 sentado em um tamborete alto demais para seu corpinho. alguém suspeitaria ser contra a física sentar em um banquinho dentro de um trem. ele poderia estar em cima do trem, ai sim...
sentado em um tamborete alto demais para seu corpinho. alguém suspeitaria ser contra a física sentar em um banquinho dentro de um trem. ele poderia estar em cima do trem, ai sim...ficou balançando os pés que não alcançavam o chão. A paisagem lá fora não se mexia rápido demais. elas iam despedindo-se juntamente com os acenos dos ramos das árvores.
tirou a gaita engordurada do capote e levou aos lábios, com uma mão só. a outra permaneceu embaixo de uma das pernas, mantendo uma levemente mais alta que a outra. ficou com a gaita na boca mas não soprou.
um ratinho apareceu de um buraco no rodapé do vagão. trazia um violãozinho nas costas. sentou-se com as pernas penduradas na porta do vagão - também penduradas! (sabe-se que era um trem de carga)
arriscou um dedilhado, balançando o rabo com o ritmo do folk. o menino percebeu a sugestão e juntou a outra mão à gaita. juntou e soprou,aí.
as montanhas iam se repetindo, assim como a estrada de terra que corria ao lado do trem, esperançosa de ver alguém à janela do vagão e poder despedir-se com um aceno, em alguma curva que ela mudasse de direção. o moleque e o rato tocaram juntos sem trocar palavras. ao terminar a canção, arrumou o violãozinho no ombro e desapareceu no buraco do trem.
o moleque tencionou segui-lo. chegou a descer, realmente, obstante com esforço. mas não era Alice, e não coube no buraco.
voltou para seu tamborete, que agora parecia mais alto. tentou escalar os pés, inútil.
mas ele não era Alice, e não cresceu. pensou que poderia juntar-se ao maquinista, que tocava a sua gaita sinistramente no cair da noite. mas teria que correr pelo lado de fora...
tirou a gaita do bolso e pousou nos lábios. voltou a soprá-la e teve a sensação de crescer.
mas ele não era Alice, e não cresceu.
 
 
Nenhum comentário:
Postar um comentário