segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Ensaio sobre nada em absoluto - part I

Ele precisava parar de fumar. Maximiliano Dyce III nasceu em uma tarde quente de verão  brasileiro. Nenhuma novidade em se tratando dos trópicos. Sua mãe deu a luz a um menino pequeno, com cabelos demais e olhos azul acinzentados.  É verdade também que não fora seu primeiro parto. Sim, porque Maximiliano Dyce  III era o mais novo de sete irmãos.  Todos saídos de sua mãe, o que até há alguns dias atrás ela custava a crer.
Seu pai, Maximiliano Dyce, era um importante cafeicultor que costumava fumar cinco cachimbos por dia, sem tirá-los da boca para falar, comer, ou qualquer que fosse as funções de uma boca.  E naquela tarde quente de verão nascera seu filho. Maximiliano Dyce III possuía esse curioso nome uma vez que descendia de ingleses - os Dyce, de Devon - como não dissemos anteriormente, tendo como antepassados viajantes curiosos da época memorável Del Rei.
 Como fosse seu nome comprido, enfadonho e inútil, passou a ser chamado por alguns, entre os quais sua avó, de ...terceiro.  A matriarca da família não nutria muitos sentimentos pelo neto, que ao seu ver era nada mais que um fracasso. Um grande fracasso. “ Um desmedido fracasso” em suas palavras.
A justificativa que dava a tanto rancor, era que Terceiro não estudara nem na Escola de Medicina nem sequer na de Direito. Tampouco era engenheiro. Sofria do pulmão e era fraco para as bebidas. Mas o maior desgosto da Sra. Dyce era que o neto lia poemas. Fazia pior: versava!
É sim, notavelmente, um desgosto. Não discordamos da Sra. Dyce que ler poemas não é uma coisa a qual contar para os vizinhos.  Mas o pobre Maximiliano tinha na época que começou a ler poemas, tão somente treze anos! Contados e recontados! Recontados porque era custoso crer que um garotinho tão franzino, tímido e delicado tivesse mais que nove.
O que me põe a falar nesse tom de uma família tão digna de pena é que eu era vizinha dos Dyce. Nascera na casa ao lado no mesmo dia de Maximiliano. Sim, na mesma tarde quente dos trópicos.  A única diferença é que eu não tinha um nome ridículo nem descendia de ingleses.  Minha família era conhecida por os Diaz. Sr e Sra. Diaz possuíam quatro filhos, três meninos e uma menina – eu. Sr. Diaz era um homem alto, com os cabelos muito bem penteados e brilhantes, e um bigodinho fino rente aos lábios. Fumara charutos e foi quem primeiro ofereceu um a Maximiliano. “ O charuto é o melhor amigo do homem” disse. Usava calças com pregas impecáveis, paletó e suspensórios. Aos sábados levava seus filhos ao circo ou ao parque de diversões e aos domingos ia a missa, devidamente acompanhado da mulher. Era republicano.
 A Sra. Diaz casara muito nova. Apesar de amar verdadeiramente o marido sempre almejou ser artista e viver para o mundo.  Filha de um banqueiro e uma escritora, nascera em berço de ouro e usufruiu da educação que todo rico “tem por direito,como dizia papai, apesar de eu dispensar esse meu direito” justificava-se. Mamãe não era uma mulher de sua época; pensava e muito a frente de seu tempo, sendo assim censurada pelo Sr. Diaz quando sua língua adquiria comportamento próprio em ocasiões não muito discretas.
O  Sr. Diaz ou simplesmente Fernando, para poucos ou ninguém, não era de todo machista; sabia reconhecer o talento às artes de sua esposa, mas por outro lado temo não me recordar se algum dia de sua vida ele lhe dispensou  palavras de incentivo. Não, contentava-se em abaixar o jornal que lia  quando ela lhe recitava algum verso no início da noite, e sem tirar o charuto da boca dizia “ admirável, querida. Certamente admirável”, apesar de eu sempre suspeitar que ele se referia ao balanço da Bolsa de Valores. Sim, porque papai era rico e investia grandes valores na maldita bolsa.
 E é nesse ponto que retomo aos Dyce. Papai e o Sr. Maximiliano Dyce  eram “amigos para negócios”, como eles mesmos diziam, abraçados de lado, cada um com seu respectivo fumo e  uma carteira muito cheia no bolso das calças. Eles formavam duas figuras curiosas nas noites em que nossos vizinhos no visitavam. Mamãe e Helena – a mulher do Sr. Maximiliano -  travavam longas conversas  a respeito da melhor forma de se cozinhar um bolo. Isso apesar de mamãe ser uma criatura razoavelmente culta, ainda era uma mulher da década de quarenta.
 Não é necessário dizer sobre o que os dois chefes de família discutiam incansavelmente durante horas a fio. Eu ficava observando os cifrões brotando-lhes da boca, dos olhos e seus bolsos estufando de minuto a minuto.
 Mas esses momentos em vizinhos já existiam antes de eu e Maximiliano ousarmos nascer. Mas pois que nascemos : ao dia 6 de janeiro, Dia de Reis. Eu, com três quilos e duzentos gramas. Ele, prematuro, com um quilo e novecentos, como a Sra. Helena repetiu centenas de vezes ao contar como superou admiravelmente bem a vinda de um bebê ao sétimo mês.

 E naquela tarde quente de janeiro de 1946 abrimos a porta para o mundo.

