A Sociedade dos Poetas Vivos
"Tenho duas mãos e o sentimento do mundo"
segunda-feira, 2 de setembro de 2013
Ensaio sobre nada em absoluto - part I
Eu sou free, sempre free.
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Alguns espíritos humanos não vêm pisar nesse chão de mundo para que lhe seja dado voltas em corrente, como um escravo de seus próprios infortúnios. E também não é desses espíritos que se deve esperar uma aceitação súbita ou ainda inquestionável das peripécias de um destino ou das imposições sociais. Pode ser que esses espíritos possam vir a ser interpretados como quem padece da fraqueza do medo ou da preguiça. Quando na verdade, esses espíritos só possuem uma asa um pouco mais longa e envergada que a de outros. E também pode ser que o abrir de asas deles possa vir a machucar as de outrem, que esteja ao lado (e é por isso que eu digo que é melhor que a Liberdade abra as asas sobre nós). Alguns espiritos são como cavalos selvagens que morrem de desgosto por apenas imaginar-se selar. Para esses espíritos humanos não há fadiga maior que prender-se a alguém, a algum ou a algo. Para esses espíritos não há Amor que valha uma Liberdade. Para esses, é preciso deixar-se ir, não tocar, não acorrentar e não dispensar demais sentimentos que não os mui necessários. Alguns espíritos humanos tem forma de águia. E ave bonita como a águia não se deve aprisionar nem ao menos pedir que se conforme com as presas de um mesmo chão. Para esses espíritos meio que águia, meio que cavalo, todo mundo deve lançar um olharzinho de índio pra poder dizer: vá,vá. "Espírito que não pôde ser domado."
domingo, 31 de março de 2013
Casinha branca
sexta-feira, 29 de março de 2013
Just kidding.
quinta-feira, 28 de março de 2013
De médico e de louco
quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
Unique
sábado, 1 de dezembro de 2012
Despedida
domingo, 18 de novembro de 2012
Desaparecimento
Das estrelas, o vidro estilhaçado.
Em mil pedaços
Brilhantes e cintilantes.
O subir da alma.
A libertação,
Mas nem sempre a salvação.
Enquanto a gente espera.
Espera um milagre
Do frio e da outra metade.
A conquista de território.
Cada um com sua bandeirinha isolada,
Na madeira encharcada.
O céu em clarões.
Um acolhimento
Ou um esquecimento?
Mas ainda assim estou jogado a ermo.
Esperando o reencontro
Em um fantasioso ponto.
sábado, 3 de novembro de 2012
Pseudosoneto de um louco
A sombra de dois passados monstruosos.
Deixe-me falar enquanto deitado em seu colo.
Mas nada de café!
Só amor, sem intrigas, sem dor.
Duas mãos desesperadamente se agarrando,
Duas vidas, uma de cada lado.
Perdidamente se procurando.
No meio da solidão,
Pela única possível razão
Para uma fantasiosa salvação.
sexta-feira, 25 de maio de 2012
Sonhos e ilusões
Sonhos que sonham em sonhar,
Sonhos que me querem bem,
Sonhos que acabam por me acabar.
Sonhos que destroem
Enquanto mascarados de cura.
Mas eu sei que a queda é dura
E que é fria a chuva.
E, apesar de vocês, delírios noturnos,
O sol ainda há de me esquentar a alma
E de me fazer conquistar a calma.
Apesar de vocês, amanhã será um dia diurno.
Voo em desespero, recuso quem me trocou.
Mas apenas em vocês, sonhos malditos!
Quanto ela, eu sei que ninguém tão fundo me tocou,
Porém, também sei que ninguém tão fundo me machucou.
Com "ditos" diferentes de "feitos",
Abrir-lhe-ei com facão os peitos
E apertarei teu coração mal feito
Para que, como eu, você morra em dor e, assim, eu renasça.
Rios de lágrimas não eram nada,
Gritos de ódio eram o que predominava.
