baratas e feias. Tão deplorável era meu estado que até as putas me achavam asqueroso e repugnante. Putas malditas, já me faltam dinheiro até para camisinhas, e quando eu não pagava queriam me prender. Eram apenas vadias, ninguém as escutava.

Olhava naquele mundo poluído pela putaria da vida e daquele amor lazarento que não existe. Ruas sujas como as vaginas abertas das putas com quem fiz “amor”. Via tudo isso pelo motivo de ter sido despejado de meu humilde apartamento por não pagar o aluguel, dormia agora no banco, em baixo de jornais pútridos jogados à deriva.

Uma noite chuvosa com temerosos raios molhava minha barba empoeirada e, se por acaso, com algumas aranhas ali hospedadas. Filha de uma égua esta chuva, esta chuva que viera numa já gélida noite que, além de despedaçar meu jornal, me trouxera uma pneumonia complementada por uma pior ainda tuberculose, rasgando meus pulmões e garganta. Deitado e esperando o abraço libertador da morte.

Nesta mesma noite, a vi, ela, a pessoa que tudo isso me causou, finalmente voltar e andar em minha direção. Uma pálida e velha silhueta vinha em minha direção. Parara na minha frente, me olhou do pé ao crânio e assustara-se, ficou com um queixo mais aberto que a porra de uma boca de hipopótamo. Logo, veio de seus ressecados e extremamente finos lábios roxos que se lembrava de mim, que já havia me amado e que odiava me ver naquele estado. Que queria ajudar.

Consegui me levantar do frio banco de pedra, olhei-a nos olhos com voracidade, e com uma rouca e pútrida voz, abaixo da chuva, ela ouviu dos meus lábios em carne viva que ela me transformou em um campo de flores secas e pálidas, que me transformara em um seco chão arenoso e rachado como de um rio evaporado do sertão e que também me transformara numa vasta solidão de um universo nublado sem estrelas, sem sonhos. Disse-a que se quisesse finalmente me ajudar, ela devia voltar na porra do tempo e nunca ter me amado, nunca ter me conhecido. Disse que devia ir embora, me deixar para morrer e nunca mais pensar em mim. Ela foi, mas nunca parou de pensar em mim.

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