Eu sou free, sempre free.

weheartit.com

Alguns espíritos humanos não vêm pisar nesse chão de mundo para que lhe seja dado voltas em corrente, como um escravo de seus próprios infortúnios. E também não é desses espíritos que se deve esperar uma aceitação súbita ou ainda inquestionável das peripécias de um destino ou das imposições sociais. Pode ser que esses espíritos possam vir a ser interpretados como quem padece da fraqueza do medo ou da preguiça. Quando na verdade, esses espíritos só possuem uma asa um pouco mais longa e envergada que a de outros. E também pode ser que o abrir de asas deles possa vir a machucar as de outrem, que esteja ao lado (e é por isso que eu digo que é melhor que a Liberdade abra as asas sobre nós). Alguns espiritos são como cavalos selvagens que morrem de desgosto por apenas imaginar-se selar. Para esses espíritos humanos não há fadiga maior que prender-se a alguém, a algum ou a algo. Para esses espíritos não há Amor que valha uma Liberdade. Para esses, é preciso deixar-se ir, não tocar, não acorrentar e não dispensar demais sentimentos que não os mui necessários. Alguns espíritos humanos tem forma de águia. E ave bonita como a águia não se deve aprisionar nem  ao menos pedir que se conforme com as presas de um mesmo chão. Para esses espíritos meio que águia, meio que cavalo, todo mundo deve lançar um olharzinho de índio pra poder dizer: vá,vá. "Espírito que não pôde ser domado."

domingo, 31 de março de 2013

Casinha branca

" Chora, menina, chora. Chora porque não tem vintém..."

A menina de vestido rendado, cantarolando baixo, espia, de tempos em tempos, pelo vidro da janela. Ninguém. Bate o pezinho no assoalho de madeira, arruma a cabeleira cacheada, se olha no espelho e volta à janela.

Ali, naquela mesma casinha branca, no meio das árvores, alguém dorme numa cadeira de balanço, os braços soltos, a cabeça baixa e a respiração tranquila. A chaleira apita no fogão, continua dormindo.
Na estrada de terra, próximo ao portão de madeira, surge alguém. De camisa simples, olhos fugitivos e sorriso fácil, ele a espera. 
O gritinho sufocado da menina quase a entrega. Ela passa sorrateiramente pela sala - profissional na arte da fuga - sem despertar o sono do outro morador da casinha branca, e sai ao encontro daquele que já a espera impaciente, para viver sua história de amor.
....Desaparece menino sorridente, desaparece menina da cabeleira, desaparece pessoa que dorme tranquila, cadeira de balanço, chaleira, estrada de terra, portão de madeira. Resta, apenas, uma casinha branca abandonada, no meio das arvores e do mato que disputa espaço com ela. Através do vidro empoeirado da janela, pode-se, somente enxergar, dentro da casa, um velho espelho quebrado.
Teria sido um lindo cenário,
para uma linda história. Ah, triste imaginação!

sexta-feira, 29 de março de 2013

Just kidding.

     Você sabe de uma coisa, my dear, custei a crer de suas intenções. Sim, uma garota como você não anda por aí como se não tivesse nada a perder. Mãos abanando, como suas orelhas. Não, esse não é um lugar para pessoinhas como você, my dear.

    Se tivesse tanto intelecto quanto seu vocabulário sugere que tenha, eu juro que não reviraria os olhos nas órbitas quando você veste seu melhor boné de pedantismo. Desconfio das garotas que escolhem palavras antes de falar. Nem só de palavras vive o homem! Você sabe, é preferível cuspir palavras do que as polir demais. Soa tão plástico quanto seu cabelo.


quinta-feira, 28 de março de 2013

De médico e de louco

O velho trancou a porta do seu consultório, cansado depois de um longo dia de trabalho. Próximo dos oitenta anos, já tinha visto e vivido tanta coisa...Mas ainda se lembrava, com muita nitidez, de seu primeiro dia na faculdade. Cheio de sonhos e expectativas, um idealista! Salvaria vidas, curaria dores, brincaria de Deus, quem sabe? E mesmo quando a morte fosse inevitável, ainda estaria ali, segurando nas mãos do paciente, apenas para dizer: "Você não estará sozinho". O tempo passou, tornou-se médico, sofreu como ninguém as humilhações daquela tal de hierarquia, mas nunca, em nenhum momento, abandonou seus ideais.
O médico suspirou, afastando aquelas lembranças e, vestindo sua velha casaca amarrotada, seguiu seu caminho pela rua deserta e coberta de neve.
Próximo dali, um homem, envelhecido pelo sofrimento e não pelo tempo, caminhava descalço, tremendo de frio. Ele cantarolava ,baixinho, alguma música triste, parando, ás vezes, para falar com alguém que só ele era capaz de ver.Um velho de casaca, que passava do outro lado da rua, vendo aquela cena curiosa, resolveu se aproximar e reconheceu, naquele homem, um de seus pacientes.
Um dia aquele homem fora um gênio, um visionário. Era cheio de idéias e planos, enxergou o mundo como ninguém jamais fez, mas sua mente sensível não suportou o que viu, enlouqueceu. Assim, todos os dias ele saía de casa e caminhava sem rumo, tentando, em vão, organizar seus pensamentos e, quem sabe, encontrar uma solução para os males do mundo. Pobre criatura.
O médico já habituado,  pegou-o pelo braço conduzindo-o de volta para casa. Já não havia cura para aquele miserável, mas o médico não desistia, e ouvia, pacientemente, tudo o que tinha a dizer o pobre homem, pois no fundo, por mais estranho que parecesse, sempre era capaz de ver sentido naquilo tudo.
E caminhavam os dois, todos os dias pelas mesmas ruas. Um tentando ser médico, o outro fingindo ser louco.


quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Unique



Feche os olhos, conte até 10, sinta terra se movendo, respire fundo, sinta seu coração batendo contra o peito, a expectativa que cresce dentro de si, o maremoto de pensamentos e frases soltas, as imagens da felicidade e da tristeza em um redemoinho de cores... Sinta da ponta do seu dedo do pé até as raízes do seu cabelo, passando pela cintura, dedos das mãos, axilas, lábios e orelhas... Sinta a pulsação da vida, da sua vida, em todos os bilhões de universos e realidades, conhecidos ou desconhecidos, reais ou imaginários, de todas pessoas que respiram e todas que pensam, nenhuma sequer se parece minimamente com você. Você viveu fatos que – embora outras pessoas possam ter vivido – nunca estiveram ordenados nessa cronologia e nessa importância, em um corpo com as células e moléculas com essa conformação, em uma determinação genética e fenotípica inéditas, em um cérebro com uma capacidade de interação, armazenamento e imaginação impressionantes. Você é único, como uma gota de orvalho repousando em uma folha de um pé de acerola na manhã de uma segunda-feira, existem infinitas gotas, trilhões de folhas, bilhões de pés de acerola, milhões de manhãs, milhares de segundas-feiras, mas a maneira como você imaginou isso.. só existiu uma vez, e uma vez dentro da sua consciência.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Despedida


Vil Sociedade,
Me prendeste em
Correntes de palavras,
De juramentos,
De pressão.

