"Muitas coisas aconteceram durante a guerra, as cartas foram se tornando cada vez mais escassas, JJ se feriu em uma batalha - nada grave, para meu imenso alívio! - e Lionel finalmente mudou sua opinião. Ele passou a odiar a guerra e todas as suas consequências, o contato com o terror destruíram a visão otimista de meu irmão sobre o mundo e somente lendo suas cartas era possível entender e sentir a emoção e a revolta que havia em seu coração. A guerra, essa forma monstruosa de disputa, mudou a vida de meu querido Lionel - de meu Dança-com-lobos, como o chamavam no exército - e estava prestes a mudar a minha.
JJ ao contrário não parecia exatamente assustado com o que vivia, em suas cartas ele dizia sentir que estava fazendo o certo, o necessário, nem mesmo parecia abalado.Talvez tenha sido esse excesso de coragem sua própria perdição.
Foi numa noite, em Setembro de 68, exatamente às oito horas, que a vida que eu conhecia recebeu um ponto final. Cheguei em minha casa após ter passado o dia com Cathy, e , para meu espanto encontrei o pai de JJ - digo espanto porque o vi somente uma vez em minha casa, então devia ser algo muito importante - ele parecia muito abalado, o que causou-me arrepio. Pediu que me sentasse e obedeci.
Com muita cautela o pai de JJ explicou-me que seu filho e Lionel haviam sido enviados para uma certa missão especial, mas esta fracassara e..."
Nesse momento precisei parar a narrativa, tamanho era o descompasso do meu coração, Matthew, igualmente abalado, encorajou-me a continuar e eu, com um nó terrível na garganta, prossegui.
"A missão falhara, a tropa foi atacada ferozmente, houve vários bombardeios e não fosse a chegada a tempo dos reforços não teria restado nenhum soldado americano. As lágrimas começaram a formar em meus olhos. Lionel se feriu levando um tiro na perna mas em pouco tempo se recuperaria, JJ não teve a mesma sorte. Quem chorava agora era ele. JJ recebera um tiro no peito, foi levado para a base e atendido às pressas, resistiu muito mais do que o esperado pelo médico, mas não foi o suficiente. JJ, o único homem que eu amei, estava morto.
Eu nem sequer consigo me lembrar de minha reação, acho que foi a pior de todas as minhas crises, havia tanta dor dentro de mim que chegava a me sufocar. Sei apenas que, cansada de tanto chorar, cai em minha cama e passei a noite toda num estado de transe, abalada demais para perceber qualquer coisa a minha volta".
Era o máximo que eu conseguia naquele dia, e Matthew percebeu isso. Secando suas próprias lágrimas, meu amigo abraçou-me - um abraço tão confortável como nenhum outro - e retirou-se.
Fiquei sozinha contemplando o teto branco, relembrando minha vida e tentando, em vão, entender o que acontecera comigo após aquela noite, o que acontecera com a Helena que Cathy, Lionel e JJ um dia conheceram.
JJ ao contrário não parecia exatamente assustado com o que vivia, em suas cartas ele dizia sentir que estava fazendo o certo, o necessário, nem mesmo parecia abalado.Talvez tenha sido esse excesso de coragem sua própria perdição.
Foi numa noite, em Setembro de 68, exatamente às oito horas, que a vida que eu conhecia recebeu um ponto final. Cheguei em minha casa após ter passado o dia com Cathy, e , para meu espanto encontrei o pai de JJ - digo espanto porque o vi somente uma vez em minha casa, então devia ser algo muito importante - ele parecia muito abalado, o que causou-me arrepio. Pediu que me sentasse e obedeci.
Com muita cautela o pai de JJ explicou-me que seu filho e Lionel haviam sido enviados para uma certa missão especial, mas esta fracassara e..."
Nesse momento precisei parar a narrativa, tamanho era o descompasso do meu coração, Matthew, igualmente abalado, encorajou-me a continuar e eu, com um nó terrível na garganta, prossegui.
"A missão falhara, a tropa foi atacada ferozmente, houve vários bombardeios e não fosse a chegada a tempo dos reforços não teria restado nenhum soldado americano. As lágrimas começaram a formar em meus olhos. Lionel se feriu levando um tiro na perna mas em pouco tempo se recuperaria, JJ não teve a mesma sorte. Quem chorava agora era ele. JJ recebera um tiro no peito, foi levado para a base e atendido às pressas, resistiu muito mais do que o esperado pelo médico, mas não foi o suficiente. JJ, o único homem que eu amei, estava morto.
Eu nem sequer consigo me lembrar de minha reação, acho que foi a pior de todas as minhas crises, havia tanta dor dentro de mim que chegava a me sufocar. Sei apenas que, cansada de tanto chorar, cai em minha cama e passei a noite toda num estado de transe, abalada demais para perceber qualquer coisa a minha volta".
Era o máximo que eu conseguia naquele dia, e Matthew percebeu isso. Secando suas próprias lágrimas, meu amigo abraçou-me - um abraço tão confortável como nenhum outro - e retirou-se.
Fiquei sozinha contemplando o teto branco, relembrando minha vida e tentando, em vão, entender o que acontecera comigo após aquela noite, o que acontecera com a Helena que Cathy, Lionel e JJ um dia conheceram.
Nenhum comentário:
Postar um comentário