Dei-lhe tudo e mais que podia
Para após "te amos", descobrir que me traía.
Portanto, adeus, coração de pedra,
Que lhe tenha valido a pena, o fim dessa era.
Que fique esquecido o passado
Enquanto a cicatriz nunca fechará ao teu lado.
Que teus futuros amantes tenham órgãos avantajados
E gozem-lhe à boca como aos teus antepassados.
Como o que queria ao procurar entre alheios e me perder.
Espero que tenha se satisfeito, pois, de mim, amor nenhum há novamente de ter
Vá, e não volte!
Retorne aos seus montes de enamorados!
Diga "tchau" ao pote,
Que tal sensibilidade nunca terão seus tarados.
Despede-se de presentes, abraços e beijinhos;
Veja-me ao longe e corroa em saudades.
Destrua-se em culpa e na falta de mindinhos.
Cresça à tua idade, e crie, megera, sanidade.
Que os louros desta flâmula com os olhos azuis lhe roguem pesadelos
E que os corpos em forma de Deuses Gregos
Sentem-lhe a mão à cara
Para que deixe de ser arreganhada!
E que me mantenha para sempre em tua mente,
Que não me esqueça e se torture constantemente.
Que nunca mais destrua como me destruiu,
E que, ao chorar sobre teu coração estilhaçado, me assista enquanto na tua cara, rio.
quarta-feira, 23 de maio de 2012
Paint it Black
A adaga da minha queda se encontra nas minhas costas já há um longo tempo, e eu ainda não a consegui tirar. A adaga que tem palavras cruéis cravadas em sua lisa, brilhante e negra superfície.
Ela avermelha-se. Cada vez mais, sugando meu sangue de homem caído, um homem que não quer, não pode desistir, mas desistiu. Dia a dia, fico mais fraco, dia a dia, meu coração se exausta e racha um pouquinho mais como as secas terras do sertão. Sabem que essas terras trazem apenas miséria e tortura. Mais uma semelhança.
Mas eu sou um homem forte, essa é uma dor que eu consigo aguentar. Embora agora meu mundo esteja em preto e branco, é assim que o quero, é assim que o preciso. Toda noite, escondo minhas lágrimas nas gotas frias d’água que caem do céu, ou no sorriso que mostro diariamente. Eu amo esse sorriso, sabiam? Tão simples e feliz, tão falso e morto.
Consigo sentir a maldita faca que me deu um empurrãozinho ao meu precipício de dor ser minimamente retirada quando tenho a presença dos que me importam, que se importam, que colorem minha vida e me fazem rir de verdade. Eu sinto falta dessas pessoas. São elas apenas... Três ou quatro, de todos que conheço. Que podridão.
Então porque não vêm? Porque não me curam e me salvam? Porque não me tiram da escuridão que tanto amo e odeio? Pois, sozinho, eu sei que não sairei: gosto do mistério, do aconchego, da frieza e da sua complexa dor, mas ela é como uma droga de um cigarro; lhe trás o bem, mas corrói-lhe por dentro. Preciso de vocês. Especificamente de você.
Eu sei que retirar a adaga transformará minha ferida em aberta, e eu sei que muito sangue escorrerá por ela, sei que me enfraquecerei, sei que me destruirei aos poucos, mas não será por ela. Não pela adaga, não pelos escritos. E, quem sabe, talvez essa minha dor toque-lhe, talvez esse meu eu toque-lhe, talvez... Talvez.
Tudo o que quero é o fim dessa dor que me faz bem, dessa tristeza que me faz rir, dessa felicidade que me faz chorar. E é, também, tudo o que não quero. Na verdade, eu queria não a querer, queria não a ter como necessidade, queria. Mas preciso, neste meu amor de louco. Tenho a necessidade de deixar para você uma cama de rosas, rosas negras como o céu da noite, esperando pelo negro profundo e único de teus olhos e de teus cabelos, por teus risos e perfeita face. As rosas negras por esperarem pelo choro que exaltarão ao vê-la, pelo fogo em que vão arder vindo de teu amor, pela lâmina melancólica cheia de lembranças que cairá e será consumida pelas chamas escuras de teu coração que cauterizarão minha ferida e me farão amar novamente, me farão sorrir e poder chorar novamente. Tudo o que eu preciso é você, em toda a impossibilidade de isso acontecer.