Por meio desta
Minha última obra,
Meu último poema,
Me despeço de vocês.
Sentirei a falta de todos.

Mas cansei-me,
Quebro as algemas,
Viro livre,
Torno a avoar por aí.
Almejo novas aventuras.

Não esquecerei do
Que passamos juntos
Mas este velho Hobbit
Quer crescer
E nada mais vê aqui.

Um triste adeus
A todos vocês...

Quem sabe não volto
A ajudar-lhes
Com minha trêmula caligrafia novamente.
Bilbo Baggins.



PS: Esta é apenas uma forma figurada de despedida que fiz e as palavras que nela se encontram são cruéis, mas nem um pouco verdadeiras. Espero que os leitores entendam que é apenas uma obra de ficção, tendo a despedida como única verdade. Portanto, despeço-me; um grande abraço aos que me acompanharam. Adieu!

domingo, 18 de novembro de 2012

Desaparecimento


Do espaço escuro, o asfalto,
Das estrelas, o vidro estilhaçado.
Em mil pedaços
Brilhantes e cintilantes.

Eu.

O descer da caixa,
O subir da alma.
A libertação,
Mas nem sempre a salvação.

Sua.

A chuva da calma desespera
Enquanto a gente espera.
Espera um milagre
Do frio e da outra metade.

Minha.

O cheiro de terra molhada,
A conquista de território.
Cada um com sua bandeirinha isolada,
Na madeira encharcada.

Você.

Saudação em trovões,
O céu em clarões.
Um acolhimento
Ou um esquecimento?

Nosso.

O pai nosso não é o mesmo,
Mas ainda assim estou jogado a ermo.
Esperando o reencontro
Em um fantasioso ponto.

Assim como todos.


sábado, 3 de novembro de 2012

Pseudosoneto de um louco



Sinto o perigo apoiado em minhas costas,
A sombra de dois passados monstruosos.
Deixe-me falar enquanto deitado em seu colo.

Salve-me em carinhos e em cafunés,
Mas nada de café!
Só amor, sem intrigas, sem dor.

Um abraço apertado,
Duas mãos desesperadamente se agarrando,
Duas vidas, uma de cada lado.
Perdidamente se procurando.

Procurando no meio da multidão,
No meio da solidão,
Pela única possível razão
Para uma fantasiosa salvação.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Sonhos e ilusões

Sonhos que me iludem,

Sonhos que sonham em sonhar,

Sonhos que me querem bem,

Sonhos que acabam por me acabar.


Sonhos que destroem

Enquanto mascarados de cura.

Mas eu sei que a queda é dura

E que é fria a chuva.


E, apesar de vocês, delírios noturnos,

O sol ainda há de me esquentar a alma

E de me fazer conquistar a calma.

Apesar de vocês, amanhã será um dia diurno.


Voo em desespero, recuso quem me trocou.

Mas apenas em vocês, sonhos malditos!

Quanto ela, eu sei que ninguém tão fundo me tocou,

Porém, também sei que ninguém tão fundo me machucou.


Com "ditos" diferentes de "feitos",

Abrir-lhe-ei com facão os peitos

E apertarei teu coração mal feito

Para que, como eu, você morra em dor e, assim, eu renasça.


Rios de lágrimas não eram nada,

Gritos de ódio eram o que predominava.

Dei-lhe tudo e mais que podia

Para após "te amos", descobrir que me traía.


Portanto, adeus, coração de pedra,

Que lhe tenha valido a pena, o fim dessa era.

Que fique esquecido o passado

Enquanto a cicatriz nunca fechará ao teu lado.


Que teus futuros amantes tenham órgãos avantajados

E gozem-lhe à boca como aos teus antepassados.

Como o que queria ao procurar entre alheios e me perder.

Espero que tenha se satisfeito, pois, de mim, amor nenhum há novamente de ter


Vá, e não volte!

Retorne aos seus montes de enamorados!

Diga "tchau" ao pote,

Que tal sensibilidade nunca terão seus tarados.


Despede-se de presentes, abraços e beijinhos;

Veja-me ao longe e corroa em saudades.

Destrua-se em culpa e na falta de mindinhos.

Cresça à tua idade, e crie, megera, sanidade.


Que os louros desta flâmula com os olhos azuis lhe roguem pesadelos

E que os corpos em forma de Deuses Gregos

Sentem-lhe a mão à cara

Para que deixe de ser arreganhada!


E que me mantenha para sempre em tua mente,

Que não me esqueça e se torture constantemente.

Que nunca mais destrua como me destruiu,

E que, ao chorar sobre teu coração estilhaçado, me assista enquanto na tua cara, rio.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Paint it Black

O amor, ah, o amor. Coisa bizarra que fica presa no peito, não é? Porque não some? Porque meus anticorpos não o retiram e porque meu coração não se recupera como qualquer outro órgão?

A adaga da minha queda se encontra nas minhas costas já há um longo tempo, e eu ainda não a consegui tirar. A adaga que tem palavras cruéis cravadas em sua lisa, brilhante e negra superfície.

Ela avermelha-se. Cada vez mais, sugando meu sangue de homem caído, um homem que não quer, não pode desistir, mas desistiu. Dia a dia, fico mais fraco, dia a dia, meu coração se exausta e racha um pouquinho mais como as secas terras do sertão. Sabem que essas terras trazem apenas miséria e tortura. Mais uma semelhança.

Mas eu sou um homem forte, essa é uma dor que eu consigo aguentar. Embora agora meu mundo esteja em preto e branco, é assim que o quero, é assim que o preciso. Toda noite, escondo minhas lágrimas nas gotas frias d’água que caem do céu, ou no sorriso que mostro diariamente. Eu amo esse sorriso, sabiam? Tão simples e feliz, tão falso e morto.

