Fulano: Sabe de uma coisa? Existem canalhas em todos os grupos.
Sicrano: Quem de nós?
Fulano: Existem, sempre. Pagãos ou cristãos, jovens ou idosos, seguidores de Lennon ou colecionadores de carros antigos. Alta sociedade. Simbolistas, amantes de canetas coloridas, intelectuais do Japão. Sei lá, pode ser qualquer um. Existem.
Beltrano: É relativo, meu caro. Não pense como uma construção sólida de Niemeyer: isso é um poema de Pablo Neruda. Esqueça um pouco minhas equações eletrostáticas, não se soma essa falta de noção à nossa falta de sentido: é caótico demais, canalha demais. Não seja.
Sicrano: É impossível fugir, somos presidentes da nossa própria cela, você raciocina tanto que mal pode enxergar além das linhas do caderno, fica acorrentando suas asas o tempo todo. Tão só.
Fulano: Ah, não. A síndrome da vítima, de novo, não. Não caia nessa, Beltramo.
Sicrano: Vocês é que são ingênuos. Drogados de frustração, são tão canalhas quanto eles. Tão bipolares quanto Shakespeare. (Não sei se ele sofria desse transtorno, mas instigado, apostei.)
Beltrano: O cálculo é variante. Basta conhecer e você se contaminará. Aqui, às vezes, 2 -1 é igual a 0. Não vivo sem aquilo que me vive. Que me faz viver. Somos tão zero quanto qualquer vazio por aí, a não ser que dois qualqueres cheguem para nos completar.
Fulano: Quem são os canalhas daqui, então?
Sicrano: Eu nunca quis saber.
Fulano: Também nunca conseguiu enxergar.
Beltrano: Admitam um espelho enquanto continuo a procurar respostas.
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