Com dor, com repressão e implosão de sentimentos, com lágrimas, com saudade, com necessidade, com amor, com medo,
O Hobbit.
domingo, 6 de maio de 2012
Helpless Flames
Red flames pouring down on me
Consuming me in a ball of heat,
Destroying my empire of cold and freeze
My fortress has been melt down,
And so has my heart
It flourishes over the red dawn
That I see in your soul.
Free me from this,
I don’t want to get on the same road I did
Leave me out from your fire reign.
Let the darkness embrace me once and for all, I plead.
Your love is my ascension
And your love is my demise.
My demise is my inside revolution,
My ascension is my weakness
And here I am, once again
Fooling myself in pretend sadness
And all I can hear is you saying:
“I love you” – I bid, let me love you too
And help you out from your helpless place
quinta-feira, 19 de abril de 2012
Passado os anos trinta
Ar de sabedoria,
Olhos azuis como o céu do paraíso,
Nariz grande e um amor de sorriso,
Lábios rachados,
Cabelos grisalhos e escassos
Roupa dos anos 30, coisa antiga!
Empoeirado e cheio de fatiga,
Olhos cansados e desesperados
A procura do inesperado
A procura do passado
A procura do certo e deixado de lado
A procura da juventude
Ou de uma pausa para plenitude
Uma pausa para tomar um ar,
Poder respirar e descansar,
Para assim continuar
Com seus passinhos pequenos e lentos dos pés enrugados nas sapatilhas de couro [surrado
terça-feira, 10 de abril de 2012
Amiúde.
segunda-feira, 19 de março de 2012
Adieu
O palhaço!
O amor esquecido,
O humor apagado.
Vivo a alegrar,
Mas choro a noites de pesar.
Ah, felicidade que não há,
Porque não me aparece?
Porque na porta
Não me bate?
Prometo lhe fazer nota de música,
Prometo cumprir minha parte!
Ah, felicidade,
Quebre as regras da solidão,
Venha, estilhace a minha janela!
Tire-me desta depressão.
Uísque na mão,
Cocaína na mesa.
Salvação?
Ah, que ninguém me impeça!
Um abraço, mundo!
Admito que foi horrível enquanto durou.
Mon amis, adieu!
La réunion sera de l'autre côté
quarta-feira, 14 de março de 2012
Público
minhas visitas anteriores, convenço-me que já começara assim, aos poucos, cada
vez que eu ultrapassava a velha porteira do sítio. Começou sucintamente, com algumas conversas, talvez. Mas infelizmente,
começou.
Acontece que naquela mesma tarde de maio eu peguei o trem das sete horas
da manhã. A estação vazia, com alguns ecos escalando pelas paredes. Subi as
primeiras escadas escutando desgostosamente o barulho do meu sapatinho.
Presente do Natal passado. Não me lembro exatamente de quem...fora um Natal
barulhento, um Natal de bêbado, enfim. Mas eis que terminei o último degrau e
olhei os dois lados do corredor: chão encerado refletia um quase reflexo meu. O
zelador ainda encerava, teimosamente, uma marca no chão. Um barulhinho
agoniante saia do esfregão. Esfrega, esfrega.
Decidi pelo lado esquerdo,
igualmente encerado, para minha decepção. Encontrei o guichê das passagens,
tipicamente alto demais. Sujo demais. Público demais. A mulher me olhou por
cima dos óculos de bibliotecária, deixou claro sem dizer palavra que eu não
deveria estar ali; a Connie Francis ecoava um pouco distante enquanto eu não
falava nada.
-Uma passagem. Para as sete. O
trem.