Consigo sentir a maldita faca que me deu um empurrãozinho ao meu precipício de dor ser minimamente retirada quando tenho a presença dos que me importam, que se importam, que colorem minha vida e me fazem rir de verdade. Eu sinto falta dessas pessoas. São elas apenas... Três ou quatro, de todos que conheço. Que podridão.

Então porque não vêm? Porque não me curam e me salvam? Porque não me tiram da escuridão que tanto amo e odeio? Pois, sozinho, eu sei que não sairei: gosto do mistério, do aconchego, da frieza e da sua complexa dor, mas ela é como uma droga de um cigarro; lhe trás o bem, mas corrói-lhe por dentro. Preciso de vocês. Especificamente de você.

Eu sei que retirar a adaga transformará minha ferida em aberta, e eu sei que muito sangue escorrerá por ela, sei que me enfraquecerei, sei que me destruirei aos poucos, mas não será por ela. Não pela adaga, não pelos escritos. E, quem sabe, talvez essa minha dor toque-lhe, talvez esse meu eu toque-lhe, talvez... Talvez.

Tudo o que quero é o fim dessa dor que me faz bem, dessa tristeza que me faz rir, dessa felicidade que me faz chorar. E é, também, tudo o que não quero. Na verdade, eu queria não a querer, queria não a ter como necessidade, queria. Mas preciso, neste meu amor de louco. Tenho a necessidade de deixar para você uma cama de rosas, rosas negras como o céu da noite, esperando pelo negro profundo e único de teus olhos e de teus cabelos, por teus risos e perfeita face. As rosas negras por esperarem pelo choro que exaltarão ao vê-la, pelo fogo em que vão arder vindo de teu amor, pela lâmina melancólica cheia de lembranças que cairá e será consumida pelas chamas escuras de teu coração que cauterizarão minha ferida e me farão amar novamente, me farão sorrir e poder chorar novamente. Tudo o que eu preciso é você, em toda a impossibilidade de isso acontecer.

Com dor, com repressão e implosão de sentimentos, com lágrimas, com saudade, com necessidade, com amor, com medo,

O Hobbit.

domingo, 6 de maio de 2012

Helpless Flames

As I open my eyes and see
Red flames pouring down on me
Consuming me in a ball of heat,
Destroying my empire of cold and freeze

My fortress has been melt down,
And so has my heart
It flourishes over the red dawn
That I see in your soul.

Free me from this,
I don’t want to get on the same road I did
Leave me out from your fire reign.
Let the darkness embrace me once and for all, I plead.

Your love is my ascension
And your love is my demise.
My demise is my inside revolution,
My ascension is my weakness

And here I am, once again
Fooling myself in pretend sadness
And all I can hear is you saying:
“I love you” – I bid, let me love you too
And help you out from your helpless place

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Passado os anos trinta

Passinhos pequenos e lentos dos pés enrugados nas sapatilhas de couro surrado.
Ar de sabedoria,
Olhos azuis como o céu do paraíso,
Nariz grande e um amor de sorriso,
Lábios rachados,
Cabelos grisalhos e escassos
Roupa dos anos 30, coisa antiga!
Empoeirado e cheio de fatiga,

Olhos cansados e desesperados
A procura do inesperado
A procura do passado
A procura do certo e deixado de lado
A procura da juventude
Ou de uma pausa para plenitude
Uma pausa para tomar um ar,
Poder respirar e descansar,
Para assim continuar
Com seus passinhos pequenos e lentos dos pés enrugados nas sapatilhas de couro [surrado

terça-feira, 10 de abril de 2012

Amiúde.

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Só queria sentar em uma cadeira no fim da tarde, em uma
varada qualquer, e ver o por do sol. Só queria escrever em frases simples todos
os sentimentos do mundo. E não há problema nenhuma em sermos apenas eu e meu
rock and roll. Sem rodeios, sem justificativas. Diretamente do coração.
Ninguém disse que seria fácil. Mas ninguém disse que seria
em pares. Até andaria de mãos dados por algumas milhas da mesma estrada, mas na
primeira curva eu não tentaria manter os dedos entrelaçados.
Diga-me que podemos seguir as primeiras estrelas da noite,
mas distantes, sozinhos, da forma mais poética. Dê-me uma gaita e eu tocarei
embaixo de uma árvore qualquer. De uma árvore que aceite minha solidão
escolhida e todos os meus milhões de amigos. Eu manterei dessa forma.
Diretamente do coração.
Então deixe que seja diretamente do coração. E não há outra
forma de ser senão a solitária. Pois não há nada como um silêncio que em si
mesmo não é nada mais que o eco do mundo. E não se escuta o eco do mundo com
mais alguém porque não se pode escutar o coração de outrem, não da forma mais verídica.
E por mais longe que eu vá, será sempre diretamente do
coração. Porque eu estarei só e deverei somente, e nada mais, que a minha
essência.
A casa está lotada e eu só tenho um violão em minhas mãos e
toda a poesia da vida solitária. Tocarei, então, diretamente do coração. Então me retribua, diretamente do coração.
Retribua com a sua distância do meu coração. Direto.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Adieu

Sou da sociedade,
O palhaço!
O amor esquecido,
O humor apagado.

Vivo a alegrar,
Mas choro a noites de pesar.
Ah, felicidade que não há,
Porque não me aparece?

Porque na porta
Não me bate?
Prometo lhe fazer nota de música,
Prometo cumprir minha parte!

Ah, felicidade,
Quebre as regras da solidão,
Venha, estilhace a minha janela!
Tire-me desta depressão.

Uísque na mão,
Cocaína na mesa.
Salvação?
Ah, que ninguém me impeça!

Um abraço, mundo!
Admito que foi horrível enquanto durou.
Mon amis, adieu!
La réunion sera de l'autre côté

quarta-feira, 14 de março de 2012

Público

Não começou exatamente naquela tarde de maio. Agora que me recordo de
minhas visitas anteriores, convenço-me que já começara assim, aos poucos, cada
vez que eu ultrapassava a velha porteira do sítio. Começou sucintamente, com algumas conversas, talvez. Mas infelizmente,
começou.