Ela bufou e abriu uma gavetinha,
entregando-me um papelzinho. Bufou de novo quando paguei com uma nota de
cinquenta. Depois do troco, preferi não agradecer.
Fui esperar o trem. A estação
continuava vazia. Sentei-me em um banco de madeira e coloquei minha malinha aos
meus pés. Não levava muitas coisas. Seis e quarenta e sete. Já havia lido
metade dos nomes escrito com canivete -ou com chave- no assento, e relado sem
querer em um chiclete embaixo do banco, quando o trem apitou.
Peguei minha malinha e sentei ao
lado de um moço que dormia. Dormiu a viagem inteira. As quatro horas e meia.
Direto, sem se mexer. Ele tinha a pele branca e os cabelos pretos muito bem
repartidos. E ares de aristocrata.
Nunca mais o vi. Mas acredito que
ele continua dormindo. Ou acordou na última parada do trem.
Melodicamente
das mesmas notas fazer sair um turbilhão de olhares. Se soubesse, comporia em
praça pública. Seria caricaturista de sentimentos a preço baixo. Se eu tivesse
nascido compositor comporia toda uma trilha para cada criança que visse, para
cada lágrima que caísse para cada poeta que amasse.
Se fosse eu compositor ficaria
surdo para ouvir da forma mais genuína cada nota. E se eu fosse tocaria pianos
invisíveis e de pianos invisíveis nasceriam pétalas de rosas.
Mas se eu não sou compositor,
quem me dera ter nascido um! Ter fingido ser um! Ser louco e acreditar que
sou...mas ai de mim pobre criança rica. Rica de nada, de espasmos nervosos por
não saber compor sequer palavras. Por não saber sequer do que se compõe seu
próprio eu.
Porque se tivesse nascido
compositor, comporia a mim mesmo. A começar pelo Lá e a terminar por qualquer sustenido. Porque se
tivesse nascido compositor, saberia que nasci para a lua, que nasci com alma e
que sou um motivo a mais para crer na existência de Deus.
Mas se eu o fosse, talvez não
admirasse tanto aqueles que são. Um artista nunca admite seu talento; e se
admite é porque o sente perder. Se eu fosse um compositor não quereria nada
além do que a satisfação de perceber a sincronia de cada nota escrita na
partitura ou nascida na tecla do piano.
Contudo não o sou. Não nasci
sendo e nem com o gene do aprender a ser. Escuto , então, na esperança de não
ser má ouvinte . Escuto na esperança que, de olhos fechados, entenderei os
sussurros baixinhos da letra falada em uma melodia sem voz. Porque alguém disse
uma vez que silenciando um pouco seu interior, é possível entender o interior
do compositor clássico.
Eis que fico com a tarefa de
ourives. E ai de mim pobre ourives, que tenta lapidar em suas próprias mãos o
ouro de uma sinfonia inteira!
Lese
algodão doce. Nas três campinas nós relembrávamos nossa infância. E criávamos
tudo de novo. Tudo outra vez. Na campina nós dávamos as mãos e andávamos três
passos cada, juntos. Ainda me pergunto se não era o céu a campina, e o algodão,
nós mesmos.
Ainda me pergunto se nós não pisávamos no céu. Ou se
pisávamos dentro de nós mesmos. E também
ainda me lembro do silêncio acariciando cada pétala de cada flor, com cada grão
de pólen. E me pergunto se o silêncio não
era nossas mãos, nossos dedos pequenos, macios, infantis, ingênuos. Dedos que
nunca sentiram nada além de...flores?
E quando deitávamos, sentindo as cerdas da grama em cada
centímetro de pele, você com seu vestido de lese azul, ou era eu que vestia o
azul do seu vestido? E quando deitávamos na tarefa banal de ver estrelas, você
me perguntava qual era a banalidade nisso. Eu respondia com toda a sinceridade
do mundo que eu era criança, e ainda não conhecia a banalidade.
E não há nada de errado com isso. Mas se tivesse um piano de
cauda no meio de uma das nossas três campinas, nós nos sentaríamos e tocaríamos com aqueles mesmos dedos pouco
treinados alguma melodia de Beethoven. Não porque é Beethoven seu compositor
preferido, mas por ser Bach forte demais. E qualquer força maior rasgaria seu
vestido de lese azul, o nosso vestido de lese azul.
Mas era azul o céu aberto de algodão. E é azul tudo aquilo
que ecoa no universo: nossas notas no piano da campina, seu vestido de lese e a
minha nostalgia poética. Por que nunca vi seu vestido de lese azul, e nunca me
deitei em nenhuma das três campinas, e nunca toquei piano...e nunca ouvi Bach e
sequer sei quem é Beethoven. Sei apenas que no inverno faz frio e que em algum
momento verei estrelas nos olhos de alguém. E nesse momento saberei que vi sua
alma. E nesse momento saberei que vi uma alma, e poderei contar a todos os
poetas e a todos os filósofos que, sim, eu vi uma alma. E que ela era azul.
segunda-feira, 12 de março de 2012
Chamem-me de cavaleiro do amor,
Pois é o que sou na crueldade
Da não mentira que causa dor
Sou o sincero
O feliz e invejado
Lá se vai o enciumado
Desejando a mim apenas mistérios.
Infelizes mistérios de cavernas escuras,
Já não adianta mais, eu enxergo!
O coração acende e ilumina as estruturas
Que se mudam em sintonia com o vero
Com o eu.
Este sou eu
Aos olhos dos passantes:
Convencido!
Arrogante!
Vagabundo!
Mas este sou eu
Ao meu mundo:
Pela própria mente tecido,
Um ser pensante,
Imaginativamente mudo.
Este sou eu,
Modéstia à parte,
Melhor,
Solto,
Feliz,
Longe do frio
Piche social.
Andando sempre,
Sempre em frente.
O Passado não existe,
O Presente é Carpe Diem
O Futuro não existe,
Então que seja;
Carpe Diem
Em tudo,
Para todos!
Felizes os últimos
Se os primeiros tiverem educação.
Fodam-se os últimos,
Somos nós,
Em dupla trabalhamos melhor,
Em dupla começamos a criar um governo
Umas regras aqui
E ali, até todos
Seguirem o que eu digo
E tudo voltar ao que era antes.
Ao que era pior,
Ao que era corrupto,
Ao que era bom para todos.
Ao adeus da Vida boa
Ao adeus da Vida ruim
Ao adeus.
Adeus.
sexta-feira, 20 de janeiro de 2012
Fim, início ou eternidade?
A chuva bate em meu rosto, escorrega por ele, se confunde entre as lágrimas.
Levanto os olhos, examino a sombra com quem lutava. Grande e vil, insaciável e impiedosa.
Desisto. Soco a lama, grito aos céus “Levem-me para Valinor, levem-me!”. Deito e espero o manto negro.
Um silêncio mortal cai sobre a noite, não ouço chuva, não ouço trovões, não ouço rugidos.
Ouço... Ouço passos. Leves, delicados. Viro-me, uma áurea branca se aproxima.
Deita-se na lama comigo, não se suja. Na verdade, espanta a sujeira.
Abraça-me. Beija-me. Passa as mãos pelo meu corpo indefeso. Cura-me. Desmaio, atordoado.
Acordo. Sem escoriações, sem ossos quebrados, sem sangue, sem agonia, sem dor.
Lá está. A... criatura. “Olá” – digo – “Obrigado por me salvar”.
Não compreendo, aquilo correu. Fugiu quando agradeci.
Levantei e vasculhei. Vastos corredores claros de pedra. Uma fortaleza?
Não havia ninguém.
De repente, me encontro num jardim. Verde, fresco, florido, belo. Não sei como cheguei aqui.
Ouço passos leves, delicados. Era aquilo.
Sinto-me mal. Desembainho a espada, retiro o escudo das costas. Armo-me.