Acontece que naquela mesma tarde de maio eu peguei o trem das sete horas
da manhã. A estação vazia, com alguns ecos escalando pelas paredes. Subi as
primeiras escadas escutando desgostosamente o barulho do meu sapatinho.
Presente do Natal passado. Não me lembro exatamente de quem...fora um Natal
barulhento, um Natal de bêbado, enfim. Mas eis que terminei o último degrau e
olhei os dois lados do corredor: chão encerado refletia um quase reflexo meu. O
zelador ainda encerava, teimosamente, uma marca no chão. Um barulhinho
agoniante saia do esfregão. Esfrega, esfrega.
Decidi pelo lado esquerdo,
igualmente encerado, para minha decepção. Encontrei o guichê das passagens,
tipicamente alto demais. Sujo demais. Público demais. A mulher me olhou por
cima dos óculos de bibliotecária, deixou claro sem dizer palavra que eu não
deveria estar ali; a Connie Francis ecoava um pouco distante enquanto eu não
falava nada.
-Uma passagem. Para as sete. O
trem.
Ela bufou e abriu uma gavetinha,
entregando-me um papelzinho. Bufou de novo quando paguei com uma nota de
cinquenta. Depois do troco, preferi não agradecer.
Fui esperar o trem. A estação
continuava vazia. Sentei-me em um banco de madeira e coloquei minha malinha aos
meus pés. Não levava muitas coisas. Seis e quarenta e sete. Já havia lido
metade dos nomes escrito com canivete -ou com chave- no assento, e relado sem
querer em um chiclete embaixo do banco, quando o trem apitou.
Peguei minha malinha e sentei ao
lado de um moço que dormia. Dormiu a viagem inteira. As quatro horas e meia.
Direto, sem se mexer. Ele tinha a pele branca e os cabelos pretos muito bem
repartidos. E ares de aristocrata.
Nunca mais o vi. Mas acredito que
ele continua dormindo. Ou acordou na última parada do trem.

Melodicamente

Quisera eu nascer compositor. E
das mesmas notas fazer sair um turbilhão de olhares. Se soubesse, comporia em
praça pública. Seria caricaturista de sentimentos a preço baixo. Se eu tivesse
nascido compositor comporia toda uma trilha para cada criança que visse, para
cada lágrima que caísse para cada poeta que amasse.
Se fosse eu compositor ficaria
surdo para ouvir da forma mais genuína cada nota. E se eu fosse tocaria pianos
invisíveis e de pianos invisíveis nasceriam pétalas de rosas.
Mas se eu não sou compositor,
quem me dera ter nascido um! Ter fingido ser um! Ser louco e acreditar que
sou...mas ai de mim pobre criança rica. Rica de nada, de espasmos nervosos por
não saber compor sequer palavras. Por não saber sequer do que se compõe seu
próprio eu.
Porque se tivesse nascido
compositor, comporia a mim mesmo. A começar pelo Lá e a terminar por qualquer sustenido. Porque se
tivesse nascido compositor, saberia que nasci para a lua, que nasci com alma e
que sou um motivo a mais para crer na existência de Deus.
Mas se eu o fosse, talvez não
admirasse tanto aqueles que são. Um artista nunca admite seu talento; e se
admite é porque o sente perder. Se eu fosse um compositor não quereria nada
além do que a satisfação de perceber a sincronia de cada nota escrita na
partitura ou nascida na tecla do piano.
Contudo não o sou. Não nasci
sendo e nem com o gene do aprender a ser. Escuto , então, na esperança de não
ser má ouvinte . Escuto na esperança que, de olhos fechados, entenderei os
sussurros baixinhos da letra falada em uma melodia sem voz. Porque alguém disse
uma vez que silenciando um pouco seu interior, é possível entender o interior
do compositor clássico.
Eis que fico com a tarefa de
ourives. E ai de mim pobre ourives, que tenta lapidar em suas próprias mãos o
ouro de uma sinfonia inteira!

Lese

Havia três campinas a céu aberto. Céu azulado e rosa feito
algodão doce. Nas três campinas nós relembrávamos nossa infância. E criávamos
tudo de novo. Tudo outra vez. Na campina nós dávamos as mãos e andávamos três
passos cada, juntos. Ainda me pergunto se não era o céu a campina, e o algodão,
nós mesmos.
Ainda me pergunto se nós não pisávamos no céu. Ou se
pisávamos dentro de nós mesmos. E também
ainda me lembro do silêncio acariciando cada pétala de cada flor, com cada grão
de pólen. E me pergunto se o silêncio não
era nossas mãos, nossos dedos pequenos, macios, infantis, ingênuos. Dedos que
nunca sentiram nada além de...flores?
E quando deitávamos, sentindo as cerdas da grama em cada
centímetro de pele, você com seu vestido de lese azul, ou era eu que vestia o
azul do seu vestido? E quando deitávamos na tarefa banal de ver estrelas, você
me perguntava qual era a banalidade nisso. Eu respondia com toda a sinceridade
do mundo que eu era criança, e ainda não conhecia a banalidade.
E não há nada de errado com isso. Mas se tivesse um piano de
cauda no meio de uma das nossas três campinas, nós nos sentaríamos e tocaríamos com aqueles mesmos dedos pouco
treinados alguma melodia de Beethoven. Não porque é Beethoven seu compositor
preferido, mas por ser Bach forte demais. E qualquer força maior rasgaria seu
vestido de lese azul, o nosso vestido de lese azul.
Mas era azul o céu aberto de algodão. E é azul tudo aquilo
que ecoa no universo: nossas notas no piano da campina, seu vestido de lese e a
minha nostalgia poética. Por que nunca vi seu vestido de lese azul, e nunca me
deitei em nenhuma das três campinas, e nunca toquei piano...e nunca ouvi Bach e
sequer sei quem é Beethoven. Sei apenas que no inverno faz frio e que em algum
momento verei estrelas nos olhos de alguém. E nesse momento saberei que vi sua
alma. E nesse momento saberei que vi uma alma, e poderei contar a todos os
poetas e a todos os filósofos que, sim, eu vi uma alma. E que ela era azul.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Chamem-me de verdade
Chamem-me de cavaleiro do amor,
Pois é o que sou na crueldade
Da não mentira que causa dor

Sou o sincero
O feliz e invejado
Lá se vai o enciumado
Desejando a mim apenas mistérios.