E lá está, a criatura que me salvou. Pequena e humilde, graciosa e bela.
A paisagem... O jardim... Está mudando a minha volta, escurecendo. Aquilo caminhando.
Escuridão nasce do brilho, fogo do verde, desespero da calma... Morte da vida?
Iluminados pelo fogo, enxergo destroços. Os grandes corredores destruídos, esquecidos.
A minha frente, a criatura. Se modificando. Do claro à sombra. De pequena à grande. Graciosa à vil. Bela à impiedosa. Humilde à insaciável.
E surge a sombra. Aquela sombra. Chegou o dia, este É o dia, jovem Hobbit, o dia em que a destrói.
Chuva apaga o fogo. A estrela de Eärendil em minha mão ilumina o local. Lá está, correndo.
Sou atingido, escudo destruído. Novamente. Esquivo-me um ataque após o outro.
Assim, sobrevivo. É matar ou morrer. Ah, devo fugir, senão morrerei. Corro.
Corro sem olhar para trás. Trombo com uma árvore. Um Ent. Para ser sincero. Vários deles. Não me deixariam ir, era essa a hora de enfrentar... Aquilo.
Volto. Tremo. Temo. Suo. Grito no interior. Aponto Eärendil na direção da coisa.
De nada adianta. Aquilo a tirou de minha mão, quebrou-a, a luz esvaiu-se e morreu na escuridão.
Não vejo nada. Um olhar perverso, talvez. Sons pelas minhas costas. Imaginação?
Sou derrubado. Grande ferimento em minhas costas.
“Covarde” – grito – “Enfrente-me como um soldado, elmo a elmo!”.
Levanto-me. Aparece em minha frente. Engrandece-se. Fortalece-se.
Ataca-me. Escorrego por entre suas pernas. Desvio de outro ataque. Defendo mais um.
Ferroada se trinca. “Tenho que terminar isso logo”, penso.
Desvio e escondo-me. Escalo.
Ataco-o por cima, sem dó. Com medo. Com dúvida, “Isto é o certo?”
Mas destruo-o. É o fim. Finalmente, o fim.
Pequena e Grande, Vil e Piedosa. Não importa, a criatura está morta.
Agora vivo a vida e espero a próxima. Ou a procuro. Por um fim em tudo, quem sabe?
Ou ter o meu fim.
Ou ter a eternidade.
quinta-feira, 12 de janeiro de 2012
Mademoiselle
"Aqui não é lugar para um garoto!" ela diz , "nem para uma dama!" respondo. "Você não sabe de nada moleque...olha pra mim, veja todos esses brilhantes, esses trajes! Eu sou rica sabia?Posso tudo!...e no entanto...cá estou, perdida num copo de bedida, a qual nem sinto mais o gosto...Mas o que queria? É a única solução...não, a única solução é a morte, mas para isso falta-me coragem."
Perto dos seus cinquenta anos, Mademoiselle é uma mulher extremamente infeliz, insatisfeita, e , como muitos, afoga as mágoas na bebida. Eu sou seu ouvinte costumeiro, mas por mais que ela fale, nunca soube realmente o que lhe aconteceu...alguma frustração amorosa, algo relacionado a um casamento arranjado...Ela passa a mão pelo balcão engordurado, mostra um sorriso amargurado e sai.
Mais uma figura das entranhas de Paris, é essa Mademoiselle, mais uma personagem com seus sofrimentos, seus segredos, seus medos. É curioso como as pessoas dentro de suas singularidades conseguem ter sentimentos e razões tão comuns! Sublime paradoxo é o ser humano!
sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
Lápis
Amarelinho no seu canto, ele me olhava pedindo para ser usado, escurinho no papel, ele pedia por clemência. Gritos silenciosos de sua boca muda quando eu o apontava para fazê-lo mais fino, mais... Melhor.