Infelizes mistérios de cavernas escuras,
Já não adianta mais, eu enxergo!
O coração acende e ilumina as estruturas
Que se mudam em sintonia com o vero
Com o eu.

Este sou eu
Aos olhos dos passantes:
Convencido!
Arrogante!
Vagabundo!

Mas este sou eu
Ao meu mundo:
Pela própria mente tecido,
Um ser pensante,
Imaginativamente mudo.

Este sou eu,
Modéstia à parte,
Melhor,
Solto,
Feliz,
Longe do frio
Piche social.

Andando sempre,
Sempre em frente.
O Passado não existe,
O Presente é Carpe Diem
O Futuro não existe,
Então que seja;
Carpe Diem
Em tudo,
Para todos!
Felizes os últimos
Se os primeiros tiverem educação.
Fodam-se os últimos,
Somos nós,
Em dupla trabalhamos melhor,
Em dupla começamos a criar um governo
Umas regras aqui
E ali, até todos
Seguirem o que eu digo
E tudo voltar ao que era antes.
Ao que era pior,
Ao que era corrupto,
Ao que era bom para todos.
Ao adeus da Vida boa
Ao adeus da Vida ruim
Ao adeus.
Adeus.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Fim, início ou eternidade?

Agonia. Sangue. Espada no chão. Escudo destruído. Armadura... Penetrada. Socorro.
A chuva bate em meu rosto, escorrega por ele, se confunde entre as lágrimas.
Levanto os olhos, examino a sombra com quem lutava. Grande e vil, insaciável e impiedosa.
Desisto. Soco a lama, grito aos céus “Levem-me para Valinor, levem-me!”. Deito e espero o manto negro.
Um silêncio mortal cai sobre a noite, não ouço chuva, não ouço trovões, não ouço rugidos.
Ouço... Ouço passos. Leves, delicados. Viro-me, uma áurea branca se aproxima.
Deita-se na lama comigo, não se suja. Na verdade, espanta a sujeira.
Abraça-me. Beija-me. Passa as mãos pelo meu corpo indefeso. Cura-me. Desmaio, atordoado.

Acordo. Sem escoriações, sem ossos quebrados, sem sangue, sem agonia, sem dor.
Lá está. A... criatura. “Olá” – digo – “Obrigado por me salvar”.
Não compreendo, aquilo correu. Fugiu quando agradeci.
Levantei e vasculhei. Vastos corredores claros de pedra. Uma fortaleza?
Não havia ninguém.
De repente, me encontro num jardim. Verde, fresco, florido, belo. Não sei como cheguei aqui.
Ouço passos leves, delicados. Era aquilo.
Sinto-me mal. Desembainho a espada, retiro o escudo das costas. Armo-me.
E lá está, a criatura que me salvou. Pequena e humilde, graciosa e bela.
A paisagem... O jardim... Está mudando a minha volta, escurecendo. Aquilo caminhando.
Escuridão nasce do brilho, fogo do verde, desespero da calma... Morte da vida?
Iluminados pelo fogo, enxergo destroços. Os grandes corredores destruídos, esquecidos.
A minha frente, a criatura. Se modificando. Do claro à sombra. De pequena à grande. Graciosa à vil. Bela à impiedosa. Humilde à insaciável.
E surge a sombra. Aquela sombra. Chegou o dia, este É o dia, jovem Hobbit, o dia em que a destrói.
Chuva apaga o fogo. A estrela de Eärendil em minha mão ilumina o local. Lá está, correndo.
Sou atingido, escudo destruído. Novamente. Esquivo-me um ataque após o outro.
Assim, sobrevivo. É matar ou morrer. Ah, devo fugir, senão morrerei. Corro.
Corro sem olhar para trás. Trombo com uma árvore. Um Ent. Para ser sincero. Vários deles. Não me deixariam ir, era essa a hora de enfrentar... Aquilo.
Volto. Tremo. Temo. Suo. Grito no interior. Aponto Eärendil na direção da coisa.
De nada adianta. Aquilo a tirou de minha mão, quebrou-a, a luz esvaiu-se e morreu na escuridão.
Não vejo nada. Um olhar perverso, talvez. Sons pelas minhas costas. Imaginação?
Sou derrubado. Grande ferimento em minhas costas.
“Covarde” – grito – “Enfrente-me como um soldado, elmo a elmo!”.
Levanto-me. Aparece em minha frente. Engrandece-se. Fortalece-se.
Ataca-me. Escorrego por entre suas pernas. Desvio de outro ataque. Defendo mais um.
Ferroada se trinca. “Tenho que terminar isso logo”, penso.
Desvio e escondo-me. Escalo.
Ataco-o por cima, sem dó. Com medo. Com dúvida, “Isto é o certo?”

Mas destruo-o. É o fim. Finalmente, o fim.
Pequena e Grande, Vil e Piedosa. Não importa, a criatura está morta.
Agora vivo a vida e espero a próxima. Ou a procuro. Por um fim em tudo, quem sabe?
Ou ter o meu fim.
Ou ter a eternidade.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Mademoiselle



Ela está todo dia, naquela mesma taverna suja e escura, sentada no balcão com o olhar perdido. A Mademoiselle - como a chamo por falta de um nome verdadeiro - entra na taverna lá pelas onze da noite, e de manhã, quando eu chego, ainda está lá. Não sei quantas doses essa mulher já tomou, mas ela conserva, em parte, a sobriedade. Eu me sento ao seu lado e conversamos.
"Aqui não é lugar para um garoto!" ela diz , "nem para uma dama!" respondo. "Você não sabe de nada moleque...olha pra mim, veja todos esses brilhantes, esses trajes! Eu sou rica sabia?Posso tudo!...e no entanto...cá estou, perdida num copo de bedida, a qual nem sinto mais o gosto...Mas o que queria? É a única solução...não, a única solução é a morte, mas para isso falta-me coragem."
Perto dos seus cinquenta anos, Mademoiselle é uma mulher extremamente infeliz, insatisfeita, e , como muitos, afoga as mágoas na bebida. Eu sou seu ouvinte costumeiro, mas por mais que ela fale, nunca soube realmente o que lhe aconteceu...alguma frustração amorosa, algo relacionado a um casamento arranjado...Ela passa a mão pelo balcão engordurado, mostra um sorriso amargurado e sai.
Mais uma figura das entranhas de Paris, é essa Mademoiselle, mais uma personagem com seus sofrimentos, seus segredos, seus medos. É curioso como as pessoas dentro de suas singularidades conseguem ter sentimentos e razões tão comuns! Sublime paradoxo é o ser humano!