Tanto que escreveu esse lápis, meu lápis, tanto que leu, tanto que segurou minhas lágrimas e escutou meu choro. Tanto que... tanto que pediu silêncio. Me desculpe, eu não queria ser tão triste assim, você sabe e, ah, como sabe! Meu lápis amarelinho sabe de tudo.
E agora? Meu lápis amarelinho com número dois e Staples gravado em preto sem borrachinha rosa no topo está acabando. Às vezes penso que sou muito perfeccionista, ou que quero tudo do meu jeito... Afinal, a culpa é minha que eu apontei ele tanto para ficar com aquela ponta, que logo acaba, porque eu sei: ninguém, e nada, é perfeito. E nunca será, por mais que eu mude.
Coitadinho do meu lápis amarelinho sem borrachinha rosa no topo com número dois e Staples gravado em preto. Ele que abraçou tanto a minha mão, ele que sempre me ajudou. Mas acho que ele está é agradecido por acabar, aposto que ele preferiria ter caído nas mãos de uma criancinha que nas minhas tristes, porque ele sabe que não pode fazer nada para me ajudar, que o seu grafite no papel não é o suficiente.
Realmente, meu lápis amarelinho sem borrachinha rosa no topo e com número dois e Staples gravado em preto, não era o suficiente! Nunca foi e nunca será. Mas, olhe, como você me ajudou, como me ajudou! E obrigado, meu lapisinho, eu o amo. Acabe em paz, eu sentirei sua falta, meu lapisinho sem cor, sem borrachinha no topo, sem grafite, sem madeira, sem nada... Você sumiu assim como apareceu.
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
O velho homem do mar
Boina na cabeça, um casaco apertado e o jornal da manhã amassado embaixo do braço, assim é o nosso personagem...Fechado dentro de si mesmo, parece viver por uma simples questão de obrigaçao, cumprimenta as pessoas sem nenhum vestígio de boa vontade, escravo da cortesia que é...mas o que faz dele uma pessoa singular não é sua falta de interesese pela vida, é seu ar de sabedoria, de velho homem do mar...sim, um velho marinheiro aposentado, capitão do primeiro navio à vapor que atracou no porto de Marselha, já atravessou oceanos, enfrentou tempestades e tem muita história pra contar, conhece a vida tão bem como eu conheço Paris...
Mas veja só aonde nos leva a imaginação!Talvez ele seja um simples homem amargurado, com muitos sonhos mas nenhuma realização, alguém que teve todas as oprtunidades na vida, não soube aproveitar e agora culpa o mundo por isso, ou um homem cansado, à espera de uma aventura que nunca chega...é um mistério que eu nunca pude revelar, ou nunca quis para não pôr fim ao interesse...
O bonde finalmente chega , ele olha para os lados como uma última esperança de que alguém apareça, sobe e o bonde continua seu caminho. Até logo, capitão, segue sua viagem, se um dia resolver voltar às águas e viajar até as terras do além-mar lembre-se de um pobre garoto que, assim como o senhor, está sempre à espera da aventura seguinte.
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
Arwen
O fim de mais uma lenda.
Via uns chorando,
Outros sorrindo
E eu, ah, dançando.
Não era o único, claro,
Tinha amigos ao meu lado,
Não havia ninguém sentado!
Canções e fábulas de aprendizagem,
De paixões e de palavras de coragem.
E este velho Hobbit surpreendeu-se ao ver que,
Apesar de tantas aventuras ter feito parte,
Ainda não conhecia a verdadeira arte
De ter bravura
Nestes tempos de loucura.
Vi ao longe a elfa.
Ela chora, seus companheiros riem.
“Levanta a face, jovem, afronta!” – eu torci.
Essa foi a primeira vez que algo que pedi
Se realizara.
Intrometido, estendi meu pescoço para escutar;
“Não veem o que estão a fazer-me?
Chega de me fazer chorar!
Pensem antes de falar!
Não percebem que machuca meu espírito?
Tuas falas cruéis de nada são piadas –“
Nunca vi tantas elfas se sentirem culpadas.
Se sentirem como escória.
Coragem assim como a desta bela criatura
Não conheci nem em história!
Via nela agora... A tão procurada Paz.
Andei até lá devagar
Com minha bengalinha,
Com surpresa abracei-lhe,
Limpei-lhe as lágrimas
E disse-lhe:
“Orgulha-te de si mesma,
Fizeras o que nem o mais bravo dos homens
Tem coragem de pensar em fazer.
Levanta-te e orgulha-te,
Brava elfa,
Tua história será contada
Por toda a Terra Média
E serás lembrada para sempre”
“Arwen”,
Ela me disse.
Imagino que seja seu nome...
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
O que você (nâo) vê!
(odeio berinjela!)
(meu trabalho é tão cansativo!)
(Bando de baderneiros!)
(As coisas são assim mesmo, não vão mudar!)
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
Menino de rua (texto de apresentação)
Conhece todos os cantos da cidade, conversa com todo tipo de gente, do lunático da praça da Bastilha à madame da Champs- Elysées. Já foi expulso, muitas vezes, a pontapés, daquela padaria da esquina - " eu só queria um pedaço de pão, amigo!" - mas é bem vindo na taverna onde se encontram os estudantes, aqueles, os que vão derrubar o governo!
Ele sabe das coisas, conhece a vida como um senhor de setenta anos, foi obrigado a conhece-la, jogaram-no nela e lhe disseram : se vira! E é isso o que ele faz todos os dias : sobrevive, ou como ele diz, dá seu jeito.
Mas quem é esse "ele" afinal? "Ele", na verdade sou eu. Eu sou esse garoto que você vê andando sozinho pelas ruas, esse garoto sem nome, família, sem moradia fixa e sem futuro, sou esse garoto a quem todos chamam de moleque. Eu sou o Moleque de Paris.
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
Sobre dois amigos e uma certa Felicidade
Ela quem?
A Felicidade, ora essa!
Parada a sua porta? Sei.
É verdade, ela estava lá!
E o que achou dela?
Bela, muito bela. E sorria para mim.
Só faltava estar chorando! E convidou-a para entrar?
Não foi preciso, entrou sozinha.Ficamos sentados um olhando para o outro. É engraçado, esperei por tanto tempo essa visita e quando, finalmente, ela chegou, eu não soube o que fazer.
Você é patético.
Talvez eu seja. Eu podia ter pedido pra ela ficar, morar comigo, sabe? Sei que daria certo, mas ela me intimida...
Ela iria embora de qualquer jeito, sabe como ela é, nunca fica por muito tempo. Relaxa, ela volta.
Ela não saiu pela porta, saiu pela janela. Esquisito, não é?
Previsível, eu diria.
Onde será que ela está agora?
Na porta de outro alguém, pronta pra iludir mais um e ir embora de repente.
Como ela fez com você?
Sim, como ela fez comigo e com todo mundo.Ela pode ser bem cruel às vezes.
Ela só cumpre seu dever.
Você acredita mesmo na Felicidade? Digo, que pode tê-la para sempre?
Mas é claro!
Então ouça meu conselho, velho amigo: na próxima visita feche bem as janelas, para não perde-la mais uma vez!
terça-feira, 29 de novembro de 2011
E eis que chegamos ao fim
terça-feira, 15 de novembro de 2011
Apenas mais tinta:
Criatividade para quê?
Sentir para quê?
Escrever é apenas
Botar a mão na caneta
E saber quando finalizar o começo.
Um papel em branco
Nada menos é que outro cheio de palavras
Palavras são fúteis,
São inúteis,
São vãs.
O branco
É meu silêncio.
A tinta,
Minha confusa
Barulheira.
E pena eu tenho
Dos que me leem
Dos que pensam que atrás
Da negra tinta do nobre polvo
Existem sentimentos.
Tolos.
Ingênuos.
Sonhadores alienados.
Escravos da própria imaginação.
Seres avoados, percam as asas.