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Lápis

Lápis. Um... simples lápis. Amarelo, número dois gravado em preto, Staples, ponta fina e resistente, parecido com aqueles de filmes americanos, faltando apenas à borrachinha rosa no topo que se extinguiu de tanto eu tentar apagar meus erros na vida, de tanto me frustrar não conseguindo.
Amarelinho no seu canto, ele me olhava pedindo para ser usado, escurinho no papel, ele pedia por clemência. Gritos silenciosos de sua boca muda quando eu o apontava para fazê-lo mais fino, mais... Melhor.
Tanto que escreveu esse lápis, meu lápis, tanto que leu, tanto que segurou minhas lágrimas e escutou meu choro. Tanto que... tanto que pediu silêncio. Me desculpe, eu não queria ser tão triste assim, você sabe e, ah, como sabe! Meu lápis amarelinho sabe de tudo.
E agora? Meu lápis amarelinho com número dois e Staples gravado em preto sem borrachinha rosa no topo está acabando. Às vezes penso que sou muito perfeccionista, ou que quero tudo do meu jeito... Afinal, a culpa é minha que eu apontei ele tanto para ficar com aquela ponta, que logo acaba, porque eu sei: ninguém, e nada, é perfeito. E nunca será, por mais que eu mude.
Coitadinho do meu lápis amarelinho sem borrachinha rosa no topo com número dois e Staples gravado em preto.  Ele que abraçou tanto a minha mão, ele que sempre me ajudou. Mas acho que ele está é agradecido por acabar, aposto que ele preferiria ter caído nas mãos de uma criancinha que nas minhas tristes, porque ele sabe que não pode fazer nada para me ajudar, que o seu grafite no papel não é o suficiente.
Realmente, meu lápis amarelinho sem borrachinha rosa no topo e com número dois e Staples gravado em preto, não era o suficiente! Nunca foi e nunca será. Mas, olhe, como você me ajudou, como me ajudou! E obrigado, meu lapisinho, eu o amo. Acabe em paz, eu sentirei sua falta, meu lapisinho sem cor, sem borrachinha no topo, sem grafite, sem madeira, sem nada... Você sumiu assim como apareceu.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O velho homem do mar


Eu estou sempre caminhando pelas ruas e observando, eu observo muito, e não poderia escrever sobre minha vida sem mencionar um personagem muito singular, que compõe esse quadro ainda mais singular que é Paris. Estou falando de um senhor, um homem de idade avançada que está sempre no mesmo horário, no mesmo local, esperando o bonde passar.
Boina na cabeça, um casaco apertado e o jornal da manhã amassado embaixo do braço, assim é o nosso personagem...Fechado dentro de si mesmo, parece viver por uma simples questão de obrigaçao, cumprimenta as pessoas sem nenhum vestígio de boa vontade, escravo da cortesia que é...mas o que faz dele uma pessoa singular não é sua falta de interesese pela vida, é seu ar de sabedoria, de velho homem do mar...sim, um velho marinheiro aposentado, capitão do primeiro navio à vapor que atracou no porto de Marselha, já atravessou oceanos, enfrentou tempestades e tem muita história pra contar, conhece a vida tão bem como eu conheço Paris...
Mas veja só aonde nos leva a imaginação!Talvez ele seja um simples homem amargurado, com muitos sonhos mas nenhuma realização, alguém que teve todas as oprtunidades na vida, não soube aproveitar e agora culpa o mundo por isso, ou um homem cansado, à espera de uma aventura que nunca chega...é um mistério que eu nunca pude revelar, ou nunca quis para não pôr fim ao interesse...
O bonde finalmente chega , ele olha para os lados como uma última esperança de que alguém apareça, sobe e o bonde continua seu caminho. Até logo, capitão, segue sua viagem, se um dia resolver voltar às águas e viajar até as terras do além-mar lembre-se de um pobre garoto que, assim como o senhor, está sempre à espera da aventura seguinte.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Arwen

Era dia de comemoração em Valfenda!
O fim de mais uma lenda.
Via uns chorando,
Outros sorrindo
E eu, ah, dançando.

Não era o único, claro,
Tinha amigos ao meu lado,
Não havia ninguém sentado!
Canções e fábulas de aprendizagem,
De paixões e de palavras de coragem.
E este velho Hobbit surpreendeu-se ao ver que,
Apesar de tantas aventuras ter feito parte,
Ainda não conhecia a verdadeira arte
De ter bravura
Nestes tempos de loucura.

Vi ao longe a elfa.
Ela chora, seus companheiros riem.
“Levanta a face, jovem, afronta!” – eu torci.
Essa foi a primeira vez que algo que pedi
Se realizara.

Intrometido, estendi meu pescoço para escutar;
“Não veem o que estão a fazer-me?
Chega de me fazer chorar!
Pensem antes de falar!
Não percebem que machuca meu espírito?
Tuas falas cruéis de nada são piadas –“

Nunca vi tantas elfas se sentirem culpadas.
Se sentirem como escória.
Coragem assim como a desta bela criatura
Não conheci nem em história!
Via nela agora... A tão procurada Paz.

Andei até lá devagar
Com minha bengalinha,
Com surpresa abracei-lhe,
Limpei-lhe as lágrimas
E disse-lhe:

“Orgulha-te de si mesma,
Fizeras o que nem o mais bravo dos homens
Tem coragem de pensar em fazer.
Levanta-te e orgulha-te,
Brava elfa,
Tua história será contada
Por toda a Terra Média
E serás lembrada para sempre”

“Arwen”,
Ela me disse.
Imagino que seja seu nome...

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O que você (nâo) vê!

Onde você vê lixo:
Alguém vê um banquete!
(odeio berinjela!)

Onde você vê sujeira:
Alguém vê trabalho!
(meu trabalho é tão cansativo!)

Onde você vê confusão:
    Alguém vê revolução!
(Bando de baderneiros!)

Enquanto você não acha nada de bom:
Alguém acha esperança!
(As coisas são assim mesmo, não vão mudar!)

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Menino de rua (texto de apresentação)



Ele caminha pelas ruas, sem rumo, sai do nada em direção ao lugar nenhum. Não tem pai, mãe, nem nada que possa chamar de seu, talvez um cãozinho maltratado - pele e osso, como se diz - e um casaco surrado, que achou jogando em algum beco.
Conhece todos os cantos da cidade, conversa com todo tipo de gente, do lunático da praça da Bastilha à madame da Champs- Elysées. Já foi expulso, muitas vezes, a pontapés, daquela padaria da esquina - " eu só queria um pedaço de pão, amigo!" - mas é bem vindo na taverna onde se encontram os estudantes, aqueles, os que vão derrubar o governo!
Ele sabe das coisas, conhece a vida como um senhor de setenta anos, foi obrigado a conhece-la, jogaram-no nela e lhe disseram : se vira! E é isso o que ele faz todos os dias : sobrevive, ou como ele diz, dá seu jeito.
Mas quem é esse "ele" afinal? "Ele", na verdade sou eu. Eu sou esse garoto que você vê andando sozinho pelas ruas, esse garoto sem nome, família, sem moradia fixa e sem futuro, sou esse garoto a quem todos chamam de moleque. Eu sou o Moleque de Paris.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Sobre dois amigos e uma certa Felicidade

Abri a porta e lá estava ela.
Ela quem?
A Felicidade, ora essa!
Parada a sua porta? Sei.
É verdade, ela estava lá!
E o que achou dela?
Bela, muito bela. E sorria para mim.
Só faltava estar chorando! E convidou-a para entrar?
Não foi preciso, entrou sozinha.Ficamos sentados um olhando para o outro. É engraçado, esperei por tanto tempo essa visita e quando, finalmente, ela chegou, eu não  soube o que fazer.
Você é patético.
Talvez eu seja. Eu podia ter pedido pra ela ficar, morar comigo, sabe? Sei que daria certo, mas ela me intimida...
Ela iria embora de qualquer jeito, sabe como ela é, nunca fica por muito tempo. Relaxa, ela volta.
Ela não saiu pela porta, saiu pela janela. Esquisito, não é?
Previsível, eu diria.
Onde será que ela está agora?
Na porta de outro alguém, pronta pra iludir mais um e ir embora de repente.
Como ela fez com você?
Sim, como ela fez comigo e com todo mundo.Ela pode ser bem cruel às vezes.
Ela só cumpre seu dever.
Você acredita mesmo na Felicidade? Digo, que pode tê-la para sempre?
Mas é claro!
Então ouça meu conselho, velho amigo: na próxima visita feche bem as janelas, para não perde-la mais uma vez!

terça-feira, 29 de novembro de 2011

E eis que chegamos ao fim

Quando terminei minha história, Matthew me olhou como se esperasse algo mais e ,vendo que eu não continuava, apenas se levantou e foi embora. Meu Deus, como ele me era familiar! O jeito de andar, o olhar protetor...passaram-se dias e nada da visita de meu amigo e, então, numa tarde qualquer ele apareceu.


Eu não estava em meu quarto e sim passeando no jardim, nós nos sentamos em um banco de madeira e ficamos assim por um tempo, um olhando para o outro, ambos como se esperassem respostas.


"Por que desapareceu por tanto tempo? Me deixou aflita! Resolveu fazer como Lionel, que me fez esperar tanto tempo sua volta e..." Meu coração quase saltou pela boca . Ah céus agora tudo fazia sentido! Tamanha semelhança não era coincidência! Ele não era um amigo, nem sequer era Matthew, aquele homem misterioso e tão solidário era Lionel, meu querido irmão!


Joguei-me em seus braços e nós dois choramos com tanta força que quase faltou-me o ar. Foram todos esses anos me procurando, para me encontrar ali, jogada num hospício!E eu não fui capaz de reconhecer meu próprio irmão, contei a ele toda minha história e nem ao menos percebi a emoção em seus olhos! Entendi, então, que, de fato, todos eles tinham razão.


Por que eu era a única que recebia as visitas de JJ? Por que somente eu falava e ele apenas sorria? Por que eu tinha rugas, fios brancos e ele continuava jovem e belo? Por uma simples razão: JJ estava morto e eu estava louca.


Minha falta de lucidez nunca me permitiu ver o absurdo que me acontecia: fugi de casa, fechei a porta para o mundo e vivi anos na companhia de uma alucinação!É claro que nada disso era normal...


Isso tudo fui percebendo aos poucos - a cada nova constatação, uma dor - segui meu tratamento e superei minha loucura, meu desespero, meu desequilíbrio e hoje vivo com Lionel e Cathy - que permanecem casados, e com o mesmo amor cúmplice e tranquílo.


E aqui, meus queridos leitores, encerro minha narrativa, minha história sobre uma mulher, cujo único mal foi ter amado mais do que podia.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Apenas mais tinta:

Criatividade para quê?

Sentir para quê?

Escrever é apenas

Botar a mão na caneta

E saber quando finalizar o começo.


Um papel em branco

Nada menos é que outro cheio de palavras

Palavras são fúteis,

São inúteis,

São vãs.


O branco

É meu silêncio.

A tinta,

Minha confusa

Barulheira.


E pena eu tenho

Dos que me leem

Dos que pensam que atrás

Da negra tinta do nobre polvo

Existem sentimentos.


Tolos.

Ingênuos.

Sonhadores alienados.

Escravos da própria imaginação.

Seres avoados, percam as asas.